Review | Saints Row: The Third
À primeira vista, Saints Row: The Third – que eu chamarei apenas de Saints Row daqui para frente, por brevidade – pode enganar um desavisado que não sabe bem do que se trata. Afinal, os elementos e semelhanças com GTA são tantas que o jogo pode parecer apenas uma cópia mal feita, aproveitando-se do intervalo de tempo entre dois lançamentos da franquia. Mas não: Saints Row, se encarado da maneira correta, pode render boas horas de diversão frenética e descerebrada.
Sinceramente, da primeira vez que joguei Saints Row, fiquei com o pé atrás. Em uma seção de pouco mais de uma hora, admito que não entendi a proposta do jogo, e realmente sai com aquela sensação de que era só mais uma cópia barata de GTA e que não valia a pena perder meu tempo. Porém, resolvi dar mais uma chance ao jogo e mudei de opinião quanto a isso. Explicando logo essa comparação entre os jogos: Saints Row usa o tempo todo elementos dos jogos Sandbox mais consagrados, GTA principalmente, como o celular, os mapas, o modo de direção e até algumas coisas que foram inseridas por meio de Mods, como o para-quedas. Mas não o considero um plágio simplesmente, pois ele me parece muito mais uma sátira desses jogos.
Aproveito então e digo: Saints Row não pode ser levado a sério em nenhum momento, tanto por sua trama absurda quanto pelos próprios modos de jogo e algumas missões que devem ser completadas. Muitas vezes me senti num filme de ação dos anos 80 com a roupagem dos anos 2000.
O conceito de exército de um homem só é quase que uníssono num jogo em que não existe sistema de cover; o tiroteio franco, você contra centenas, já deixa isso bem claro. Outros exemplos de absurdos são uma arma que você pode carregar, um dildo de 1 metro de comprimento e roxo, balangando de um lado pro outro, para matar pessoas aleatórias. Mais um ponto é uma missão em que você vai resgatar um companheiro de gangue e ele está participando de uma orgia sadomasoquista. Resultado: você sai pelas ruas em uma carruagem puxada por ele mesmo pelado, apenas com uma sela de cavalo, e é perseguido por outras carruagens, também conduzidas por tração humana, que estavam naquela orgia. Isso já dá um pouco o tom do jogo. Além disso, Zimo (o mais velho PIMP de Steelport), que é salvo nessa situação um pouco desagradável, carrega um microfone o tempo todo e só fala com voz de auto-tune.
Outro ponto interessante de Saints Row é sua utilização de referências não só dos jogos, mas também do cinema. Um exemplo é uma missão em que você deve invadir uma emissora de TV e o prédio e quase tudo da “cena” é baseado em V de Vingança. Outro caso é uma das gangues do jogo, os Deckers, com roupas e carros inspirados em TRON. Isso acaba proporcionando também algumas batalhas num tipo de realidade virtual, além de uma missão curtinha em que você tem que dirigir a icônica moto do filme. Só aí já é um ponto interessante, pode-se dizer que é o melhor jogo baseado no universo de TRON já criado. Outra coisa que me rendeu boas risadas é o prefeito de Steelport ser o Burt Reynolds.
Não me estenderei muito pelo plot do jogo, até pelo nível de galhofa comum. Mas basicamente, dando seguimento a Saints Row 2, sua gangue – os Saints – se transformou em um império midiático com brinquedos, energéticos, marcas de roupa, comerciais japoneses. Depois de um roubo a banco mal sucedido, você vai preso, porém é solto pelo suborno de uma organização criminosa chamada Syndicate, que é a união de três outras gangues: os Deckers, Morningstar e Luchadores, esta última um bando de mascarados da luta-livre mexicana. Seu líder chama-se Killbane. No fim das contas, esse pessoal do Syndicate quer tomar o controle das operações dos Saints e, é claro, o negócio não é fechado.
A partir daí se desencadeará a história com os Saints tentando retomar o controle da cidade de Steelport. Até que uma senadora conservadora, claramente inspirada na Sarah Palin (inclusive com cabelos e óculos parecidos) não admite uma gangue com tanto poder de influência, causando tanto estrago, e é enviada uma organização paramilitar STAG (Special Tactical Anti-Gang) para acabar com a festa. Essa STAG, inclusive, conta com armas e equipamentos ultra futuristas. Ao final do jogo, você tem também dois finais alternativos, um mais galhofa do que o outro. Ambos brincam com clichês de Hollywood e filmes B: inclusive, na missão final do jogo, “putaria desenfreada” não define a quantidade de tiros e matança. Só jogando mesmo pra entender.
