Tag: Liana Liberato

  • Crítica | Reféns

    Crítica | Reféns

    Pondo em perspectiva a carreira de Joel Schumacher, é triste que o ultimo longa metragem conduzido por ele tenha soado tão genérico como a fita de ação e suspense vista em Reféns. A obra conta a história da família Miller, e tem como protagonistas suas musas Nicole Kidman, com quem fez Batman Eternamente mais de 15 anos antes desse, e Nicolas Cage, que fez com ele 8mm. Os dois são Sarah e Kyle, vivem com sua filha Avery (Liana Liberato), em uma casa grande e abastada, e desde o início se percebe que eles são precavidos, e muito preocupados com a segurança familiar e patrimonial.

    O filme vai transcorrendo normalmente, até uma suposta intervenção policial, originada a partir de malfeitores, que colocam os personagens da família na condição óbvia do título nacional. O filme é bem irregular, no começo se estabelece uma situação de normalidade bem crível, mas essa boa atmosfera se mostra frágil quando acontece a invasão do domicilio. Os fatos posteriores a isso variam entre o totalmente inacreditável que reside na tentativa de negociação entre raptores e vítimas, e a tensão pelo que pode ocorrer com a vida dos personagens que aparecem em tela.

    Um dos problemas da obra e do roteiro de Karl Gajdusek é que os personagens não causam simpatia ao público. As situações que poderiam fazer o espectador se afeiçoar por eles não superam a condição de clichês dramáticos, e isso não é incomum nos filmes de Gajdusek, pois em Oblivion e November Man: Um Espião Nunca Morre também se percebe que ele utiliza atores famosos como atalho para o desenvolvimento de seu texto, acreditando que ao colocar pessoas famosas para fazer os papéis que idealizou, conseguiria agradar a família tradicional americana.

    Até há algum senso de urgência nas tentativas de chantagem entre bandidos e família, além de uma longa e intricada trama cheia de reviravoltas, mas quase nada é crível. A suspensão de descrença do espectador se baseia demais no sensacionalismo barato, e isso ajuda a denegrir demais o filme. Nem as atuações que normalmente Schumacher conduz bem, funcionam aqui.

    É lastimável que esse tenha sido o derradeiro filme do diretor, uma obra de suspense que se baseia na filmografia do cineasta para apresentar uma história fraca, que tem como trunfo tão somente isso, a afeição do realizador pelo sub gênero. Simbolicamente é triste que o final de sua última história independente – Joel haveria também de dirigir dois capítulos de House of Cards na primeira temporada – tenha que se valer de aspectos familiares para justificar essa tentativa de voltar a ser relevante, e é uma pena que após ter feito os seus filmes mais rentáveis ele tenha caído tanto no ostracismo, mesmo que posteriormente a isso ele tenha feito obras tão certeiras como O Custo da Coragem e Por Um Fio, e principalmente, é uma pena que o simbolismo dentro de sua última adaptação cinematográfica seja uma tentativa de se apaziguar com as famílias norte-americanas tradicionais como são os Miller, sendo que boa parte dos detratores que tornaram sua filmografia em algo subestimado, tenham vindo desse o mesmo tradicionalismo retratado ao longo de Reféns.

  • Crítica | Se Eu Ficar

    Crítica | Se Eu Ficar

    Nos últimos anos, leitores jovens encontraram uma trilha direta para a literatura graças à popularidade de obras como Harry Potter e derivados, lançados em anos seguintes, além de outras vertentes recentes de dramas urbanos e juvenis, como a obra de John Green, considerado o mais novo tesouro contemporâneo. O sucesso de Gayle Forman vem parcialmente ligado a estas narrativas e ao sucesso do young adult como gênero. O adolescente, como personagem narrador dialogando com um público primariamente desta faixa etária, tem demonstrado rentabilidade como um novo caminho a ser desvendado por editoras e, mais importante do que o sucesso financeiro, tem produzido novos leitores.

    Quarta obra da autora e primeira lançada no país pela Novo Século, Se Eu Ficar transforma uma tragédia em momento metafísico de reflexão. Mia Hall é uma adolescente tradicional vivendo os mesmos anseios que seus colegas. Sente-se deslocada da sociedade e do seio familiar por considerar-se careta em relação aos pais, vindos de um passado badalado e roqueiro, e está indecisa entre permanecer na cidade devido a um amor ou seguir o sonho de maestra musical com uma bolsa na renomada Julliard. A vida entra em suspensão após um acidente quase fatal com sua família.

