Review | The OA – 1ª Temporada
The OA tem muita sorte, na verdade sorte não é a palavra mais correta, já que é um certo mérito, mas é de fato muito feliz de ter um esqueleto narrativo interessante, porque se dependesse do restante… Séries se vendem pelos seus pilotos, é o episódio mais importante de qualquer produção seriada, é ele que apresenta personagens, narrativas, plot e ainda instiga. Essa é sua função. E passar do piloto de The OA não foi nada fácil. Os outros sete episódios deixam bem claro que os problemas se estendem por toda a temporada e a culpa não é o possível desinteresse de quem assiste.
Prairie é uma mulher cega que desapareceu durante sete anos, sem pistas, e que retorna com a visão misteriosamente recuperada, cicatrizes nas costas e se denominando a OA. Ela decide reunir um grupo de cinco pessoas para contar sua história e com isso entramos numa rede de temáticas, desde ficção-científica ao metafísico-espiritual.
Para clarear as coisas, a série tem um saldo positivo, conquista e constrói engajamento, mas como já dito, tudo por causa da ideia que se passa, não pelo todo. A estrutura narrativa é falha demais, enquanto não expõe quase nada e gera infinitas questões, também verbaliza situações e exagera na explicação super expositiva. Enquanto faz personagens terem arcos sobrando (como uma paquera no colégio, por exemplo), outros ficam completamente deficientes de tridimensionalidade ou informações.
O roteiro e a montagem também não conseguem distribuir as narrativas, são blocos extensos que te fazem esquecer do outro e vice-versa, e de repente o tédio já é presente e um maior interesse em um do que no outro também. Não há fluidez e várias vezes falta ritmo. A personagem principal frequentemente deixa de ser uma personagem e passa a ser a materialização de um desejo da série de ser pedinte e isso nos tira um pouco da imersão, e por fim, a série tem um desequilíbrio gigante em criar mais questões do que respostas, longe do público querer tudo na mão, mas a sensação que fica é que mistérios são mistérios apenas por serem, e não há muita recompensa do lado de cá. Resta esperar o que está por vir, em cegueira.
Mas calma, que bela história. Não aparece ideias tão interessantes assim faz tempo, toda a “mitologia” criada é instigante e nas horas mais difíceis é o que nos mantém presos aos episódios. É um plot visivelmente pensado com carinho e cheio de camadas que nos fazem se interessar mais e mais e ficar encantados quando aos poucos podemos ver certos potenciais e caminhos. A câmera é muito boa e a melhor amiga da própria história quando ajuda a contá-la. Nos dá informações preciosas em planos simples e cria atmosferas pontuais, junto com uma fotografia muito chapada, clara e bonita.
A música é boa e certeira para criar grandes momentos, as atuações são funcionais e as personagens transmitem relacionalidade apesar do roteiro desequilibrado. The OA cumpre o papel de ser entretenimento na maior parte do tempo, falha na estrutura seriada, traz ideias incríveis e temáticas carregadas de potencial, consegue ser diferente como parece querer ser e isso acarreta em muitos mind blowings, mas precisa melhorar bastante para ser de toda boa.
Não conquista à primeira vista, mas às vezes o que importa é que toca lá no fundo, e quanto toca…
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Texto de autoria de Felipe Freitas.