Trazendo um pouco de inutilidade cultural para o Vortex Cultural, acompanhamos o final de semana na CCXP – Comic Con Experience, nos dias 03 e 04 de dezembro. Apesar de algumas missões designadas pelo coronel não serem cumpridas, no decorrer desse texto será possível entender os motivos de algumas tentativas infrutíferas de gerar conteúdo relevante para os leitores.
Psicologicamente preparados para filas de espera como no ano anterior, chegamos com antecedência na concentração para entrada do evento. Não importa se é sua primeira vez no evento, ou se é apenas mais um dia do pacote de 4 dias e com uma experiência nos anos anteriores; você vai sentir, mesmo que por simpatia, a excitação e a ansiedade que permeia a multidão aglomerada nas portas. Uma variedade de pessoas, estilos e interesses que, de forma alguma, pode ser tachada ou generalizada como erroneamente a mídia da massa faz parecer. E por mais deslocado que você se sinta habitualmente, essa espera faz com que você se sinta parte de uma multidão que, naquele momento, se torna comum.
Horas de espera e tempo morto são recompensados às nove da manhã, quando todos são liberados de suas filas organizadas e definidas para uma caminhada até a entrada principal do evento. E assim se descobre a primeira grande fila. Desorganizada, mas ainda assim prazerosa. Poucas coisas superam a antecipação de uma espera prestes a chegar ao fim. E é nesse ponto que as diferenças entre os grupos se faz mais claro. Tempo demais de espera envolvido por pessoas com interesses no mínimo semelhantes vai gerar uma troca de ideias e informações muito grande.
Primeiramente podemos falar das diferenças de poder de aquisição dos envolvidos. Se você escolheu o pacote mais acessível, você esta nessa fila absurda que te dará acesso às dez da manhã. Já o pacote mais (e bem mais) caro te dá um acesso antecipado e alguns outros benefícios. Mas entre todos esses envolvidos, abastados ou não, temos as diferenças entre colecionadores, curiosos, “empreendedores” (explico mais tarde), artistas aspirantes, fantasiados e aqueles que não sabem como foram parar ali. Parte vital do evento, essa diversidade é a engrenagem principal do alvo do investimento de tempo e dinheiro dedicados nesses dias. O consumismo descontrolado.
Esse que vos escreve, necessário fosse, se posicionaria entre os colecionadores que se envolvem nesse evento por uma oportunidade de exclusivos, raridades e sorte. Sempre há a possibilidade de se esbarrar em um estande mais separado com uma peça de difícil acesso, e que você talvez apenas tenha ouvido falar algum dia. Porém, qualquer que seja sua classificação, você está ali para consumir algo. Conteúdo, novidade, tempo com uma personalidade, conhecimento, bens, tudo que se possa desejar tem um preço. E ao leitor desinformado um aviso, nenhum preço é barato. Não é um lugar que foi feito para te fazer economizar ou poupar. Se você tem um propósito, qualquer que seja, vai lhe custar.
Em um balanço posterior, pode-se afirmar que o maior consumo no interior do evento é tempo. Se você é colecionador, pode-se esperar horas e horas em filas. Sim, no plural. Será leviano um colecionador que deseja uma peça exclusiva acreditar que a única fila que ele vai enfrentar será a de venda. As peças são limitadas, assim como seu tempo. Você, nesse ambiente, precisa estar preparado para investir pesado em um desejo. Madrugar nas portas para ser o primeiro a entrar? É válido. Só não esqueça, colecionador, ou simples amante de fotografias e atrações, que existe a opção de se pagar a mais por uma entrada antecipada. E essas pessoas já estarão lá dentro com seus lugares e itens garantidos. Bem vindo à Comic Con n Queue EXPERIENCE.
Fantasias e cosplayers. Normalmente são um ícone e uma característica de eventos como esses. Para quem vê de fora é uma atração a parte, para os envolvidos é uma arte e um modo de ser representar. Como todas as atividades têm-se aqueles dedicados e perfeccionistas, mas também temos as pessoas desleixadas e que simplesmente se divertem. De qualquer forma, é algo a ser admirado e vale a pena. A quantidade e variedade de personagens com que se cruza são absurdas e cativantes. Sempre com um sorriso, uma foto e algo de positivo a se dizer, são admiráveis a raridade de mesquinhez, preconceitos e desagrados que se encontra em meio a tantas pessoas se trombando, competindo por espaço e atenção.
Um adendo pessoal de um leigo apreciador de cinema. Senti-me impressionado como uma obra tão fraca como Esquadrão Suicida, com personagens pouco cativantes e uma pífia representação de um grupo pouco expressivo pode gerar um furor tão grande entre jovens adolescentes, adultos e inclusive respeitáveis senhoras (e rapazes, como se esquecer dos rapazes) a se vestirem como sua personagem feminina principal. Traumático em certos momentos e agradável em outros, só penso em como o mercado de bastões de beisebol se aqueceu nesse ano com Negan e Harley.
Artist Alley como sempre é um show a parte. A quantidade de talento por metro quadrado é gigante e assim como nos anos anteriores, contou com nomes renomados e já consagrados em suas mais diversas representações de tão digna arte. A grande maioria está sempre prestativa para conversar e te dar um autógrafo, infelizmente nos deparamos também com alguns egos inflados e olhares vazios. Miudezas que não diminuem em nada a beleza e a satisfação que podemos encontrar nesse ambiente. Os três painéis que serão apresentados no site foram de artistas presentes no Alley e que, cada um de sua forma, transbordaram conhecimento em uma hora e meia cada de apresentações.
A Disney dedicou-se a divulgar, em seu espaço gigante, os seus próximos blockbusters, com apresentações de trailers e eventos temáticos de Rogue One, Piratas do Caribe e Guardiões da Galáxia. Uma dedicação extraordinária do staff para divulgar obras que, independente de qualidade, irão gerar bilheterias enormes. Pouco há a se dizer além do que grande parte da mídia se compromete a dizer e repetir incansavelmente.
Para aqueles admiradores da fina arte japonesa, há estandes enormes dedicados à venda e publicidade de obras já renomadas que são relançadas em território nacional, também há um espetáculo a parte de demonstração de valor por parte das distribuidoras das obras. Completando trinta anos de lançamento, a franquia Saint Seiya recebeu atenção especial por parte do evento. Um estande impressionante apresentava ao público amante de tal franquia coleções já conhecida e futuros lançamentos de colecionáveis. Não suficiente, apresentava as conhecidas armaduras de ouro em tamanho real e completas. Um deleite para aqueles que cresceram sem nunca imaginar que veriam algo de um universo fantástico tão próximo do real.
Aos painéis será dada atenção mais especial, pois o que se pode absorver não é tão genérico, sendo voltado bastante a um publico de interesse mais especifico.
Em conclusão, o que se pode dizer sobre esses dias? Filas intermináveis? Sim. Horas e horas “perdidas” por uma assinatura ou uma peça exclusiva? Também. Mas nada desanima aqueles que encontram nesse evento diversos momentos dedicados à paixões tão particulares e peculiares. São momentos em que o pai, a mãe, os avós (e muitos deles estavam lá) e o garoto mais introvertido, podem se “tornar” os seus heróis e vilões favoritos, esquecendo-se de que devem algo além de seriedade para uma sociedade pouco tolerante e, sejamos sinceros, preconceituosa.
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Texto de autoria de Lucas Nunes.