Crítica | Os Invencíveis
Kim Jee-woon é um realizador que sabe como passear em diversos gêneros, podendo trabalhar em cada um especificamente. Os Invencíveis, filme sul-coreano de 2008, é um dos casos em que o diretor exemplifica. Um filme de ação inspirado no faroeste spaghetti da década de 60, começando pelo título original Joheunnom Nabbeunnom Isanghannom, que seria traduzido como “O Bom, o Mau e o Estranho”, que remete ao clássico de 1966 de Sérgio Leone, Três Homens em Conflito.
Os Invencíveis se passa na década de 40, durante a invasão japonesa à antiga região da Manchúria, localizada no nordeste da China. O exército japonês e vários grupos do submundo estão à procura de um mapa misterioso e vários mercenários são enviados para sequestrar um trem por esse motivo, um deles é Park Chang-yi, o Mau, interpretado por Lee Byung-hun, maior colaborador de Jee-woon em sua filmografia. Vulgarmente conhecido por Cortadores de Dedos, Chang-yi lidera o ataque dos mercenários, enquanto em seu encalço está o caçador de recompensa Park Do-won (Jung Woo-sung), o Bom, contratado para interceptar o ataque e capturar o Cortador de Dedos. Em meio a um grande tumulto, em uma sequência de ação no trem, o mapa acaba com o Estranho, Yoon Tae-goo (Song Kang-ho), um enigmático e atrapalhado ladrão.
A história começa a ter um crescimento progressivo, com que os acontecimentos se tornem grandiosos e que as coisas fujam do controle dos personagens, o que torna tudo mais interessante. Tae-goo proporciona momentos toscamente cômicos, com Kang-ho se sobressaindo em cena, principalmente na sua tentativa de interação com o sério Do-won, numa embaraçada colaboração da dupla, com o Bom em busca da recompensa de Chang-yi, em que o Mau tem uma obsessão esquisita no Estranho.
A trama, por mais simples, induz o espectador a querer saber o segredo final e quem ficará com o mapa, ficando nítida a progressão na história. Os personagens mesmo como caricaturas, dão o tom específico para cada cena, tornando algo bastante característico do cinema sul-coreano, entre flutuar entre gêneros, dando uma cara bastante específica ao faroeste, trazendo ao contexto histórico e geográfico do leste asiático. Song é totalmente cômico, Jung se mostra sempre bastante sério para passar um ar de justiça, já Lee adota a pose de vilão de faroeste, o olhar, os trejeitos, a compulsão. Essa caricatura dá mais urgência e grandiosidade, sendo exemplificado com os líderes do exército japonês falando sobre o que o mapa leva e o que pode proporcionar. A escala crescente que o filme ganha demonstra como Jee-woon fez um ótimo trabalho na direção, utilizando com excelência os espaços nas cenas de ação, tanto nos lugares fechados, como em campo aberto. As cenas de tiroteio e as várias perseguições são bastante cômicas de tão absurdas, ao mesmo tempo empolgantes. O trabalho da fotografia de Lee Mo-gae, caracteriza bastante a paisagem durante o decorrer do filme, com os cenários desérticos da região da Manchúria.
Os Invencíveis, ao longo das suas 2h19min, demonstra como o trabalho do diretor soa bastante autoral, das suas aspirações e de como ele consegue trazer um gênero para o cinema coreano, que é referência na sua filmografia, sem perder a sua autenticidade. O final reflete bem esses pontos, a história, após um seguimento de reviravoltas, resulta num grande momento e levando a mais uma reviravolta com os três protagonistas, essa em especial, onde o cineasta encerra com uma nítida homenagem ao faroeste spaghetti.
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Texto de autoria de Wedson Correia.