Crítica | No Olho do Tornado
Filmes de catástrofe são bastante recorrentes. De tempos em tempos, uma produção competente é lançada, atraindo inúmeras pessoas ao cinema, sendo que, na maioria das vezes, o filme em questão traz um roteiro bastante simples, porém funcional, priorizando as sensacionais cenas onde o visual se destaca. É o caso de Inferno Na Torre, Terremoto, O Destino do Poseidon (e sua competente refilmagem, Poseidon), Vivos, Twister, Volcano, Impacto Profundo, Independence Day e todas as versões de Titanic. Ocorre que, por conta do avanço da tecnologia, cuja prioridade é melhorar ainda mais os efeitos especiais, os roteiros acabaram por atrair pouca atenção. Dessa forma, o Cinema nos entregou filmes que, apesar do gosto duvidoso, alcançaram grande sucesso, como Armageddon, O Núcleo, O Dia Depois de Amanhã e 2012, todos baseando-se em desastres naturais.
Seria impossível não comparar No Olho do Tornado a Twister, afinal os dois filmes têm nos tornados a atração principal; porém, seria muito injusto se aquele viesse para competir com esse, já que a produção de 1996 é um grande filme. É aí que está o trunfo de No Olho do Tornado: ele não compete com a obra anterior, apenas homenageia-a, de forma sutil, e isso talvez seja mérito do diretor Steven Quale (Premonição 5) – o braço direito de James Cameron e diretor de segunda unidade de Titanic e Avatar – e do jovem roteirista John Swetnam (Ela Dança, Eu Danço 5 e Evidências).
A trama reúne a história de três núcleos de personagens, sendo dois principais e um de alívio cômico. São eles: Gary (Richard Armitage), um pai viúvo e coordenador da escola local, e seus dois filhos, Donnie (Max Deacon) e Tray (Nathan Kress), que estão colhendo depoimentos em vídeo de todo o colégio para uma cápsula do tempo; uma equipe de caçadores de tornados liderados por Pete (Matt Walsh) e a meteorologista Allison (Sarah Wayne Callies), que estão filmando um documentário em busca de um financiamento milionário; além de uma dupla de loucos que curte a vida no melhor estilo Jackass, buscando o sucesso fazendo vídeos para o Youtube.
São personagens repletos de clichês. Gary, como dito, é viúvo, criou os dois filhos sozinho, mas não tem tempo, nem paciência para eles. Donnie, o filho mais velho, é tímido, porém apaixonado pela linda Kaitlyn (Alycia Debnam Carey). Já seu irmão, Tray, é bobo e descolado. Pete é como se fosse um vilão, pois só pensa no dinheiro que pode ganhar com a filmagem do documentário. Paga pouco por funcionários jovens e sem experiência e não exita em colocar sua equipe em perigo.
O acerto do roteiro se deu por conta do momento em que os três núcleos se convergem em um só, o que deixa o filme mais coeso e sem tempo para enrolação, já que há uma urgência, uma corrida contra o tempo, uma vez que Donnie decide faltar à formatura para ajudar Kaitlyn num trabalho sobre meio ambiente numa usina abandonada do outro lado da cidade.
Como se pode perceber, os núcleos trabalham com filmagens, o que faz com que boa parte da fita seja no estilo found footage. Mas em nenhum momento trata-se de algo negativo por não existirem cenas de correria, com telas tremidas, buscando propositalmente não mostrar a ameaça com o intuito de baratear a produção. O único porém (único mesmo) fica por conta de uma cena terrível em que você percebe claramente que toda a chuva ali (até a água dos vidros dos carros) foi criada de forma pífia por computadores, um elemento que faz lembrar as produções da Asylum.
De qualquer forma, os “personagens principais” aparecem pra valer, mas nada muito diferente do que já foi visto nos trailers da obra; uma estratégia ousada, porém positiva.
De acordo com Allison, os furacões Katrina e Sandy são a prova de que a natureza não é mais a mesma e que anomalias meteorológicas poderão ocorrer até mesmo em lugares como Los Angeles. Embora a cidade aparentemente fique numa região condizente com a aparição eventual de tornados, ela é assolada por uma série deles, o que coloca a metrópole em perigo, preparando os personagens para um terceiro ato grandioso, tenso e bastante competente. A cena mostrada do ponto de vista de um carro, que é jogado para o alto, faz com que o espectador realmente tenha aquela sensação de queda estando dentro do veículo.
Fica aí a grande surpresa para esse final de temporada das grandes produções do cinema americano. Seria ousado dizer que No Olho do Tornado está no “top 5” de blockbusters de 2014?
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Texto de autoria de David Matheus Nunes.