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  • Resenha | Mayara & Annabelle – Vol. 2

    Resenha | Mayara & Annabelle – Vol. 2

    Eu simplesmente não sei o que a Netflix Brasil está esperando para adaptar a série de Pablo Casado e Talles Rodrigues, e transformá-la em hit imediato. Na jornada de duas amigas a combaterem, secretamente, forças do mal no nordeste brasileiro, diversão é o que não falta. No volume dois de Mayara & Annabelle, a vida dessas agentes misteriosas do governo brasileiro só piora: agora, as duas recentes amigas precisam lidar com algo muito maior que um caranguejo gigante, assolando a ensolarada Fortaleza. O mal, afinal, não existe apenas nas capitais, e aqui, prova-se ardiloso o bastante para se esconder no interior do Ceará, aonde uma conspiração política toma ares cada vez mais surreais.

    Numa clara alusão à podridão do cenário político brasileiro, somos apresentados aos Ramos, uma família mafiosa que tenta controlar a árida região de Lavras de Pedra Branca, a qual conta com força diabólicas para manter a sua antiga influência local. Assim, os Ramos agem há décadas em Pedra Branca, mas alguém precisa terminar com seu reino de maldades e mortes, escondido ainda da opinião pública. Só que, mexer com a simetria do submundo nunca foi fácil, e será mesmo que uma samurai paulistana e uma bruxinha arretada vão ser capazes de enfrentar uma linhagem de demônios, e voltar pra tomar uma no bar, no fim do dia?

    Mesmo com suas diferenças, adoravelmente complementares e que rendem bons momentos, Mayara e Annabelle não titubeiam ao atenderem o pedido da Secretaria de Controle de Atividades Fora do Comum do Ceará, a SECAFC, indo ao trabalho sem saber o que as espera – será, mesmo? Inebriante é perceber como a história faz com que os desafios e infortúnios sempre reforcem os laços entre as duas. Elas podem até brigar, e muito, mas quando um inimigo avança, ficam mais unidas que irmãs de sangue. Agora, conhecemos um pouco mais do passado de Annabelle Feitosa, e descobrimos que ela não é uma “bruxa” por acaso: isso está no seu DNA, ou melhor, na sua polêmica árvore genealógica.

    A série iniciada em 2014 segue encantando com seu estilo ultra dinâmico, e visualmente expressivo, com muita ação e comédia misturada. os autores capricham na grande batalha final, com painéis de encher os olhos e uma tensão onipresente. Nada melhor, sobretudo, que acompanhar as peripécias profissionais (e pessoais) de duas mulheres que queremos, de fato, conhecer sem parar, uma vez que suas personalidades são extremamente naturais, e o roteiro transmite isso desde o primeiro diálogos delas – todo mundo conhece uma Annabelle e uma Mayara. Nesta publicação da editora Fictícia, as páginas passam voando e mesmo assim, as possibilidades aqui são muitas, pois a série ainda promete demais. Ah, serviços de streaming… reconheçam o poder de Mayara & Annabelle.

  • Resenha | Mayara & Annabelle – Vol. 1

    Resenha | Mayara & Annabelle – Vol. 1

    “Mas que diabeisso?!”

    Antes de mais nada, é sempre motivo de orgulho perceber como a fantasia, em cenários orgulhosamente brasileiros, pode ser tão delirante quanto a melhor das aventuras do Homem-Aranha nos arranha-céus de uma Nova York tão lugar-comum. Já com esse Vol. 1 de Mayara & Annabelle, publicado pela editora Fictícia, a história é diferente: eis uma série que também visa explorar de forma surreal a relação intrínseca de duas jovens aventureiras com uma cidade para combater forças sobrenaturais, mas o palco agora é Fortaleza (bem longe do eixo Rio-São Paulo). Aqui, demônios e monstros gigantes aparecem sob um calor de mais de 40º Celsius para enfrentar, da forma mais dinâmica e divertida possível, a mortal espada katana da esquentada Mayara, e a magia cor-de-laranja da descolada Annabelle que, até então, nunca precisou de ajuda para fazer seu serviço secreto no Ceará.

    Secreto, aliás, já que o mal em suas mais variadas formas e manifestações alegóricas nunca descansa – viva as utopias! Por isso mesmo, foi criada para cada estado do Brasil uma Secretaria de Controle de Atividades Fora do Comum, ou melhor, uma SECAFC, com seus agentes prontos a interferir caso um caranguejo gigante ou um político diabólico decida se revelar, e destruir tudo por ai – sorte nossa que isso é apenas ficção. Em São Paulo, tudo corria bem para Mayara, mas após fazer algo que estava bastante acostumada (criar problemas), o secretário da SECAFC – SP decide enviá-la junto de sua espada para Fortaleza – ou então, exonerá-la. Mas como recomeçar a vida do zero junto de Annabelle, que não gosta de ser interrompida em nada. Em seu serviço, em sua soneca, e muito menos na série que baixa para assistir no computador, e driblar o ócio do escritório.

    Temos aqui duas mulheres por quem é fácil se apaixonar (inclusive elas, por elas mesmas), cuja autoafirmação é renovada a cada combate vencido, a cada dúvida solucionada; afinal as trevas estão sempre à espreita, e as vezes na esquina, literalmente. O que acaba sendo bom, pois uma vida de luta contra a mais sinistra das paranormalidades pode ser muito chata, uma vez que não é todo dia que uma entidade é conjurada, agindo na mais banal das tardes de Fortaleza contra a paz pública e o prazer delas em tomar uma no bar, ou apenas se tostar gostoso na praia. Ao passo em que uma deve (e acaba gostando de) se acostumar com o jeito e as diferenças da outra, uma amizade toma corpo em prol de uma resistência mútua aos perigos e artimanhas que cercam as duas, e o uso simbólico do caranguejo frito, na cena do restaurante, é particularmente engenhoso na história, já que demonstra bem o que elas fazem com seus vilões, nesse delicioso debute de uma série de grande potencial.

    Tudo desenhado por Talles Rodrigues, criador da mais divertida dupla de agentes públicos do Brasil. Rodrigues é morador de Fortaleza, e a homenageia com uma ação e uma irreverência que se apropria de toda a ambientação da cidade, e seus costumes, num toque de originalidade e regionalismo que junto ao carisma das protagonistas e seus dramas, seduz a qualquer um. O resultado disso é esta co-criação inconfundível, forjada no frenesi e na expressividade dos traços de Rodrigues que nos conduzem graciosamente no ótimo desenvolvimento narrativo de Pablo Casado, cativando-nos desde a primeira página (como deve ser, em tese) para mais aventuras que com certeza, para Mayara & Annabelle, não faltarão a serviço da SECAFC do Ceará – isso se elas não forem exoneradas em outra de suas confusões, é claro.

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