Review | Umbrella Academy – 1ª Temporada
Seriado da Netflix que adapta o quadrinho de Gerard Way e Gabriel Bá, Umbrella Academy tem um início bastante diferente do que normalmente se vê em adaptações do gênero, a começar pelas cenas iniciais que se passam em uma aula de natação, onde se nota em detalhes uma bandeira da URSS. Em Outubro de 1989, aconteceu um estranho fenômeno mundial, com dezenas de mulheres dando à luz a crianças que não estavam programadas para nascer – a mulher mostrada nesse início parecia, inclusive, ser virgem.
A premissa é estranha, mas o desenrolar dos fatos é ainda mais. Quando a história mostra o magnata Sir Reginald Hargreeves (Colm Feore) adotando sete dessas crianças. Na atualidade, cada um deles é mostrado com um destino diferente. Os “filhos” são: Spaceboy/Luther, dotado de super-força e tronco de um gorila, que vive na lua; Kraken/Diego, um ex-policial que se tornou um vigilante ao estilo Batman; Rumor/ Allison, possui o poder de convencimento automático; Séance/Klaus, fala com os mortos e é supostamente imortal; O Garoto, desapareceu com seu poder de viajar no tempo e espaço; Horror/Ben, morreu em uma missão quando criança (e que eventualmente conversa com Klaus); e Vanya, que não tinha poderes e era humilhada por Hargreeves, que não por acaso é interpretada pela pessoa mais famosa do elenco, Ellen Page. Com o passar do tempo ela foi mal vista pelos seus, por ter escrito um livro sobre a Umbrella Academy e descobre que não ter poderes não é exatamente uma verdade sobre si.
O programa foi criado por Steve Blackman, de Legion, Fargo e Altered Carbon, e a estética da série tem sua própria personalidade, assim como seu caráter dramatúrgico também é diferenciado. Apesar da existência de momentos engraçados, a maioria deles são dramáticos e sombrios. A proximidade do fim é vista e sentida a todo tempo no decorrer dos dez episódios, ainda que nos primeiros isso seja bem mais velado.
A reunião dos irmãos acontece com eles já adultos, sem seu pai, e onde velhos ressentimentos são resgatados e revividos. Aos poucos, a série resgata o passado por meio de flashbacks, mostrando os poderosos garotos em ação. Não demora para acontecer algo que interrompe a reunião dos adultos. O Garoto retorna, após 17 anos desaparecido, e com uma aparência de 13 anos, interpretado ainda por Aidan Galagher, por conta de algum evento grandioso que ainda se desenrolaria.
Independente do que viria a seguir, uma crise na família é instalada. Diego (David Castañeda) fala o óbvio, que o pai adotivo deles era uma pessoa péssima, que não se envolvia com os filhos e deixava para a Mãe (Jordan Claire Robbins), uma personagem estranha e servil que age como um manequim vivo baseado nas mulheres donas de casa dos seriados dos anos 1950, e com o macaco mordomo Pogo (com captura de movimentos feitas por Adam Godley) que também era babá dos sete e já trabalhava com o homem desde sempre. Dar nomes aos filhos foi tarefa da Mãe e o Monóculo (codinome que o velho usava) jamais teve o hábito de dar carinho a eles.
Visualmente a série é belíssima, as lutas possuem uma coreografia digna e a maioria das atuações são sóbrias. No entanto, o roteiro pode soar confuso, ainda mais para quem não conhece a obra de Way. A quantidade de detalhes que envolvem os filhos de Hargreeves é grande, mas nada que uma apreciação com atenção não resolva.
É o arco de Klaus (Robert Sheehan) o mais pesado nesta primeira temporada. Sua proximidade do mundo dos mortos faz com que exista uma crença de que ele é imortal, motivo pelo qual ele usa toda sorte de drogas, a princípio para conseguir se matar, mas a realidade é que ele se anestesia para não ouvir os mortos. O fato dele poder se comunicar com seu irmão falecido é um bônus em meio a maldição que ele tem. O arco do Garoto se confunde com a tal chegada do Fim. As tramas detetivescas dos cinco irmãos – excluindo aí Vanya, por um motivo especial – passa pela presença de um outro coadjuvante, Leonard Peabody (John Magaro) que tem um passado ainda mais sombrio que o das crianças rejeitadas por seu pai. De certa forma, é mostrado um lado humano do Monóculo que antes não se via, ainda que as suas boas intenções não justifiquem os maus tratos e exploração do grupo, sobretudo o de Vanya, que sempre viveu desprezada por todos.
O season finale, The White Violin tem aspectos de filmes de terror. Os momentos finais ainda guardam uma reflexão muito inteligente sobre a inevitabilidade do destino e sobre a ousadia dos membros da academia em tentar expandir suas habilidades rumo ao desconhecido, mesmo que o desconhecido já tenha sido vivido. A viagem de ácido que Way e Bá pensaram é muito bem traduzida, e abre possibilidades para uma segunda temporada que explore ainda mais a historia dos meninos e meninas que nasceram sobre circunstâncias tão estranhas, em mais uma tentativa de não fracassarem como os heróis que foram preparados para ser, mas sem muito otimismo de alcançar este patamar.
https://www.youtube.com/watch?v=3bSOSI4Lr_I
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