Crítica | Madrugada dos Mortos
A estreia de Zack Snyder foi em uma refilmagem e dificilmente seria melhor. Seu Dawn of the Dead é diferente de tudo o que Romero propôs como apocalipse zumbi e ainda assim é muito competente. O ritmo dos ataques é frenético, a transformação é praticamente instantânea e o departamento de arte não poupa galões de sangue falso.
O imediatismo não é só devido ao fato dos mortos-vivos serem velozes, as criaturas são quase sobre-humanas, a sobrevivência é muito mais difícil e as condições de vida escassas. Não há tempo para ajudar pessoas ou resgatar entes queridos, é cada um por si. Madrugada dos Mortos é um fôlego novo no gênero, e muito superior aos seus primos pobres – Resident Evil e afins.
O remake é certamente a obra mais acertada de Snyder. Sua forma de filmar causa arrepios, isola os personagens através da angulação da câmera e passa a atmosfera de desespero sem precisar ser didático. A música que acompanha os créditos iniciais – The Mans Come Around de Johnny Cash, serve como ótimo resumo dos fatos ocorridos após a infecção. A discussão proposta pelo roteiro é igual a mensagem de George Romero, mas é atualizada para uma nova geração, que cresceu vendo os vídeo-clipes da MTV, e o realizador é muito competente, pois engloba o espectador mais novo ao mesmo tempo que não esquece o velho fã de mortos andantes.
O elenco está bastante à vontade. Ving Rhames faz um policial sem muita paciência para o moralismo comum ao outros sobreviventes, mas que no fundo se importa com o grupo. Sarah Polley faz uma protagonista que evolui muito com o decorrer da trama, de uma frágil e condescendente enfermeira até uma líder nata. Mesmo os clichês são bem utilizados, e não denigrem a obra.
O filme é repleto de momentos grotescos. A cena do parto e toda a atmosfera que a envolve é sinistra, amedrontadora e asquerosa. É tenso e muito divertido. Snyder gravou um curta metragem – que está nos extras do DVD da versão nacional – mostrando o cotidiano de Andy (Bruce Bohne), que grava em vídeo desde o início do apocalipse zumbi até a sua transformação. Isso acrescenta muito a trama, e tornou-se prática comum nos filmes do diretor – vide o mockumentary Sob o Capuz de Watchmen.
O plano de fuga arquitetado pelo heróis é estúpido, e nos 20 minutos finais todos viram exímios atiradores. Há um julgamento moral muito forte, até puritano em alguns pontos, os personagens que caem são os que antes eram mostrados com alguma “parafilia” latente – seja homossexualidade, poligamia ou o registro visual de relações sexuais – mas o recurso é comum a filmes de Terror, e não causa tanto descontentamento quanto à redenção de um dos anti-heróis.
As cenas pós-créditos são ótimas, e dão um aperitivo de como seria a vida dos sobreviventes após a chegada na ilha. Quando o inferno estiver lotado, não haverá escapatória para os que ainda permanecem vivos.
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