Crítica | Iverson
O documentário Iverson começa em uma quadra, cheia de crianças, com o câmera perguntando para elas quem é Allen Iverson, e eles discutem um pouco de quem ele é, de sua origens e como foi sua trajetória profissional, falando da época universitária, na NBA e um pouco sobre sua passagem na Europa. Nos primeiros momentos do filme o ícone anuncia sua aposentadoria, na Filadélfia, em Outubro de 2013, e segundo as falas do próprio documentário, ele era o mais popular jogador da China pós Michael Jordan. O filme de Zatella Beatty se dedica a discutir quem ele era em quadra e fora de quadra, e o legado que deixou pós aposentadoria.
Não demora a retornar a Newport, Virginia, onde o mito se originou e onde o chamavam de Bubba Chuck. O documentário é bem quadrado e normativo, seu formato não ousa muito, fala um pouco sobre o passado do biografado, toca uma trilha sentimental que manipula um bocado as emoções do espectador e neste início,o que realmente vale nota é que ele era fenomenal no futebol americano também, e manteve uma carreira colegial vitoriosa e quebradora de recordes em ambas modalidades quando ainda estava
Gasta-se um tempo demasiado explorando a primeira prisão dele e o julgamento em corte que quase inviabilizou sua carreira. Do ponto de vista prático, há pouco a acrescentar esse extenso trecho, que poderia facilmente ser encurtado para uma pequena nota. Gasta-se mais tempo nisto que na parte que discute a origem humilde e a falta que fez o pai tê-lo abandonado, e isso pesa na produção que tem quase 90 minutos de duração. É inegável que é importante contextualizar todo imbróglio, até porque ele só saiu da prisão graças ao perdão do governador. Ao menos, a ponte para a apresentação de John Thompson como um de seus mentores na faculdade é bem pavimentada. As declarações do mesmo e das pessoas próximas garantem que se não fosse o técnico, dificilmente ele teria se dado bem na Georgetown University, e dificilmente seria draftado como primeira opção de 1996 do Philadelphia 76yers.
Toda a morosidade anterior aos 40 minutos de exibição é compensada quando ele finalmente age na NBA, e mostra ser exímio demais em Crossovers, e obviamente que o Beatty foca bastante nos confrontos que ele fez com Michael Jordan, quando batia bola tão rápido na frente do melhor jogador do mundo e o deixava sem reação, quando ainda era calouro, e isso o fez ser eleito o melhor novato do ano, fato que jamais havia acontecido da Filadélfia.
O maior legado do armador fora seu jogo diferenciado e obviamente sua habilidade de jingar e trazer qualquer adversário para sua dança, era o estilo Thug Life e a mentalidade do movimento Hip Hop que trazia para os holofotes da ribalta esportiva. Por mais que tivesse problemas anteriores com a lei, ele incutiu na cabeça de muitos meninos jovens da periferia americana que seus estilos de vida não eram errados, e que poderiam vencer, claro que tudo isso passava por uma ideia de consumismo, mas não há o que condenar em relação a isso, pois boa parte deles vivia por curtos períodos de tempo.
O que não condizia muito com conduta exemplar, eram as acusações de porte de arma ilegal e suposto uso de drogas, ainda que essas acusações nos tribunais também não prosperassem. A realidade é que ele abriu a possibilidade para muitos jogadores semelhantes a ele, não só casos como o de Carmelo Anthony, mas também outros jogadores famosos se sentiram bem para se tatuar e para fazer de seus corpos exatamente o que quisessem. Apesar de falar um pouco sobre a indisciplina dele, o filme é condescende e chapa branca, parecendo uma mera obra encomendada.
Iverson dedica pouco tempo a derrocada de Allen, mas que a cineasta ratifique o quanto a ligação dele com seu time inicial era forte, e como a curva descendente de sua carreira ocorreu graças a erros de escolha do mesmo. Ele poderia ter sido muito maior do que foi, mas isso não o faz parecer um derrotado, uma vez que teve um auge físico por muito tempo, diferente de outras figuras do esporte vistas como desperdício de talento e de potencial, como foi o centro-avante Adriano Imperador no Flamengo e Internazionale de Milão. Iverson era diferenciado, marcou época, ditou moda de uma maneira tão grande que a NBA precisou fazer sanções para que os jogadores usassem roupas mais formais nos preparativos para os jogos, fato que até hoje é muito polêmico, e descaracteriza boa parte dos jogadores. Por mais que o filme de Beatty seja aquém da figura do biografado, é fato que Allen foi um dos mais importantes jogadores e figuras do basquetebol americano.