Tag: NBA

  • Review | Arremesso Final

    Review | Arremesso Final

    Considerando  o que foi a carreira de Michael Jordan,  é uma pena mesmo que Arremesso Final, série conduzida por Jason Hehir, não pôde ser lançado no Brasil com seu nome original: Last Dance. Ainda mais quando seu significado se alinha com a fala de um dos personagens principais dessa narrativa, o treinador hexacampeão Phil Jackson do Chicago Bulls. Apesar da obra retratar em grande parte a ótica de Jordan, seu foco narrativo também mira o ultimo título do time na temporada 97-98 e também viaje por outras eras, intensificando o documentário.

    O decorrer da temporada referida foi inteiramente acompanhada de câmeras e o gigantesco material bruto ficou parado durante um bom tempo. Somente em 2016,  Jordan permitiu que a ESPN editasse este residual bruto como um documentário especial que seria lançado em 2020, após as finais da NBA. Com a pandemia de Covid-19 e a consequente paralisação da liga, o lançamento foi antecipado para o momento dos playoffs, e isso causou um rebuliço entre jogadores, tanto atuais como aposentados, personagens do seriado ou não, comentando em tempo real cada episódio via twitter.

    Após a repercussão do seriado, muitos personagens se acharam injustiçado. Scottie Pippen achou seu retrato vaidoso e egoísta. Horace Grant não gostou das falas de MJ sobre drogas nos vestiários dos Bulls quando era novato. Aos poucos, os 10 capítulos mexem no vespeiro das polêmicas da vida de Jordan e de outras figuras como Pippen, Dennis Rodman, Jackson, e Steve Kerr. Apresentando não só as quadras e os vestiários mas humanizando-os, explorando seus vícios, como o excesso de apostas de Jordan. Sobre esse tema, a forma como o assunto é abordado é bem delineado, divertido mas sem retirar a gravidade das situações.

    Mesmo sendo parcial, a série não é maniqueísta. A figura do protagonista não é heroica. Varia entre o astro incontestável, a marca inócua e o homem incapaz de se posicionar politicamente. Por mais que todo o documentário seja a parte de Jordan sobre sua vida e carreira, apresenta alguns lugares escuros. Até mesmo com figuras mais vilanescas, como o General Manager Jerry Krause demonizado sem qualquer pudor.

    Já quando se explora a temática de Rodman, não há tanto aprofundamento, até porque há duas obras que lidam bem com esse assunto, também lançadas pelo canal ESPN – Rodman for Better or Worse e o documentário sobre o time dos Pistons, Bad Boys. Os perfis de Pippen e Jackson também são bem explorados embora nesse segundo há exageros ao compará-lo com Rodman. Fora isso, o estudo é bem feito, embora se sinta falta de Toni Kukoc, provavelmente por culpa da pandemia e consequente antecipação do show.

    A construção de Krause como personagem malvado passa por deixa-lo em situações vexatórias. Ao apresentar Jackson como treinador principal (era antes auxiliar) aparece desconfortável e reclamando do vazamento da notícia, surpreendendo até o novo treinador. Neste trecho é exibido uma problemática da versão brasileira com legendas criativas em excesso que nada tem a ver com o original. Bem como piadas que não se adequam como quando Pippen e Jordan falam que os jogadores estavam bebendo e a legenda apresenta a frase “se viessem aqui antes veriam metade dos manos matando um engradado”. Além de se usar termos jamais falados em português brasileiro como cestobolista. Apesar de engraçados, os momentos desviam do texto original. Fora isso, o manager é normalmente apresentado como inepto e tolo. Como faleceu em 2017, nem mesmo pode se defender.

    O desenrolar da rivalidade com o Detroit Pistons de Isiah Thomas, as polêmicas do Dream Team e a construção da marca Air Jordan também são muito bem exploradas. São assuntos tão ricos que poderiam gerar cada um deles um filme solo. A mentalidade super higiênica da campanha Be Like Mike é tratada como se deve: algo problemático, digno de discussão, inclusive nas falas de Barack Obama, que também tem a máscara de genro ideal que Jordan tinha, ainda que o antigo presidente se posicionasse bem mais que o jogador, inclusive criticando-o por não se pronunciar a favor de um candidato negro ao senado para não desagradar os Republicanos.

    Hehir acerta ao mostrar os momentos que MJ pensava em se aposentar. Talvez se tivesse mais tempo ou mais capítulos disponíveis, poderia explorar um pouco sobre como foi sua vida pós segunda saída do Bulls, como quando foi general manager e jogador pelo Washington Wizards ou como dono do Charlotte Hornets, momento em que deixou sua vaidade falar mais alto. Também poderia ter expandido um pouco mais a paixão dos Jordan pelo baseball ou desenvolver a época quando ele jogava no ensino médio. Ao menos se explora bastante os bastidores de Space Jam: O Jogo do Século, inclusive em seus momentos jogando durante a paralização da Liga, logo depois de largar divisões inferiores da Major League Baseball.

    O último episódio foca demais no embate entre Jazz e Bulls. Fala das indiscrições de Rodman, das brigas com Krause e da participação de Kukoc. A sensação ao final é que era necessário que o grupo parasse de jogar. Além de caros, era exaustivo o processo de manter a dinastia. Michael declara que é enlouquecedor sair no auge, mas manter esse nível de cobrança mental e física era igualmente desesperador.

