Crítica | A Trama
O Senador Charles Carroll, interpretado por William Joyce, é o ideal do político, incorruptível, mas comprometido com o povo do que com um partido… Aos olhos da opinião pública é desenhado como um imponente e onipotente herói, e talvez por isso tenha sido alvejado por um vil assassino, para assim entrar na história, semelhante demais ao paralelo real à execução de JFK. O topo do prédio onde acontece o crime é altíssimo e simboliza o inalcançável posto onde o “semi-divino ser” pereceu, para tornar a sua figura a de um mártir.
A negligência do jornalista/protagonista Joseph Frady, interpretado por Warren Beatty, é demonstrada em dois momentos importantes, primeiro, o de não ter podido presenciar a morte do Senador Carroll, pois deveria cobrir o evento, mas não fora, e segundo, ignorou o apelo da testemunha (e sua amiga) Lee Carter – Paula Prentiss – que pedia ajuda a ele, por achar que sua vida corria perigo. Frady não se afetou com o pedido e só voltou sua atenção ao seu testemunho após sua morte, o que demonstra sua falta de escrúpulos e falta de sensibilidade, além da clara ausência de culpa em si. No decorrer das investigações, muitas pessoas morrem, inclusive pelas mãos do repórter, que parece ter pouco receio em se envolver nos crimes.
A conspiração se complica cada vez mais com o decorrer do filme. Os envolvidos no jantar em que o senador morreu vão perecendo um a um. Frady se “alista” em uma organização que prepara homicidas para fazer o trabalho sujo de quem os contrata, o que ia de encontro a sua teoria de assassinato do candidato morto. O modo de preparação dos assassinos é curioso e semelhante à lavagem cerebral, parecido com o tratamento aplicado a Alex em Laranja Mecânica, de 1971, três anos anterior a este A Trama.
Joseph se enfia em sarilhos atrás de sarilhos, ele passa a executar sem a menor cerimônia aqueles que atravessam os seus planos de alguma forma, mesmo os que pouco interferem. O personagem mergulha fundo demais na situação analisada, tanto que confunde o papel que deveria desempenhar, deixando de ser o portador e comunicador da notícia para se tornar parte dela, vestindo até a máscara do vilão, quando deveria ser o maior exemplo de conduta ética possível – sua ambição desmedida acaba por puni-lo e a ele é atribuída a culpa de crimes que ele sequer cometeu.
O desfecho não é tão intrigante ou auspicioso quanto o 1° e 2° atos, nem contém em si o mesmo nível de mistério, suspense e conteúdo conspiratório. Pakula ainda era um realizador cru, se comparado aos seus futuros sucessos de carreira, como Todos os Homens do Presidente, Dossiê Pelicano, A Escolha de Sofia, etc, mas, como um todo, contém mais acertos que equívocos por parte de sua produção.