Crítica | Escolas Em Luta
Reunindo filmagens de estudantes e entrevistas com manifestantes, Escolas em Luta é um documentário que se baseia nas ordens das secretarias de educação das cidades metropolitanas brasileiras sobre as decisões de redefinir todas as regras do ensino médio e fundamental, utilizando os depoimentos dos ocupantes das escolas ao redor do Brasil. O filme de Eduardo Consonni, Rodrigo T. Marques e Tiago Tambelli flagra muito bem esse movimento.
O grito dos revoltosos é bem organizado, apesar de sua pouca pouca idade. Normalmente, a fala vai de encontro a insatisfação dos jovens com o fechamento de dezenas de escolas e as imagens que mostram a rotina deles é bastante visceral e realista. A ocupação tem o objetivo de basicamente bater de frente com a decisão arbitrária das autoridades em fechar escolas, mudar toda a grade e configuração dos colégios e a composição do corpo dos alunos sem consultar pais, docentes e discentes.
Os alunos entrevistados falam de maneira muito franca e sóbria sobre o que exigem e sobre o que querem para si enquanto ainda estudantes. Mais impressionante que isso é a curadoria que os diretores fizeram em torno das falas das autoridades sobre tudo que envolve essas ocupações, tanto das falas oficiais de Geraldo Alckmin, governador em exercício do estado de São Paulo, bem com as atitudes dos policiais e da secretária de educação de São Paulo. Seja nos áudios ou nas imagens há uma forte demonstração do quão injusto e opressor pode ser o braço do Estado, que basicamente serve para retirar os direitos dos estudantes e do povo como um todo. Perceber essas ações antes até de se chegar a vida adulta é uma questão primordial para se avivar o sentido de cidadania dos ativistas. Há cenas fortes de violência, filmadas em câmeras verticais, pelos celulares das crianças, misturadas a outras câmeras semiprofissionais, que prosseguem erguidas apesar do excesso de violência.
Com menos de dez minutos para o filme acabar, há o anúncio de que a tal reorganização em São Paulo seria cancelada. O pensamento final de Escolas em Luta é bastante otimista em relação a conscientização da juventude brasileira. Em tempos onde ser reacionário deixou de ser algo vergonhoso e se torna algo (infelizmente) comum, a mensagem do documentário funciona como um alívio, um modo de enxergar com ânimo o futuro da militância brasileira. A câmera que percorre os corredores vazios de uma das escolas ocupadas serve de comentário para um futuro ainda não escrito, com espaço inclusive para uma nova história ser contada a partir do comportamento contestatório dessa geração de estudantes.
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