    A história transita entre o presente pós acidente com a garota em estado comatoso e lembranças recentes do passado. Mia vive uma experiência extra-corpo e acompanha as reações de familiares, amigos e do ex-namorado, ante a possibilidade de sua morte. O acidente se transforma em ponto metafórico de análise. Um momento figurativo em que a personagem, a partir das recordações e das reações de pessoas ao seu redor, decidirá entre a vida ou a morte. Chloë Grace Moretz faz um bom papel principal e, pela primeira vez em anos, foge de uma personagem excêntrica, como tem marcado sua carreira até então (Hitgirl, em Kick Ass e Kick Ass 2, a vampira de Deixe-me Entrar e Carrie – A Estranha).

    Voltado ao público juvenil, este extravagante recurso espiritual é um extremo para focalizar a lição básica sobre amadurecimento e as primeiras escolhas definitivas na vida de um ser humano. Se considerarmos que o young adult, como qualquer outro gênero de nichos específicos, repete naturalmente recursos narrativos, o elemento espiritual é um breve respiro inédito para a história. A reflexão é positiva e visa intensificar para o público alvo a percepção de uma mudança de comportamento, a transição ainda imatura, mas definitiva, que são a adolescência e o amadurecimento.

    Porém, a obra se aproxima mais de um romance adolescente do que uma história sobre o crescimento natural. Dentro desta percepção, temos personagens comportando-se como adolescentes típicos que tratam conflitos com um senso de tragédia exagerado, ainda incapazes de reconhecer caminhos e alternativas viáveis quando as intempéries da vida surgem no caminho. Este excesso de imaturidade – ou excesso dramático – pode não ser eficiente para o público geral em razão do didatismo exagerado desta história de amor.

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  • Crítica | A Face Do Mal

    Crítica | A Face Do Mal

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    O subgênero de terror sobre casas mal-assombradas é um filão que já trouxe filmes pródigos e clássicos, como Terror em Amityville, sendo bem explorado até os dias atuais, vide o sucesso da saga Sobrenatural. A Face do Mal (Haunt), de Mac Carter, embarca nessa toada utilizando elementos de exploração da paranormalidade e contato com manifestações de “outro mundo”. Já no prólogo é mostrada uma história pregressa do plot principal, em que os clichês de histórias de fantasmas são explicados, primeiro por meio de imagens, depois por um recordatório macabro. Carter faz às vezes de James Wan, procurando reverenciar visualmente William Friedkin e seu O Exorcista, começando bem a carreira de diretor com seu primeiro longa.

    Na introdução, a decisão do roteiro é de mostrar que o lugar explorado é amaldiçoado. Mesmo que o espectador entre na sala de cinema após a introdução, a trilha sonora característica não deixará dúvidas de que há algo de poltergeist. Os Asher, família que comprou a residência, têm consciência do que ocorreu no passado da casa, mostrando que não há desavisados – o que se retifica com a visita da Dra. Janet Morello (Jacki Weaver), antiga dona da propriedade. Seu retorno se dá pela busca do retrato de seu falecido filho, e sua figura, apesar de simpática e amável, é atrelada ao bizarro e ao terror.

    Os olhos do público no filme são de Evan Asher (Harrison Gilbertson, um Dane Dehaan genérico), o fugaz adolescente, primogênito dos Asher, que em uma de suas andanças pela floresta à procura do sentido da vida encontra Sam (a deliciosa Liana Liberato), uma moça com problemas muito mais flagrantes do que os seus. Ela, mais uma vez, lembra a sina que a casa carrega. As condições naturais fazem com que os dois jovens se aproximem, pulando qualquer etapa de empatia ou convivência, colocando-os numa relação precoce que só não chega às vias de fato graças à inoperância do rapaz.

    A palavra em português mais próxima da tradução de Haunt seria covil. No início do filme há uma referência a esse elemento em letras escarlates que dizem: “Haunt – Substantivo; Lugar de alimentação para animais”. A máxima faria ainda mais sentido com o passar do tempo e com os passeios que o fantasma faz pela casa. Como o temor é explícito, quase não há presença de sustos. Os mistérios estão na história dos Morellos e com o que fez seu patriarca enlouquecer. Sam se sente atraída pelo local, como se a aflição de sua alma a levasse a um lugar inseguro, mais pacífico que o seu lar.

    A busca de Samantha por um paraíso a faz cavar fundo demais, pondo ela e seu novo par em perigo. As vias de fantasmas passam a ser de sua possessão também, além da velha busca por sangue daqueles que vivem em mundos paralelos, que por si só não têm mais direito à vida. A busca revela uma trama de infidelidade, assassinato e vingança, que não tem em si nada de reprovável na premissa, mas que é apressada, corrida demais para o que deveria ser melhor desenvolvido.

    O desfecho da história é igualmente efêmero, demasiado encurtado e não dá margem ao público digerir as ideias propostas no texto de Andrew Barrer, o que é uma pena, visto que A Face do Mal tinha grande potencial para ser uma boa fita de terror. Apesar dos pesares, ela está um pouco acima da mediocridade generalizada em se estacionou o gênero fílmico de terror.