Crítica | Amanda
Uma das surpresas recentes nos circuitos de festivais é o longa francês Amanda, de Mikhael Hers, uma história de ternura, saudade e ausência. A trama começa mostrando mãe e filha dançando, sendo elas Sandrine Sorel (Ophelia Kobel) e a pequena Amanda (Isaure Multrier). As duas vivem alegremente, de maneira espontânea e protagonizam momentos realmente engraçados ao lado do irmão/tio David (Vincent Lacoste), que por sua vez, tem interesse romântico na vizinha, Lena (Stacy Martin). A maior parte das relações e situações do filme passam por estes personagens.
Sandrine e David são tão próximos que em alguns momentos é fácil confundir os dois com um casal, não que exista qualquer erotização, mas a intimidade entre eles é grande, tanto que Amanda enxerga o tio como uma figura paterna. Tudo muda quando uma tragédia envolvendo um ataque acontece e muitas pessoas perecem, entre elas, Sandrine, e a falta de detalhes sobre os motivos que motivaram o acontecimento dá uma sensação de impessoalidade, que faz o desaparecimento dessas pessoas se assemelhar ao arrebatamento bíblico. Mesmo sem detalhes, a dor de todos é excruciante.
O rapaz que antes não conseguia tomar nenhuma decisão séria por menor que fosse, se vê obrigado a lidar com sua parente de apenas sete anos, e sem estrutura emocional ou financeira ele apela para a avó da criança, que eventualmente cuida dela, mas a maior parte do tempo, Amanda fica com ele, e esse tempo que eles passam juntos se resume a sensação de uma melancolia que teima em aparecer apesar de todos os personagens fingirem que ela não existe.
Como novo pai ele tem que lidar com o terror noturno de Amanda, que acorda com receio de que outro agouro tire mais de seus entes queridos. A via crucis pelo qual passa a menina e David é algo muito poderoso, só não sendo mais pesado que as ações dos fantasmas que insistem em intensificar a dor da ausência causada por aqueles que não podem mais responder por si. Amanda é um filme amoroso sobre o sofrer e uma ode aos que se foram.
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