Crítica | Um Tira da Pesada
Somente o distanciamento temporal é capaz de mostrar definitivamente a qualidade de uma produção. É necessário afastamento para que observemos com melhores olhos e identifiquemos os aspectos que tornaram a produção algo original, inspirando outras obras no futuro.
Desde o surgimento da sétima arte, reconhecemos a presença das fórmulas. A repetição maciça delas gera cansaço e a impressão de que, após um tempo, a mesma história está sendo repetida diversas vezes. Porém, são estas mesmas fórmulas que estruturam estilos e obras que hoje se mantêm íntegras em detrimento do tempo.
Produção que levou Eddie Murphy ao estrelado, Um Tira da Pesada revela uma das grandes fórmulas da década de 80. Murphy é o desbocado detetive Axel Foyley, um daqueles policiais que acusam primeiro e investigam depois. Malvisto no departamento de polícia e desolado pelo assassinato de um amigo, vai por conta própria a Beverly Hills investigar o crime.
Inserida em um ambiente policial, a trama sintetiza a comédia de ação. Formula um híbrido de dois gêneros, trazendo o melhor de dois mundos em uma época em que os gêneros ainda eram separados com rigidez.
Muito do sucesso deve-se a Murphy, bom naquilo que faz: um personagem falastrão que sempre sai de situações absurdas por conta de histórias mirabolantes. Um estilo que estigmatizaria Murphy, perseguindo-o até hoje em sua carreira em baixa.
O papel de Foyley foi composto especialmente para o ator. Ainda que, antes de sua contratação, diversos atores fossem imaginados para a personagem. Até mesmo Sylvester Stallone se interessou pela trama, desejando transformá-la em uma história de um homem com sede de vingança. Quando Murphy entrou na produção, o conceito da obra retornou ao ponto de partida: um filme de ação com humor.
Como a maioria dos filmes oitentistas, a história é simples, importando muito mais a maneira como ela é apresentada. Hoje parece inconcebível uma trama sem reviravoltas ou cenas épicas. Evidencia-se que a fórmula contemporânea exige maior agilidade e falsas surpresas do que a da década de 80 que, prezando pela simplicidade, executou muitas boas tramas.
Um Tira da Pesada justifica com excelência a fama de seu protagonista, além de se popularizar também pelo tema de abertura. Representa bem uma fórmula não mais utilizada no cinema, mas que, ao se hibridizar, manteve a originalidade que muitos filmes contemporâneos não são capazes de produzir.