Crítica | Borat: Fita de Cinema Seguinte
Depois de Borat: O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América, o criador e interprete do jornalista do Cazaquistão, Sacha Baron Cohen, ficou famoso. Fez filmes de comédias rasgadas intercaladas com papéis mais sérios. Catorze anos depois o personagem retorna, em meio a pandemia de Covid-19, para mais uma estranha aventura: Borat: Fita de Cinema Seguinte.
A historia é narrada novamente pelo personagem central. Dessa vez, o diretor Jason Woliner traz uma abordagem menos engessada que a de Larry Charles, com um estilo de filmagem mais moderna. Na trama, Borat, preso político do Cazaquistão, é novamente convidado pelo governo para uma viagem aos Estados Unidos para trazer nova glória ao combalido país. Para isso, deve entregar um presente especial a Donald Trump.
A parte mais incrível desta retomada é que o roteiro insere as piadas e historias paralelas à trama principal do outro filme, ressignificando o fracasso do personagem central. Obviamente, as piadas refletem o obscurantismo da política mundial atual, inclusive citando com líderes decadentes e degradantes, como Vladimir Putin, Donald Trump e até o brasileiro Jair Bolsonaro.
Além disso, também brinca com a grande utilização da tecnologia como um vício, mostrando uma relação de dependência com ela. Por mais batida que seja a questão, o roteiro produz boas discussões a partir dessa premissa. As piadas mais imaturas seguem ótimas, afiadas de um jeito absurdo, e a utilização de disfarces por Baron Cohen garantem algum anonimato a ele, tal qual era com seu personagem na obra de 2006.
A sequência obteve bastante popularidade graças ao modo como foi veiculada, através do serviço de streaming Amazon Prime, facilitando o acesso mundial, e investindo em um mercado já consolidado no pós pandemia, com direito a um comentário metalinguístico sui generis. Além desse aspecto, um dos destaques narrativos, vai para a relação familiar do protagonista com sua jovem filha de 15 anos, Tutar, interpretada pela atriz búlgara Maria Bakalova, que faz as vezes de auxiliar de filmagem e uma possível prenda para a estranha missão de reconciliação das forças cazaques com os Estados Unidos.
Mesmo que esse seja um filme mais forçado que o anterior, até porque nem todos os disfarces de Cohen escondem sua imagem, ainda há muita graça e crítica social ao american way of life, sendo certeira na maioria delas, além de destacar a hipocrisia americana. Além disso, também acerta quando apela ao besteirol, espantando qualquer chance de uma abordagem séria, escrachando de maneira inteligente o sistema político e social dos Estados Unidos e demais repúblicas conservadoras. Como na primeira produção, o filme ainda contém polêmicas com políticos reais, um humor incômodo devido a sua veracidade.
Borat: Fita de Cinema Seguinte é ainda mais poderoso que o filme de 2006, não só pela audácia em ser produzido no meio da pandemia, como utilizar eventos reais para uma exposição crítica das contradições do mundo moderno.