Tag: Vincent Lacoste

  • Crítica | Primeiro Ano

    Crítica | Primeiro Ano

    Thomas Lilti, mesmo diretor de Hipócrates, traz à luz uma nova comédia temática, dessa vez utilizando a vida acadêmica da universidade francesa como cenário. Primeiro Ano mostra dois jovens aspirantes a médicos, primeiro o “veterano” Antoine Verdier (Vincent Lacoste), que já tentou prova para Medicina outros dois anos e foi reprovado, e o novato Benjamin Sitbon (William Lebghil), um calouro desatento e filho de um médico famoso.

    O roteiro simples explora as opções e perspectivas dos estudantes ao escolherem seus cursos, de uma maneira um pouco diferente de como funciona o vestibular no Brasil, no entanto, a obsessão de Antoine é uma só: ingressar no curso de medicina. É curioso como essa área é novamente explorada por Lilti, embora não se dê tanta importância dramática para isso, uma vez que poderia ser qualquer outra área muito disputada o alvo do protagonista.

    O filme é leve, apesar de tratar de uma situação difícil: a pressão que jovens estudantes colocam em seus próprios ombros. Em alguns momentos o roteiro reflete sobre isso, ainda que não seja esse seu principal objetivo. Mesmo a aproximação dos dois personagens centrais se dá de modo gradativo e natural. O paralelo que se faz com a primeira chance de um e a última do outro soa interessante, mas é explorada apenas sob o ponto de vista cômico, quando muito mostra-se algumas crises desses mesmos estudantes, reagindo mal a toda pressão que envolve o universo deles. Ainda que raso, o filme fala sobre questões pontuais como vaidade e competição, e o diretor consegue passar a ideia de gravidade através das atuações de seu elenco, principalmente via Lacoste, que está mais uma vez muito bem.

    Primeiro Ano mostra bem como pode funcionar a obsessão dos que se dedicam a estudar, inclusive referenciando questões pontuais como a dicotomia entre ser obcecado por resultados ao invés de ser apaixonado pelo que se estuda. Ainda que conte com um desfecho piegas, o filme ainda é um bocado divertido e tocante em muitos pontos.

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  • Crítica | Amanda

    Crítica | Amanda

    Uma das surpresas recentes nos circuitos de festivais é o longa francês Amanda, de Mikhael Hers, uma história de ternura, saudade e ausência. A trama começa mostrando mãe e filha dançando, sendo elas Sandrine Sorel (Ophelia Kobel) e a pequena Amanda (Isaure Multrier). As duas vivem alegremente, de maneira espontânea e protagonizam momentos realmente engraçados ao lado do irmão/tio David (Vincent Lacoste), que por sua vez, tem interesse romântico na vizinha, Lena (Stacy Martin). A maior parte das relações e situações do filme passam por estes personagens.

    Sandrine e David são tão próximos que em alguns momentos é fácil confundir os dois com um casal, não que exista qualquer erotização, mas a intimidade entre eles é grande, tanto que Amanda enxerga o tio como uma figura paterna. Tudo muda quando uma tragédia envolvendo um ataque acontece e muitas pessoas perecem, entre elas, Sandrine, e a falta de detalhes sobre os motivos que motivaram o acontecimento dá uma sensação de impessoalidade, que faz o desaparecimento dessas pessoas se assemelhar ao arrebatamento bíblico. Mesmo sem detalhes, a dor de todos é excruciante.

    O rapaz que antes não conseguia tomar nenhuma decisão séria por menor que fosse, se vê obrigado a lidar com sua parente de apenas sete anos, e sem estrutura emocional ou financeira ele apela para a avó da criança, que eventualmente cuida dela, mas a maior parte do tempo, Amanda fica com ele, e esse tempo que eles passam juntos se resume a sensação de uma melancolia que teima em aparecer apesar de todos os personagens fingirem que ela não existe.

    Como novo pai ele tem que lidar com o terror noturno de Amanda, que acorda com receio de que outro agouro tire mais de seus entes queridos. A via crucis pelo qual passa a menina e David é algo muito poderoso, só não sendo mais pesado que as ações dos fantasmas que insistem em intensificar a dor da ausência causada por aqueles que não podem mais responder por si. Amanda é um filme amoroso sobre o sofrer e uma ode aos que se foram.

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  • Crítica | Lolo: O Filho da Minha Namorada

    Crítica | Lolo: O Filho da Minha Namorada

    Julie Delpy, queridinha francesa de todo ser-humano que teve o prazer de assistir a trilogia Before, assume mais uma vez a direção de uma comédia romântica, dessa vez com Lolo: O Filho da Minha Namorada (Lolo), também escrito por ela e que soa até um pouco autobiográfico nos primeiros minutos, mas depois disso, a coisa desanda…

    Julie também protagoniza o filme, ela é Violette, uma produtora de eventos de moda que está solteira há muitos anos e decide passar férias com as amigas no sul da França, onde encontra Jean (Dany Boon), uma espécie de “caipira” que trabalha com computadores. Quando os dois começam um romance em Paris, o filho de Violette que dá nome ao filme e é interpretador por um Vincent Lacoste bem blasé, passa a infernizar a vida do novo namorado da mãe.

