Crítica | Klaus
Jesper é o filho de um homem muito rico, um nobre dono do serviço postal real que vive de maneira desordenada e sem qualquer compromisso em se tornar um bom profissional. Após muito protelar, ele recebe o encargo de ser testado como carteiro, mas falha, como parte desse treinamento ele é levado a cuidar de uma agência num lugar ermo, chamado Smeerensburgo, onde ele aprenderá um sem número de lições sobre humildade e sobre como viver bem.
Já no início de Klaus se percebe que essa é uma animação de beleza ímpar, que mistura gráficos em 3d com uma fina camada de movimentação e compleição bidimensional, como se misturasse os diferentes estilos de animação entre o visto em A Nova Onda do Imperador e A Lenda de Eldorado, animações tropicais com cores gritantes, com a sobriedade e beleza arquitetônica de Frozen – Uma Aventura Congelante, além de também conter uma atmosfera de desconstrução de contos de fadas semelhante aos clássicos da Dreamworks como Shrek e Formiguinhaz. Impressiona que em meio a tantas referencias e inspirações, o filme também consiga ter uma identidade muito própria e uma forma de abordar a temática
Smeerensburgo é uma cidade peculiar, seus habitantes vivem brigando e em pé de guerra, jamais consegue se entender sem algum conflito e isso atrapalha Jesper, que imaginava poder ficar tranqüilo na missão que lhe coube.
O diretor Sergio Pablos traz a trama personagens bem legais, que possuem personalidade própria, em especial Alva que é uma professora e mulher em furia, a mais nervosa entre os cidadãos da pequena cidade. Mesmo o drama egoísta de Jesper faz sentido, e faz discutir o espírito natalino, pois há uma variação entre a miséria de querer voltar as regalias provindas do dinheiro do pai e a inevitável tristeza de lidar com uma cidade repleta de sociopatas, onde ninguém quer trocar mensagens, ou comprar cartões ou dar boas novas aos outros
O quadro muda quando finamente alguém quer enviar uma encomenda, um sujeito grande, com muitos pêlos no rosto, todos grisalhos. Os momentos após essa interferência são legais, pois mostram uma oportunidade de trabalhar, explorando um secto capaz de driblar a ranzinzice, que vem a ser as crianças, ainda que as habitante da vila não sejam as mais fofas, tampouco são imunes a agressividade. O sujeito é Klaus, chamado nas legendas brasileiras de Noel, numa clara referência ao entregador de presentes muito popular nas datas de dezembro, mas dispensando os clichês de feriados. Ele é um homem sensível, que alimenta passarinho e desafia os paradigmas preconceituosos de que os homens grandes são brutos
A mensagem de que o vilarejo é um lugar de penitencia, de rito de passagem não é exclusivo para Smeerensburgo, e o fato de ser um filme espanhol certamente garante uma abordagem que foge bastante do maniqueísmo comum a produções dos Estados Unidos. Não ha tanto apelo a questões maquiavélicas mesmo quando se mostra a maldade e egoísmo do homem, e o fato de a lenda de Noel ser criado num lugar de tão áridos corações é bem simbólico
É incrível como o incentivo a crianças escreverem cartas, desejando coisas boas causa alvoroço na comunidade, ao ponto de Jesper ser olhado como um párea. A inversão de valores visto aqui mostra que sociedades diferentes tem modos diferentes de ver a vida e não se resumem a ignorância xenófoba de uma nação desenvolvida ou conservadora ou ao puro consumismo que normalmente é associada as festas de fim de ano. Pablos mostra ser um diretor de mão cheia, traz a luz um filme tocante, divertido e belíssimo visualmente, cuja mensagem é forte e até original nos temas que aborda, mesmo que seja parte de um filão repleto de clichês.
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