Resenha | 300
A Graphic Novel 300 foi lançada em 1998. Com roteiro e desenhos de Frank Miller – Cavaleiros das Trevas e Ronin – a revista dividida em quatro capítulos, retrata a batalha das Termópilas entre o diminuto exército espartano e o portentoso esquete persa. O objetivo dos guerreiros era impedir a invasão do império inimigo ao território grego.
A arte e o traço de Miller são qualquer coisa, autoral e rabiscada, certamente a história não teria a mesma aura se não fosse desenhada por ele. Os espartanos são retratados de piruzinhos de fora, quando não de fio dental, e muitos personagens têm cabelos rastafári – o estilismo é impresso desde já. O autor tomou a liberdade de empregar ao Rei Leônidas um passado fantástico e legendário, que obviamente colabora muito com umas das mensagens principais da revista: Espartanos não se rendem, a simples menção a palavra causa estragos enormes, até mesmo homicídios.
“Jamais ouve um homem santo a quem faltasse amor pelo ouro!” – Esta é uma demonstração de como o Rei enxergava os religiosos, a seu ver são seres desprezíveis – o que faz o leitor perguntar se essas convicções são somente dos personagens ou do autor também. Miller capta o espírito belicoso do povo, a guerra corre no sangue dos cidadãos de Esparta. A apologia ao corpo, esforço físico máximo, rejeição de qualquer tipo de deformidade também são pregados – a morte é um bom destino para um espartano!
Quanto aos opositores, há muito a se observar. Os soldados persas têm um estilo próprio de lutar e de se paramentar – suas armaduras, mais lembram ninjas do que guerreiros pré-medievais, o que mostra uma preocupação maior do autor em atualizar o conceito do que permanecer fiel aos fatos históricos. Os imortais demonstram falta de clemência e barbarismo, o que em partes justifica a crueldade dos gregos. Xerxes é um rei arrogante e ostentador – se julga um deus, mas não é a figura afetada do filme de Snyder – na verdade o conteúdo homoerótico fica por conta dos helenos, sempre se agasalhando gostoso!
O deformado Ephialtes se sente injustiçado por ter sido rejeitado e por não ter morrido ao se tacar do penhasco – ele considera isso uma afronta e declara guerra aos deuses por simplesmente existir. Ao se entregar ao rei inimigo, ele ouve – “Ao contrário de Leônidas, que pede para você ficar de pé, eu só exijo que você se ajoelhe!” Sua traição a Esparta, aos seus pais e a toda a Grécia é motivada por uma vida inteira de privações e sonhos frustrados. Seu alento era justificar o erro de seu pai em ter abandonado sua cidade somente para preservar sua vida, sem esta possibilidade, é natural que toda a sua frustração se volte contra quem o “impediu” de cumpri-la. Seus motivos são plausíveis e muito mais críveis do que nas outras encarnações do personagem.
300 de Esparta mostra de uma forma autoral uma história mitológica, sem muito compromisso com fidelidade ou fidedignidade, e exprime uma mensagem de resistência, anti-derrotista mesmo diante do impossível ou do fracasso iminente. É belicista, sanguinária, faz apologia a violência, e grifa a coragem e bravura como bens acima do bem estar próprio.