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  • Crítica | Samurai II: Morte no Templo Ichijoji

    Crítica | Samurai II: Morte no Templo Ichijoji

    As aventuras de Takezo continuam em Samurai II: Morte no Templo Ichijoji. Hiroshi Inagaki mais uma vez dirige a história do agora chamado Musashi Miyamoto (Toshirô Mifune).

    A trama se inicia num lugar esmo onde um garoto reconhece o samurai, para pouco tempo depois acompanharmos luta contra três oponentes ferozes, utilizando sua técnica de duas espadas. Sua forma de combate é rápida e letal, e o espalhar de sangue sobre aquele lugar gera um contraste visual e espiritual bastante poético, variando entre o bucólico e natural do lugar com a agressividade e violência do personagem.

    O roteiro não é muito inventivo, e se vale de arquétipos típicos da jornada do herói, com o mentor Takuan (Kurôemon Onoe) instruindo Musashi para que se torne um homem melhor, e não apenas um grande espadachim. Se em O Guerreiro Dominante Takezo passa pouco tempo com seu mestre, aqui se percebe a necessidade de estabelecer essa relação, pois cabe a Takuan desconstruir a selvageria pela qual passa Musashi.

    A lenda de Kojiro Sasaki, oponente de Musashi, ganha força e se forma aos poucos nesse segundo filme, produzindo medo e pânico por onde passa. Paranoicos, aldeões matam qualquer homem que se encaixe na descrição que fazem do guerreiro, por menor que seja essa semelhança. Mesmo que esse aspecto não seja explorada neste capítulo da saga, é valido que seja aludido, pois além de criar expectativa em quem assiste, fortalece a sensação de mitologia do oponente principal de Musashi.

    Novamente o aspecto negativo que mais choca é a tentativa de estabelecer um romance proibido entre Otsu (Kaoru Yachigusa) e Musashi/Takezo. Por mais que seja natural apelar para histórias amorosas no cinema ocidental, nota-se um desequilíbrio entre a questão de apelar para um público mais amplo e a clássica trajetória de sacrifício da vida pessoal em prol de seus sonhos e anseios. Apesar de todo o enfado destes trechos – que novamente ocupam mais de um terço da duração do filme – a negação dos desejos libidinosos e amorosos resultam em um argumento tão único e inteligente que se tornaria clichê, vide a necessidade de celibato de guerreiros da luz como era com os Jedi na trilogia prequel de Star Wars dirigida por George Lucas.

    O segundo filme da saga se encerra com uma luta sensacional em um cenário inesperado e campestre, que envolve água, terra e lama. Musashi se mostra um guerreiro exímio e sua batalha beira o sensacional, além de estabelecer um sem número de simbologias, desde as óbvias que envolve o lodo na alma de quem carrega a guerra como parte do caráter, como o resgate aos mitos de homens que se sobrepõem as adversidades, mesmo em minoria. Samurai II: Morte no Templo Ichijoji consegue aumentar um pouco o escopo épico do primeiro, ainda que não seja melhor construído narrativamente.

  • Crítica | Samurai I: O Guerreiro Dominante

    Crítica | Samurai I: O Guerreiro Dominante

    Samurai: O Guerreiro Dominante é um longa-metragem de 1954, dirigido por Hiroshi Inagaki que conta a historia de Miyamoto Musashi, um lendário guerreiro do Japão antigo. A história começa com um comboio imperial, atravessando a simples aldeia de Miyamoto, onde a nobreza e a simplicidade se misturam, com o rico desfile literalmente contrastando com a miséria do humilde povo que habita aquele lugar. O Japão na época estava em guerra e isso resultava diretamente na condição miserável na maioria do povo, onde os guerreiros com melhores condições lutavam com lâminas afiadas e pólvora contra seus inimigos, e os pobres mal tinham como se defender.

    O filme é baseado no livro de Eiji Yoshikawa (na verdade toda a trilogia se baseia nessas histórias). Nesse contexto, há Takezo, um órfão que tem a sorte de, junto a seu amigo Matahachi,  sobreviver a um ataque inescrupuloso dos inimigos. Sua fortuna é tanta que eles quase são pegos por esses malfeitores, personagens que não tem qualquer clemência, fato que demonstra o quão selvagem era essa época.

    Toshirō Mifune é o interprete de Takezo, enquanto Rentaro Mikuni faz o seu amigo. A dupla segue atrás de comida e de um lugar para ficar em paz, longe do belicismo do início da história. Os dois passam seus dias numa aldeia vizinha, tentando viver apesar de seu passado triste, e cada um deles tenta seguir seu rumo, mirando uma vida comum.

    A forma como a câmera de Inagaki retrata a vida no Japão é passiva. Os “mocinhos” da história sofrem demais, enquanto os vilões demonstram um maniqueísmo atroz. Isso é natural, pois a história de Musashi é um conto antigo, transmitido de forma oral até ser registrado em romance e, como tal, é comum que uma história heroica seja presa a uma fórmula estabelecida.

    A mocinha em perigo, Otsu (Kaoru Yachigusa), as múltiplas traições que Takezo sofre, tudo coopera para o bem do personagem. Mesmo quando está sem saída, ele consegue se reinventar, como se estivesse subindo por uma corda através de um poço muito fundo.

    Esse certamente é o mais sentimental e melhor arranjado dos filmes da saga, ao menos na carga dramática. Ainda assim, há uma quantidade de eventos bastante decepcionantes, por não terem tanto tempo de tela em comparação com a obsessão no relacionamento entre Takezo e Otsu.  O treinamento com Takuan Osho (Kurôemon Onoe) é incrivelmente rápido, assim como a Batalha de Sekigahara, uma das mais lendárias do Japão,  mostrada muito rapidamente. O final de Samurai: O Guerreiro Dominante fica em aberto, referenciando a jornada de Takezo, rumo a se tornar Musashi. Como um capítulo inicial de uma série, o filme introduz seus personagens, dá ideia da grandeza de alguns, e só é apreciado por completo se acrescido de suas duas continuações.