Crítica | Sonic: O Filme
Primeiro episodio de uma possível saga de filmes baseado em vídeo games da companhia Sega nos cinemas, Sonic – O Filme, dirigido por Jeff Fowler (que foi indicado ao Oscar de melhor curta animado por Gopher Brooke em 2004 e foi o responsável pelos efeitos especiais de Onde Vivem os Monstros) começa brincando com o logo da Paramount Pictures, com os anéis de energia iguais aos dos jogos do ouriço azul no Mega Drive Genesis e nos portes para Master System.
A introdução é bem bonita, ocorrendo após uma perseguição do Ivo Robotnik de Jim Carrey para logo depois ir até a ilha de origem do velocista azul, em South Island, onde o mesmo é mostrado que o personagem tinha que manter seus poderes em segredo. Há todo um componente sombrio e simples, que ajuda a situar o quão complicada foi a vida do ouriço até ali, além de conter referências a raça ancestral do personagem Knuckles o Echdina.
A historia se passa em Green Hill, um lugar na Terra, onde o animalzinho se esconde e observa a vida dos humanos. O herói animalesco brinca com os homens a distância, apelidando-os e mostrando os receios do personagem, em ser perseguido pelos homens e por isso ele se refugia. A utilização dos anéis de poder como portais lembra as fases especiais de Sonic 1, mas também tem um bom componente dramático, mostrando ele com medo de sair de sua zona de conforto. Toda essa construção narrativa apesar de ser cunhada em clichês infantis é bem construída e funciona entre outros fatores pelo apuro visual que Fowler estabelece aqui, pois todas as revisões visuais do CGI de Sonic.
Apesar de restar em alguns possíveis espectadores uma curiosidade mórbida por assistir a versão presente nos primeiros materiais de divulgação, a nova composição desta obra é satisfatória, faz uma boa interseção entre as versões do mascote da Sega, e até se tem boas piadas com o quão grotesca seria o formato da figura e do quão apelaria para o Vale da Estranheza.
O roteiro de Patrick Casey e Josh Miller é formulaico, tem uma série de referências a esportes clássicos praticados nos Estados Unidos, como Baseball, Tênis de Mesa, além de atletismo, mas todo o drama de solidão do porco-espinho é levado de uma maneira até madura se considerar que o foco aqui é bem encaixado. O problema realmente ocorre com os núcleos humanos, pois fora a figura do policial de James Marsden como o policial Tom, que é o perfeito homem legal e faceiro, e claro, Ivo que é uma versão super careteira de Carrey, não há personagens humanos legais, sorte que a versão de Ben Schwartz do ouriço azul consegue segurar bem a trama como um todo, mesmo que seja bem diferente da face descolada e descompromissada com eventos importantes como é a versão melancólica apresentada aqui.
Os momentos cômicos emulam as participações de Mercúrio em X-Men Dias de Um Futuro Esquecido mas possuem identidade própria, até porque seria reducionista e tolo achar que o recurso de usar câmera lenta para representar a super velocidade é algo exclusivo da obra de Bryan Singer. A personalidade do personagem-título é carismática, a de doce garoto carente, sem amigos e com uma lista de desejos emotivos bem extensa.
Mesmo as pontas soltas, como a origem, as relações com o governo e o destino de Ivo funcionam bem, e podem ser encaradas como eventos positivos dado que o filme não tem exatamente compromisso em ser uma obra de consumo para um público mais maduro ou seleto, além do que, por ser divertido nessas pequenas manifestações, faz quem assistiu querer mais aventuras como essas, acompanhadas claro do desejo que Jim Carrey tope retornar a franquia, pois tanto a animação dos créditos finais, a cena pós crédito e o modo super otimista que termina a trama faz ter vontade de que as aventuras sigam sendo bem adaptados, pervertendo qualquer receio de fãs ou do estúdio que produziu de que esse seria um fracasso de crítica e público, pois embora esteja longe da perfeição, Sonic- O Filme ainda resulta numa obra bem divertida e cheia de momentos que deixam o espectador feliz por acompanhar a jornada do ouriço azul.