No ano de 1966, Chuck Jones dirigiu uma das adaptações mais fieis a obra de Dr. Seuss, o famoso escritor infantil. O especial de televisão em curta-metragem de apenas vinte cinco minuto chama-se Como O Grinch Roubou o Natal é extremamente colorido, e mostra a terra dos Quem, a Quemlândia (Whoville) se preparando para a chegada das festas de fim de ano, com uma cantoria bem bonita, que conta com letra de Seuss e harmonia de Albert Hague.
Foi nessa versão que a criatura do Grinch foi mostrado como um ser verde, pois nos livretos, ele era sem cor. A maldade que o personagem dublado por Boris Karloff é um mistério, tal qual é na obra original, e a produção de Jones e Ted Geisel até teoriza o motivo dele ser assim, talvez por conta dos sapatos apertados, ou de ter um parafuso a menos, ou por ter um coração menor que o da maioria.
O fato de não responder a tudo é uma escolha brilhante do roteiro de Irv Spector e Bob Ogle (que nos créditos, são marcados como escritores de historia adicional e não como roteiristas, de tão fiel e com poucos acrescimos que é o texto), pois para as crianças, não é necessário saber de absolutamente todos os detalhes das historias de contos de fadas preferidos. Seuss nunca subestimou seu leitor, sempre o tratou de igual para igual mesmo que a idade do público, seja leitor ou espectador fosse diferente da sua e esse talvez seja o maior diferencial desta versão para a de Ron Howard e Jim Carrey e ainda mais a da Illumination, que é feito claramente para vender merchandising, algo que vai no inverso da ideia central das obras do escritor.
O natal que Seuss pinta é uma desconstrução do consumismo desenfreado, aliás esse talvez seja um dos motivos pelos quais protagonista odeie tanto a época natalina, pois o lugar comum sobre o natal mostra todos comemorando com uma alegria fabricada, fazendo uso de uma felicidade comprada em prestações e regada por presente de uma figura mitológica que sequer existe. Grinch não é menos mesquinho que qualquer Quem, ele utiliza Max, seu cachorro como escravo, seja na confecção da roupa de Papai Noel, como também para conduzir o trenó, uma vez que as renas já estão extintas na literatura.
Sendo detestável, o ser maligno rouba não só os presentes, mas também os biscoitos, as fitas, embrulhos, material de decoração, absolutamente tudo e diferente das outras versões, os Quem aqui são inofensivos, só vivem suas vidas, não fazem mal a ninguém, ele só faz isso porque quer fazer, porque sente algum tipo de prazer em subtrair alegria. Mas a surpresa do personagem principal é notada após a cantoria dos habitantes da vila, quando eles continuam cantarolando os versos natalinos, mesmo sem ter os presentes para tocar, ou sem fitas, etiquetas e embrulhos.
Seuss pensa sobre as datas festivas de maneira profunda, mas não sente qualquer anseio em mastigar isso para as crianças, ou fazer juízo de valor de maneira gratuita. O Grinch evolui sozinho, sem lição de moral, mostrando uma redenção sentimental, que simboliza o crescimento de seu coração e claro, retorna os presentes e as comidas, para enfim celebrar as festividades que simbolizam a união das pessoas e dos povos como jamais havia feito. A tradução que Jones e Geisel acerta por ser bem literal mesmo, já que o sub texto é melhor digerido pelas crianças e adultos quando se permite a eles consumirem ele puro e sem firulas. A tolice de querer colocar sub tramas e encheção de linguiça é pura futilidade e de certa forma, mata a ideia de Seuss de falar sobre festas e como reagir ao consumom criticando-as de maneira simples e direta como o livro faz milimetricamente.