Crítica | O Pequeno Príncipe
A obra de Antoine de Saint-Exupéry se mantém como uma narrativa metafórica universalizando, através de suas personagens, sobre sentimentos. Normalmente lido na tenra idade, O Pequeno Príncipe carrega uma bonita mensagem sobre amizade e conhecimento na trajetória de um garoto que vive em um asteróide e, ao encontrar um aviador perdido, passa a acompanhá-lo.
Recentemente, a obra caiu em domínio público, proporcionando, além da venda natural de diversos objetos relacionados à obra, edições diversas para novos leitores, além desta adaptação produzida pela França. A trama se baseia em parte na trajetória do próprio autor, um aviador morto em combate. Lançada um ano antes de sua morte, a história focava em aspectos essenciais da vida, reflexões provavelmente desenvolvidas em contrapartida aos horrores da guerra. Dialogando com a própria personagem, além de pintá-la em aquarelas, formatando também seu perfil estético, a narrativa se tornou um marco e, ainda hoje, traz bastante apelo.
Aliada a uma metáfora de cunho moral com uma interpretação pessoal para cada leitor, a história é anacrônica em relação aos tempos de hoje. Se compararmos outros lançamentos infantis com informações em excesso, carregada de signos e cores, parece evidente que a história foi fundamentada para um público anterior a este momento presente. Desta maneira, o filme tenta reiventar a própria narrativa, inserindo a história do príncipe em um contexto atual, além de explorar um viés metalinguístico, inserindo um personagem que reflete a figura do autor.
Na trama, uma garota na pré-adolescência vive com a mãe, responsável por uma vida extremamente regrada. Como vizinho, as duas tem um louco aviador que envia para a garota a primeira página de O Pequeno Príncipe. A leitura cativa a menina e lhe inspira a pedir mais informações sobre as aventuras da personagem. O filme mantém a dinâmica do livro apresentando um autor narrando a história em terceira pessoa. Porém, em paralelo, há o desenvolvimento breve da vida da garota, obrigada a seguir uma rotina focada no sucesso escolar. Um argumento que conecta com o período contemporâneo e gera o conflito para a história simbólica que o contrapõe.
Esteticamente a animação é eficiente ao trabalhar com dois conceitos visuais distintos: o cotidiano da garota composto pelo estilo computadorizado e a história do príncipe narrada com maior apelo artístico, emulando um estilo stop motion, mantendo o requinte da história original e claramente demonstrando uma intenção de distanciar o público da estética vista anualmente em animações diversas.
Sendo uma narrativa breve, a produção se expande além da história original, desenvolvendo uma aventura com a garota em sua procura pelo pequeno príncipe de verdade. Esta parte trabalha os mesmos paralelismos fundamentais da obra de Saint-Exupéry e seus conceitos, como amor e amizade. Uma conexão que promove a obra original e simultaneamente renova-a em um processo semelhante ocorrido com Charlie Brown e Snoopy, outra franquia antiga que foi reapresentada ao novo público em Snoopy e Charlie Brown – Peanuts, O Filme, mantendo o público fiel e, simultaneamente, expandindo sua tradição. Um feito merecido para que grandes histórias permaneçam no imaginário coletivo infantil.
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