Sobre os gráficos, nada demais, mas também nada que incomode. Para os personagens, o visual do jogo apela para um estilo puxado para o cartoon, um pouco do estilo de GTA IV, o que deve dar longevidade um pouco maior aos gráficos. Um ponto positivo é o visual da cidade em si. Vista de cima, com os edifícios e arranha-céus, foi feito um belíssimo trabalho; algumas vezes peguei algum helicóptero ou equivalente só para ver os grandes prédios e o design da cidade. O problema é que isso não se traduz na parte de baixo, em que há pedestres, motoristas aleatórios, porém não se tem a impressão de um cidade viva. Pouco se pode fazer no sentido de exploração de atividades que não tenham um objetivo claro, problema parecido com o que senti em Mafia II, por exemplo.
Agora vamos aos problemas do jogo. Por mais galhofa que seja um título, com objetivo apenas de diversão, algumas coisas são inaceitáveis. Bugs são um desses casos. Não há o que justifique tamanha quantidade de bugs, que atrapalham e muito a jogabilidade e principalmente o cumprimento das missões. Os bugs são dos mais variados, desde congelamento da ação por alguns segundos até outros de movimentação – muito comuns em jogos Sandbox, é verdade. Alguns carros e até mesmo edifícios só aparecem no momento em que você já bateu neles. Num momento de missão, numa perseguição, isso é bastante incômodo.
Faço uma ressalva aqui: a versão que joguei foi para PC e, ao que pude ler e obter informações, a versão de PC é a mais problemática de todas. Mesmo com os patches tentando resolver, alguma coisa acabou sobrando. E também já emendo a versão avaliada para dizer que é nítido que, para PC, o jogo foi só um porte, até mal acabado. Na troca de armas, na movimentação e até mesmo no sistema de mira, caso você esteja usando teclado e mouse, vai ter dificuldades. A sensibilidade vai ter que ser jogada lá pra baixo, deixando a troca de direção lenta às vezes. Sendo assim, o melhor para jogar Saints Row, mesmo no seu computador, é usando um controle: no meu caso usei o do Xbox 360 que melhorou sensivelmente a experiência. O que é uma pena, pois em shooters em geral eu dou preferência para o mouse, quando o jogo é pensado para usar um, é claro.
Um outro problema (é uma opinião particular minha, e sei que muitos não compartilham) é a inclusão de zumbis, apesar do nível de galhofa aceitar qualquer inclusão inesperada. Essa história de zumbis em todo tipo de jogo… Vamos a alguns exemplos recentes: Red Dead Redemption, Call of Duty, Gears of War 3, entre outros. Ainda quando isso é feito por DLC, compra quem quer e tudo bem. Mas quando é no meio da história, eu não consigo engolir mais. Virou caça níquel. Vamos colocar uns zumbis, só pra tentar vender alguma coisa mais, ou subir a nota, como curiosidade. Se fosse apenas uma referência sacaneando isso, eu teria gostado. Mas não. Foi realmente uma tentativa de colocar o modo zumbi no jogo. Em uma ilha separada. A sorte é que, como jogo no PC, depois de fechar a história, instalei um mod que me deixa refazer as missões e alterar o cenário de algumas delas. Apenas retirei do mapa o “modo zumbi”.
O parte sonora do jogo tem pontos altos e pontos baixíssimos, a trilha sonora tem músicas interessantes e variadas. No bom estilo da rádio do GTA, com breaking news inclusive. As dublagens são bem feitas, com vários estilos de vozes para os seus personagens, isso é tudo muito bom. Porém toda a parte de efeitos sonoros do jogo, teve pouquíssima atenção, pra não dizer nenhuma. O efeito sonoro dos tiros é ridículo, dos carros pior ainda. Todos praticamente com a mesma base. Enfim, faltou o mesmo cuidado com a dublagem para os efeitos sonoros.
Um último ponto é o fator humor do jogo. Apesar das boas piadas e referências, que te fazem rir pelo inesperado e absurdo – como derrotar um “boss” com um peido enlatado – algumas dessas piadas são legais na primeira vez, na segunda já não têm tanta graça, e na terceira você já está saturado daquilo. Isso acontece algumas vezes no jogo. É o caso do Zimo, que fala só com auto-tune: lá pela quinta ou sexta vez, você não quer mais ouvi-lo falando, ficou apenas chato.
Minha conclusão é que Saints Row: The Third vale a pena como diversão, e se encarado apenas como diversão pura e simples. Sem se levar a sério, o jogo leva missões inovadoras e tem um bom fator replay, pela grande quantidade de side missions. Eu, por exemplo, terminei a história com algo perto de 9 horas de jogo e ainda tinha pela frente muitas coisas para fazer pela cidade: colecionáveis a explorar, missões variadas. A dificuldade do jogo é bem tranquila, rendendo algum desafio, mas sem nunca exigir muito daquele que joga. Enfim, é um bom temporão entre GTA’s, que apesar da proposta diferente, tem sua jogabilidade similar.
Saints Row: The Third foi lançado em 15 de novembro de 2011 para os consoles Xbox 360 e Playstation 3, e para PC em 16 de dezembro de 201. Foi desenvolvido por Volition, Inc. Distribuído pela THQ.