Crítica | O Imperador
Ambientada na época das Cruzadas (supostamente, ao menos) O Imperador conta a historieta de um guerreiro valente, de nome Jacob (Hayden Cristensen), que com seu cabelo moicano tenta salvar uma das crianças da aldeia, local que seu próprio grupo de soldados invadiu. Em meio ao saque, o personagem, que guarda o primeiro nome do neto de Abraão – em uma referência bíblica que salta aos olhos -, recebe os conselhos de um guerreiro mais experiente, Glenn, vivido por um Nicolas Cage com uma peruca assustadora, que discute aquela matança desenfreada, destacando qual seria o papel do deus na batalha entre humanos.
O sangue que cobre a cabeça de Jacob faz todo o discurso edificante de Glenn ser razoável, uma vez que a culpa também paira sobre a cabeça do jovem vassalo. Porém, mesmo assim, continua procedendo como um general acéfalo, sedento por sangue, como se fosse a única fonte de sustento para o seu corpo e alma.
O frágil roteiro logo viaja para outro continente, exibindo um império asiático cujos desígnios reais são interrompidos por uma alta traição familiar, em que o vilão Shing (Andy On) assassina seu próprio pai para impedir que o caçula Qiang (Lizin Zhao) seja empossado rei. A trama, vista em tantas outras produções, torna-se ainda mais banal quando, por uma coincidência do destino, Jacob acaba pairando sobre aquele lugar, entorpecido pelo ópio, mas ainda com senso de justiça. Após uma luta onde todo um show-off é apresentado, ele é convocado pelos sobreviventes para acompanhá-los. Prontamente, o guerreiro recusa, para fazer às vezes de Cavaleiro Solitário, unicamente para sofrer uma recaída e lembrar-se de seus deveres morais, ainda que sua motivação nada tenha a ver com os que protege.
É curioso o modo como Nick Powell filma e conduz sua história, fazendo um uso indiscriminado da steadicam na tentativa de sofisticar seu próprio trabalho. Na maioria das cenas, o recurso exagerado pouco faz para diferenciar-se de tantos outros diretores genéricos de ação, ainda que sua perícia não seja de toda reprovável. Faltam conteúdo e relevância aos atos mostrados em tela, sobretudo a ausência de bons intérpretes, fazendo com que qualquer esforço para o Imperador não parecer uma piada seja absolutamente em vão.
A interação entre o guerreiro caucasiano, que força a voz sempre que conversa com seus convivas, faz lembrá-lo da relação de mentor e mestre que teve com Glenn, ainda que nada do que seja mostrado em tela justifique qualquer edificação de espírito e autoglorificação enquanto figura inspiradora. Aos olhos do espectador comum, Jacob é apenas um guerreiro culpado, que se exibe como um exímio combatente, mas que ainda tem autoestima baixa, tendo no torpor da droga seu único refúgio. Nem bem é construída a figura de herói clássico, assim como o antiheroísmo é totalmente discutível pelos olhos de Lian (Yifei Liu) e do público.
O combalido roteiro segue descendo o nível ao inserir aparições dos personagens sem qualquer justificativa. Glenn volta ao convívio de seu discípulo para indagá-lo sobre o sangue derramado no primeiro ato para então saber o motivo terrível que fez com que ele deserdasse. Após o retorno, logo começa mais uma batalha sem sentido, em que o exército inimigo faz uma emboscada aos heróis, para, enfim, ocorrer uma batalha final carregada de pieguismo.
Apesar de ter uma reconstituição eficaz nos figurinos e cenários, O Imperador peca demasiadamente em termos de roteiro, o que faz duvidar se havia algo redigido anteriormente às gravações. A miscelânea de mortes desnecessárias produz uma mensagem tosca, destacando honra e patriotismo injustificáveis ante toda a breguice e anacronismo do texto final, em que sequer as cenas de ação fazem valer o esforço em ver a fita até o final.