Crítica | This Magic Moment
Parte da iniciativa da ESPN em documentário 30 for 30, This Magic Moment é um documentário que relembra quatro temporadas dos anos 90 do time do Orlando Magics. O longa de 101 minutos dirigido por Gentry Kirby e Erin Leyden começa engraçado, com uma conversa entre os ex-astros do time, Shaquille O’Neal e Anfenee ‘Penny’ Hardaway, numa casa luxuosa, com piscina, onde o segundo arrisca uma bola dentro da piscina, em uma bóia com uma cesta. O objetivo do filme é um só, contar sua historia de modo engraçado, e na maioria dos momentos, consegue.
Não demora e o documentário começa a explicar como a NBA chegou a Orlando, citando Pat Williams, que havia trabalhado no Philadelphia 76yers, e que desejava tornar Orlando um pólo de outro esporte que não o golfe. Seus esforços foram recompensados, e o lugar passou aos poucos a ser encarado como pólo não só turístico, mas também de esportes, utilizando claro o segundo nome Magic em homenagem ao Magic Kingdon, um dos parques da Disney.
Para quem não conhece o basquete competitivo nos Estados Unidos, o Magics é um time novo, foi fundado em 1989 e jamais foi campeão, embora seja um time de chegado, tendo 6 titulos de divisão e 2 de conferência. Tem um bom aproveitamento de chegadas aos playoffs, mas obviamente em suas primeiras temporadas era encarado como azarão.
Houve um grande problema para quem fosse tentar Shaq, e quando o Orlando ficou com a primeira escolha do Draft em 1992, não houve garantias de que ele iria para a franquia. Armato fazia jogo duro, e rolava um boato de que ele iria para os Lakers, de Los Angeles, e isso de fato aconteceu alguns anos depois (O’Neal onde seria muito vitorioso, sendo tricampeão da NBA), mas o gigante de 2,16m jogou com a 32 do time praiano. Em determinado ponto o filme vira uma cine biografia de Shaq de certa forma, e nessa época ele era muito competitivo, voltava para a defesa, era especialista em tocos e rebotes ofensivos e defensivos, além obviamente de ser um mestre embaixo do garrafão. Para muitos, ele ofuscou até a figura de Michael Jordan como ídolo nacional, ao menos nos primeiros momentos, e aindatinha carisma, com uma jinga semelhantes a de Charles Barkley e enterradas que destruíram algumas tabelas.
O Draft de 93 também caiu como a primeira para o Orlando Chris Webber, Shawn Bradley e Hardaway, eram as possíveis primeiras escolhas, com o ultimo fazendo muito sucesso em Memphis. Somente após a produção de Blue Chips, filme de William Friedkin, que Shaq observou de perto seu futuro amigo, e decidiria interceder a favor dele, pedindo ao dirigente John Gabriel, para contratar o sujeito. Toda a negociação e o suspense durante a escolha dos novatos, a expectativa da torcida para ter Webber, tudo é muito bem detalhado (o Magics escolheu Webber primeiro, o Golden State Warrios pegou Hardaway e trocaram, com direito a três primeiras escolhas em futuros drafts), e a partir dali começou uma bela parceria, que teria a expectativa aumentada por não ter Webber e por Michael Jordan anunciar que iria jogar baseball. Ali era dito que mesmo com as vaias a Hardaway, ele seria ovacionado no futuro, e de fato foi, ele ganhou um boneco anos depois, Lil’ Penny, que durante um tempo foi mais famoso até que ele. Com o tempo eles se tornaram astros, com a carreira de rapper de Shaq, e comerciais graúdos com os jogadores, como símbolos dos Magics.
Os resultados melhoraram, em 1994 o time entrou para a primeira vez nos playoffs. Se nota uma alegria genuína nas entrevistadas documentadas, todos parecem muito expontaneas, e isso pesa demais a favor dos diretores Kirby e Leyden, que fazem, no entanto, para o time ser encarado como grande, comprando Horace Grant, trazendo Brian Shaw da Free Agency, e o esquadrão ganhava forma.
O filme mesmo não sendo audacioso consegue produzir um bom retrato do que foi aquele time, um evento lendário, que conseguiu causar em todos a sensação de que algo inédito vinha, além disso, ele detalha bem as rivalidades que surgiram contra o Orlando, em especial o Indiana Pacers, que protagonizou disputas épicas pelos títulos de conferência e na temporada regular, mas é na final de 1995, entre Houston Rockets o time que o documentário defende que mora a maior emoção, incluindo aí a “malhação de Judas” que ocorreu com Nick Andersen, por ter errado quatro lances livres no final do Jogo Um. Aquela vitoria que escapou jamais foi bem digerida, e mesmo para o hoje ex-atleta, ficou a sensação de que foi ali que o campeonato foi perdido.
A carga de humor se fortifica próximo do final, ao mostrar o quão bizarra foi a transferência de Shaq para LA – inclusive satirizando sua transformação em ator, nos péssimo Kazaam e Steel, antes mesmo do advento de Space Jam, onde Michael Jordan apareceria. O gigante, já aposentado, fala que não queria ter que sair de Orlando, mas que precisava disto, precisava alçar novos ares. A vida após a saída do principal jogador – e até hoje, maior ídolo da franquia – jamais foi bem digerida, e demorou até ele ter relações amistosas com a franquia de novo.
A ressaca fez Penny jogar como dono do time, e sobrou para treinador, Bryan Hill, e é uma pena como o legado deixou de existir. É engraçado como This Magic Moment equilibra bem a comedia, o ocaso dos sorteios das bolinhas que praticamente formaram o time nos drafts e o cunho emocional, de Shaq e Penny principalmente, onde ambos assumem que aqueles foram os melhores momentos de suas vidas, mesmo com o período mais vitorioso de Shaq sendo em Los Angeles. A forma como a comunidade abraçou o time foi diferente, e isso não é nada desprezível, ao contrario, e o mérito em traduzir isso para o espectador é todo de Kirby e Leyden, que tocam na alma dos entrevistados.
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