    Lolo: O Filho da Minha Namorada é praticamente o que seu plot faz parecer, um filme sessão da tarde, mas com alguns temas um pouco mais novela das 19h. A personagem de Vincent é um garoto mimado e que faz tudo o que um vilão das 19h faria, até certo ponto isso funciona, mas logo fica excessivo, repetitivo e se torna o principal obstáculo para a narrativa se desenvolver, pois se o começo do primeiro ato entrega uma comédia rápida e afiada, levantando as expectativas quanto ao tom e ritmo do filme, as façanhas de Lolo faz a produção frear um pouco a cada sequência.

    E não é só a narrativa que perde um pouco do fôlego, as personagens também, e a mais prejudicada é a própria Julie que durante as cenas com suas amigas parecia confortável e engraçada, acaba ficando apagada e só serve para reagir a cada trama que acontece entre seu filho e seu namorado. O texto dela é bom em alguns diálogos, mas logo tudo fica monótono e as risadas vão ficando menos frequentes, dando espaço para um tom dramático que paira sobre o fim do filme.

    E esse é o maior problema do longa, quando o espectador e as próprias personagens tomam consciência do quanto os acontecimentos da última hora de filme não são tão cômicas assim, o roteiro descarta consequências críveis e as resoluções soam rasas e irresponsáveis, e quando digo irresponsável, é diretamente voltado a como o longa trata de maneira simplória a condição de Lolo, ou seja, o drama ganha espaço, mas de forma equivocada.

    A produção escrita, dirigida e estrelada por Delpy tem um certo charme, tem momentos engraçados e que encaixam bem numa tarde de domingo no sofá, tem críticas sutis e bem colocadas sobre o ego que sobrevoa os artistas da cena francesa,  mas peca ao estender demais seus acontecimentos episódicos e ao não saber lidar com o “menos é mais”, além de acabar indo para um caminho sem volta perto da sua conclusão, fazendo com que, infelizmente, o gosto final seja amargo.

    Texto de autoria de Felipe Freitas.

  • Crítica | Hipócrates (2014)

    Crítica | Hipócrates (2014)

    Hipócrates 1

    Utilizando o nome do filósofo grego, conhecido como pai da medicina, o filme de Tomas Lilti tem um formato diferenciado: Hipócrates mostra uma visão peculiar sobre o trabalho e serviço médico. A história é focada em Benjamin Barois (Vincent Lacoste), um jovem estudante francês que acredita ter um potencial tremendo dentro do ofício. Os quase 120 minutos de duração servem para, aos poucos, desconstruir a idílica ideia sonhadora que o rapaz tem em relação a sua vocação.

    Sobre a cabeça de Benjamin recai uma responsabilidade diferente, já que seu pai é dono do hospital em que começa a trabalhar. Apesar de alguns comentários ácidos de seus colegas, não há qualquer favorecimento a ele, graças ao parentesco com o patrão. A realidade explicitada no cotidiano clínico é bem diferente das versões midiáticas de Plantão Médico e House M.D., fazendo referências diretas a este último em uma cena metalinguística na qual um enfermeiro assiste ao seriado e assume que o programa é bem mais interessante do que sua rotina.

    O desenrolar da história prima pela monotonia do dia a dia, com poucos momentos de descontração entre pessoas comuns e tediosas, que conseguem em alguns momentos alegrar o ambiente através de piadas fracas e interações repletas de gracinhas típicas dos momentos de sociabilidade movidos a vinho.

    O roteiro de Pierre Chosson, Baya Kasmi,Julien Lilti e Thomas Lilti consegue fazer menções importantes, sem necessariamente tornar o tema panfletário. Em meio ao dia comum, há greves por parte de funcionários que trabalham na clínica, demonstrações de pacientes sofrendo com cicatrizes terríveis e, claro, mostras do quão inconsequente pode ser um profissional da saúde, sem tratar essas pessoas como vilões maniqueístas que só possuem defeitos de caráter.

    Os 20 minutos finais fazem bifurcar o protagonismo, mostrando um desfecho dramático interessante para Benjamin, além de finalmente dar uma amostra mais certeira e visceral das condições difíceis a que os funcionários são submetidos, os quais precisam lidar com cortes extremos no orçamento básico do hospital, o que afeta a quantidade de recursos de trabalho, bem como comprova o descontentamento dos trabalhadores em receber menos do que o combinado anteriormente.

    É curioso o modo como o filme se encerra: com a musica Tell Me Something I Dont Know, de Herman Dune, que tem uma melodia alegre e uma letra que desconstrói o herói clássico, assim como a obra desfaz mitos sobre o proceder médico. Doses de melancolia e obsolescência mostram que a força das circunstâncias também atrapalha o ofício normalmente idolatrado daqueles que fizeram o juramento de Hipócrates.