Crítica | O Homem Bicentenário
Em 1999 chegava aos cinemas a obra de Chris Columbus, sobre um serviçal robótico que viria a se chamar Andrew. Seu interprete, Robin Williams, gozava de uma popularidade enorme, e O Homem Bicentenário tinha tudo para ser uma obra repleta de ternura e carinho, além é claro de uma abordagem super positiva, com astral alto, mas não resulta nisso para além de sua premissa.
As primeiras cenas dão conta de uma linha de montagem dos robótica North Am modelos familiares. Não demoram a aparecer a família Martin, um grupo que seria servido pelo mordomo eletrônico. Ele se apresenta usando pronomes ligados a objetos, em português, chama Um ou Isto. A jornada dele segue entre momentos sem sentido, envolvendo ou atos mimados ou bullying das filhas desse grupo familiar, ou aprendendo o ofício de marcenaria.
O roteiro de Nicholas Hazan tenta variar entre o lúdico, com o androide usufruindo de música, ou aprendendo hobbys, e se afeiçoando ela filha mais nova. Com o passar do tempo, os humanos vão envelhecendo, e o elenco vai utilizando maquiagem mais forte, e mesmo para a época, a maioria soa bastante falsa. Os Martin ao discutir seu futuro mostram ser pessoas bem diversas, com a mãe sendo totalmente intolerante com a condição robótica de Martin, uma das filhas sendo o estereotipo de rebeldia dos anos 70 – fato que obviamente faz sentido algum, pois a historia começa no ano 2067 – o modo com a historia se desenrola é cheia de clichês e maniqueísmo, quase personagem humano parece tridimensional, todos são ou bonzinhos demais ou malévolos, não há tons de cinza, é como se tudo fosse visto pelo Um de maneira binária e tola.
Os tabus que o personagem principal vai quebrando são feitos de maneira muito abrupta, não há preparação do terreno, ou algo que o valha. O desejo de liberdade, a emancipação, o modo como ele passa a ganhar dinheiro, as piadas que faz com crianças, tudo é desenvolvido de um modo muito mecânico, fugindo é claro de possíveis trocadilhos, e isso piora demais com a música incidental, que faz a obra parecer uma fita antiga que mira a auto ajuda.
Demora aproximadamente 70 minutos para Robin Williams aparecer sem maquiagem “mecânica”, e partir desse experimento, que visava torna-lo visualmente semelhante aos humanos comuns, ele passaria a ser mais irônico e sentimental, como se ganhasse poderes novos graças a pele sintética, fato que também não faz sentido. Toda a graça envolvendo Portia e sua avó Amanda (interpretadas ambas por Embeth Davidtz) é mostrada de uma forma tão galhofa que a parte mais seria não é sentida direito.
O filme trata de temas complexos demais, e os aborda de maneira rasa, Columbus não parece ser o diretor correto para temáticas como engenharia genética e robótica e o desejo de libertação mental e física dos autômatos. As partes mais graves são suavizadas, as discussões existenciais são trocadas por amenidades banais, como se a existência humana fosse só suor, odores expelidos, ereções e flatulências, essas coisas são parte da experiência de ser homem e mulher, mas não são nem longe da realidade vivida pelos criadores dos robôs, e mesmo as Leis da Robótica são lembradas no inicio e mais uma ou duas vezes durante as mais de duas horas de exibição, mas também não há peso ou otimismo que salve O Homem Bicentenário.
https://www.youtube.com/watch?v=DdGP60xtJu4
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