Crítica | A Enviada do Mal
Um suspense que passou despercebido pelo grande público e teve problemas na distribuição, The Blackcoat’s Daughter (ou February, difícil encontrar o título definitivo) acabou parando no catálogo da Netflix e se mostra uma grata e estilosa surpresa para o gênero. A estreia do diretor Oz Perkins é carregada de originalidade e uma confiança refletida em tela, seja tecnicamente ou na imprevisível narrativa.
O filme tem três protagonistas, acompanhamos Kat (Kiernan Shipka) e Rose (Lucy Boynton) enquanto elas esperam seus pais irem buscá-las no colégio para as férias de inverno, e a jovem Joan (Emma Roberts) pegando carona com um casal na estrada focada em objetivos misteriosos. As histórias das três personagens se enroscam entre si enquanto uma figura demoníaca passa a influenciar uma delas.
Mesmo que o longa se divida em três “capítulos” nomeados com os nomes das personagens, a interpretação de Shipka na pele de Kat chama a atenção em todos eles, ela tem o artifício mais proveitoso para este tipo de trabalho, a fisicalidade. Até nos momentos mais mínimos a presença dela é marcante, seja na movimentação de seus olhos, ou como posiciona sua cabeça em relação a outra personagem, até o seu tom de voz carrega nuances, ela injeta força quando deve parecer fraca e acaba se tornando um dos maiores atrativos de todo o filme. As outras duas companheiras de elenco não ficam muito atrás, Boynton transparece consciência das convenções que seu papel poderia trazer e trabalha bem dentro dessas limitações, já Roberts continua com os maneirismos típicos de suas interpretações, mas ainda assim se encaixa bem com eles dentro desse espectro misterioso da sua personagem, diria até que caiu bem como uma luva.
Além do bom trabalho com teu elenco, o cineasta também demonstra um bom domínio de composição, são incontáveis os planos perfeitamente compostos, a maioria deles com um presente jogo de luz e sombra. Uma luz confortável e inocente está presente quase sempre e dela nasce a atmosfera de horror criada por Osgood, essa que bebe de belas fontes, seja de O Exorcista ou de Suspiria. É também clara a intenção do diretor em ir a passos curtos na história e parece bem positiva, mas a rapidez súbita que a narrativa ganha perto do fim do segundo ato contrasta com o resto e certamente não foi uma boa escolha, pois acaba banalizando os pontos de virada de duas protagonistas.
Transbordando estilo e segurando bem as rédeas de um horror contido, Perkins estreia como promessa para o gênero que anda tão bem tratado nos últimos anos e traz no elenco nomes bastante promissores e que já começam a dar as caras em novas produções. The Blackcoat’s Daughter tem um bom mistério e nos faz reimaginar as melhores histórias sobre o demônio e suas escolhas.
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Texto de autoria de Felipe Freitas.