    Arremesso Final termina positivo, otimista e valorizando as vitórias de Jordan. Mesmo com seus olhos marejados, mesmo que não se mostre quase nada de sua vida pessoal, mesmo que ele seja uma figura absolutamente misteriosa e calada pós aposentadoria. Toda essa aura de mistério torna o esforço investigativo ainda mais importante e mais divertido pelo caráter inédito do material.

  • Crítica | Iverson

    Crítica | Iverson

    O documentário Iverson começa em uma quadra, cheia de crianças, com o câmera perguntando para elas quem é Allen Iverson, e eles discutem um pouco de quem ele é, de sua origens e como foi sua trajetória profissional, falando da época universitária, na NBA e um pouco sobre sua passagem na Europa. Nos primeiros momentos do filme  o ícone  anuncia sua aposentadoria, na Filadélfia, em Outubro de 2013, e segundo as falas do próprio documentário, ele era o mais popular jogador da China pós Michael Jordan. O filme de Zatella Beatty se dedica a discutir quem ele era em quadra e fora de quadra, e o legado que deixou pós aposentadoria.

    Não demora a retornar a Newport, Virginia, onde o mito se originou e onde o chamavam de Bubba Chuck. O documentário é bem quadrado e normativo, seu formato não ousa muito, fala um pouco sobre o passado do biografado, toca uma trilha sentimental que manipula um bocado as emoções do espectador e neste início,o que realmente vale nota é que ele era  fenomenal no futebol americano também, e manteve uma carreira colegial vitoriosa e quebradora de recordes em ambas modalidades quando ainda estava

    Gasta-se um tempo demasiado explorando a primeira prisão dele e o julgamento em corte que quase inviabilizou sua carreira. Do ponto de vista prático, há pouco a acrescentar esse extenso trecho, que poderia facilmente ser encurtado para uma pequena nota. Gasta-se mais tempo nisto que na parte que discute a origem humilde e a falta que fez o pai tê-lo abandonado, e isso pesa na produção que tem quase 90 minutos de duração. É inegável que é importante contextualizar todo imbróglio, até porque ele só saiu da prisão graças ao perdão do governador. Ao menos, a ponte para a apresentação de John Thompson como um de seus mentores na faculdade é bem pavimentada. As declarações  do mesmo e das pessoas próximas garantem que se não fosse o técnico, dificilmente ele teria se dado bem na  Georgetown University, e dificilmente seria  draftado como primeira opção de 1996 do Philadelphia 76yers.

    Toda a morosidade anterior aos 40 minutos de exibição é compensada quando ele finalmente age na NBA, e mostra ser exímio demais em Crossovers, e obviamente que o Beatty foca bastante nos confrontos que ele fez com Michael Jordan, quando batia bola tão rápido na frente do melhor jogador do mundo e o deixava sem reação, quando ainda era calouro, e isso o fez ser eleito o melhor novato do ano, fato que jamais havia acontecido da Filadélfia.

    O maior legado do armador fora seu jogo diferenciado e obviamente sua habilidade de jingar e trazer qualquer adversário para sua dança, era o estilo Thug Life e a mentalidade do movimento Hip Hop que trazia para  os holofotes da ribalta esportiva. Por mais que tivesse problemas anteriores com a lei, ele incutiu na cabeça de muitos meninos jovens da periferia americana que seus estilos de vida não eram errados, e que poderiam vencer, claro que tudo isso passava por uma ideia de consumismo, mas não há o que condenar em relação a isso, pois boa parte deles vivia por curtos períodos  de tempo.

    O que não condizia muito com conduta exemplar, eram as acusações de porte de arma ilegal e suposto uso de drogas, ainda que essas acusações nos tribunais também não prosperassem. A realidade é que ele abriu a possibilidade para muitos jogadores semelhantes a ele, não só casos como o de Carmelo Anthony, mas também outros jogadores famosos se sentiram bem para se tatuar e para fazer de seus corpos exatamente o que quisessem. Apesar de falar um pouco sobre a indisciplina dele, o filme é condescende e chapa branca, parecendo uma mera obra encomendada.

    Iverson dedica pouco tempo a derrocada de Allen, mas que a cineasta ratifique o quanto a ligação dele com seu time inicial era forte, e como a curva descendente de sua carreira ocorreu graças a erros de escolha do mesmo. Ele poderia ter sido muito maior do que foi, mas isso não o faz parecer um derrotado, uma vez que teve um auge físico por muito tempo, diferente de outras figuras do esporte vistas como desperdício de talento e de potencial, como foi o centro-avante Adriano Imperador no Flamengo e Internazionale de Milão. Iverson era diferenciado, marcou época, ditou moda de uma maneira tão grande que a NBA precisou fazer sanções para que os jogadores usassem roupas mais formais nos preparativos para os jogos, fato que até hoje é muito polêmico, e descaracteriza boa parte dos jogadores. Por mais que o filme de Beatty seja aquém da figura do biografado, é fato que Allen foi um dos mais importantes jogadores e figuras do basquetebol americano.

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