Em 2011, vazou na internet o piloto do seriado da Mulher-Maravilha, cuja continuidade foi interrompida graças a uma série de motivos ligados à franquia do Batman de Chris Nolan e também por interesses financeiros. Inacabado, o episódio inicia-se sem qualquer introdução, mostrando uma correria desenfreada sem necessidade de explicações, já que seria igual a tantas histórias isoladas da heroína abençoada pelos deuses gregos.
O draminha particular envolvendo Diana Prince – feita pela voluptuosa Adrianne Palicki, chamada por fanboys de “gorda” – envolve alguns problemas de concepção. Em torno de sua personagem correm algumas questões familiares, apelando-se para o clichê da pobreza econômica extrema para sensibilizar o público, seja ele qual for.
As cenas de ação são muitíssimo mal acabadas, justificadas, evidentemente, pelo original jamais ter sido lançado oficialmente, visto que não havia verba para investir-se em efeitos especiais. Mas mesmo ignorando os cabos, os embates físicos são demasiadamente toscos. O grupo de brutamontes que vai encarar a heroína é composto por indivíduos bombados, todos unidimensionais. Há total ausência de vilões bem construídos, mesmo com Elizabeth Hurley (ainda em forma) fazendo uma Veronica Cale tão insossa que lembra a vilã vivida por Sharon Stone em Mulher-Gato. Tão mal construído quanto a vilania de Cale é o namorico mal resolvido da protagonista: além de não ter qualquer química com seu par, a heroína ainda vive uma D.R. das que mais dão vergonha alheia, mesmo se comparada com o show de horrores do piloto inteiro.
A falta de identidade pode ser encarada como o maior inconveniente da produção, já que alguns pontos apelam para o nerd típico, que adora moças de collants coloridos correndo atrás de bandidos; mas a série também tenta angariar o público feminino, apresentando uma discussão sobre feminilidade contra feminismo, mas sem fundamentar o argumento, não sendo nem panfletário e nem crítico ao movimento. Analisando o texto final – se é que se pode chamar assim o roteiro -, é fácil imaginar o motivo de terem dado fim ao seriado antes mesmo dele ir ao ar.
A discussão sobre a sexualização do personagem é rasa até quando tenta resgatar invertidamente as histórias dos anos 40, quando o fetichismo imperava. As bonecas da heroína não poderiam ter seios tão avantajados, no entanto a vigilante usa um bustiê que quase estoura as mamas na tela. Em determinado momento, num hospital, um policial baixinho quase brinca de gaita de foles com as peitolas da moça.
Apesar da participação de Adrienne Palicki na produção ser ótimo para a figura da amazona em 2014, não parecia ser na época. Certamente, suas curvas são mais aceitáveis que a magreza descomunal de Gal Gadot; seu talento dramatúrgico é baixo, como o da israelense, mas o fator que certamente preponderou para a retirada da atriz do páreo certamente foi o seu envolvimento com esta fita.
A condução de Jeffrey Reiner é equivocada demais, em alguns momentos parece até lembrar a direção dos episódios de Power Rangers nos anos 90. No entanto, a culpa da produção não ter dado certo é compartilhada com seu produtor e roteirista David E. Kelley, que em momento algum conseguiu emular nenhum dos bons momentos, nem dos idos de 1940, nem da reinvenção de George Perez no pós-Crise das Infinitas Terras, tornando a esquete completamente genérica e de mal gosto.