Crítica | Rota de Fuga
O sonho de consumo de todo fã de filmes de ação era ver os dois maiores brucutus dos anos 80 contracenando juntos – preferencialmente num embate de vida ou morte. Isso ocorreu em doses homeopáticas nos dois episódios da franquia Mercenários. Rota de Fuga viria para suprir a lacuna de um filme inteiro em que Sylvester Stallone (Ray Breslin) e Arnold Schwarzenegger (Emil Rottmayer) interagiriam com tempo de sobra.
A história não tenta reinventar nada, é somente um filme de fuga da prisão, mas com uma pompa que se mostra desnecessária com minutos de exibição. O roteiro de Jason Keller e Miles Chapman não é lotado de clichês, seu excesso é nos devaneios (mal filmados) de Ray Breslin e nas “saídas de situações” confusas. A desorganização geral tira o poder do clímax, joga o que deveria ser importante na vala comum e torna os dramas mostrados em tela em situações vexaminosas.
A história não é de todo o ruim, mas as escolhas do elenco são muito equivocadas, especialmente a da dupla de protagonistas. Este era um filme para atores quarentões e canastras, como Tom Cruise e Ben Affleck por exemplo, e não os geriátricos Sly e Schwarza – acreditar que os dois senhores podem fugir de prisões como querem é demais até para a “suspensão de descrença”. É mais fácil crer que eles são capazes de derrubar republiquetas, atirar com metralhadoras na altura da barriga e matar tudo que vive e respira ao redor… é possível até vê-los salvando o mundo de aliens ou de ameaças humanas, mas colocá-las como engenhosos arquitetos e planejadores geniais não é galhofa, é só mau gosto.
Não chega a ser um dos piores exemplares da filmografia dos dois astros, mas não parece em momento nenhum que os papéis foram feitos para eles. A frustração deste Rota de Fuga é semelhante ao sentimento horrendo de assistir-se As Duas Faces da Lei, que reunia Pacino e DeNiro. O carisma dos atores não garante uma experiência prazerosa, e nem os profissionais com maior talento dramatúrgico podem exercê-lo, dado o podamento que eles sofrem.
Escape Plan falha como action movie, gera uma expectativa que não é para si. A presença de Stallone e Schwarzenegger faz com que cresça um sentimento de avidez por ação, que não é satisfeito em praticamente momento nenhum, e outro grave defeito da obra é que o problema citado é notado muito cedo no filme.
As sequências finais são até bem feitas, o suspense e a perseguição fazem o espectador ficar atento como nunca no filme, mesmo com o péssimo antagonista vivido por Jim Caviezel. A última luta, entre Stallone e Vinnie Jones tem bons momentos, mas termina de forma melancólica, com um desfecho aquém do esperado de uma batalha entre brucutus de diferentes gerações – até lembra visualmente o entrave entre Villain e Barney em Mercenários 2. Já o momento em que Rottmayer toma uma metralhadora em punho e começa a atirar nos capangas poderia ser mais sangrenta, o que não ocorre, mesmo este sendo um filme Rated R, o que é lastimável por si só.