Crítica | Colosso de Rodes
Antes da parceria com Clint Eastwood, e após participação como diretor de segunda unidade em alguns filmes (Quo Vadis, Ben Hur, Uma Cruz à Beira do Abismo) Sergio Leone finalmente iniciaria sua carreira como realizador (oficial) de filmes, lançando em 1961 uma versão sobre a catástrofe lendária em Rodes.
O paupérrimo orçamento fica evidente logo de cara, seja com as cenas de luta sofríveis, pelos erros de continuidade, pelo cromaqui tosco. Uma das marcas de Leone aparecia com a escolha do elenco cosmopolita, com o americano Rory Calhoun – um decadente ator de westerns clássicos, como A Lei do Oeste, Domino Kid, O Vingador e Revólver Mercenário -, com o francês Georges Marchal e com a belíssima italiana Lea Massari. Os cenários também carregam em si um caráter de filme de baixo orçamento, especialmente nas masmorras e cavernas, no entanto, tais instalações contrastam com as suntuosas e quase perfeitas obras arquitetônicas.
A estátua/monumento faria de Rodes uma boa alternativa para a rota marítima de Grécia, e internamente, os opositores eram raptores, meio bárbaros e nada abertos ao diálogo, o que pode gerar no espectador um pouco de xenofobia. O caráter da fita ainda não era visceral como as fitas de westerns spaghetti, os astros usavam gomex e seus cabelos permaneciam intactos mesmo com todas as adversidades do tempo, mas também não cai no erro de ser panfletário e não faz propaganda nacionalista gratuita, características comuns aos filmes históricos estadunidenses.
As planícies, as montanhas e a paisagem formam um belo quadro ao fundo da película e é mérito total de Leone, que em alguns momentos dá ares de cinemão ao seu barato filme.
Apesar da abissal diferença entre os atores e os dublês – flagrados em closes algumas vezes – a luta no interior do Colosso é muito boa, tanto na reconstituição do artefato histórico, quanto na forma de filmar, os ângulos escolhidos por Leone põem a visão do espectador a perspectiva que importa, escondendo as falhas nos objetos de cenário. No entanto, o pieguismo nas cenas edificantes de Dario é enorme, em nada diferente de outras produções semelhantes.
A catástrofe natural subjuga os planos de dominação do lado dos “mocinhos” e dos “bandidos”, a destruição da cidade mostra que as artimanhas e conchavos feitos por parte dos mortais não são nada diante dos desígnios e vontades do Divino, as maquetes sendo destroçadas tornam-se uma piada involuntária, mas não constituem incômodos. Foi preciso que o símbolo maior do poder local para que a máxima de “Cidade da Paz” fizesse real sentido. O esqueleto do roteiro de Colosso de Rodes é muito semelhante ao de Os Últimos Dias de Pompeia, com temas como revolta, insurreição, desastre orgânico e com um final feliz para o casal de protagonistas. Colosso de Rodes é dos filmes de Leone o menos notável, mas possui muitos dos méritos que tornariam o diretor na lenda que se tornaria.