A versão da Netflix para Saint Seiya: Cavaleiros do Zodiaco finalmente retorna para uma parte 2 (ou, segunda temporada como agora é chamada no serviço no Brasil), contando com uma premissa estranha, de que a reencarnação de Atena em Saori Kido seria acompanhada de uma maldição que permitiria a vitoria de Poseidon e Hades, fato que prossegue tendo pouco sentido, já que os cavaleiros de prata e de ouro não deveriam se insurgir contra ela, mesmo que haja muito burburinho sobre isso.
O inicio do episodio sete (que vem a ser o início da temporada) tem uma versão muito boa para Pegasus Fantasy. Este trecho também é composto por seis capítulos, mostra Misty de Lagarto e Marin de Águia perseguindo os bronze boys, que supostamente morreram após o embate com Ikki de Fênix, ao menos é o que os vilões pensam. Tal qual foi visto no Mangá, que não possui todos os fillers de Dócrates ou dos Cavaleiros Fantasmas de Jisty.
O que realmente incomoda na animação é em como os personagens digitais parecem apenas bonecos de CGI são estáticos na maioria das vezes. O máximo de movimentos comuns neles são os olhos e pálpebras, alem dos membros inferiores e superiores. É uma pena que se imite de algum modo as regras de animações antigas que repetem muitos quadros e movimentam o mínimo dos personagens para baratear, embora isso não faça muito sentido em modelagem 3d. O exemplo mais evidente são os cabelos e Misty, que parecem bananas coladas na cabeça do sujeito. Para piorar os golpes dos guerreiros continuam com efeitos genéricos e com menos impacto até em comparação ao anime da saga dos Cavaleiros do Zodíaco – Saga dos Cavaleiros de Prata.
As teorias da conspiração e a divisão dos cavaleiros de ouro em dois grupos – contra e a favor da Atena reencarnada no bebê Saori – também não tem sentido algum. O combate de Capricórnio e Gêmeos (onde sequer aparece a face dos dois, como se ninguém soubesse que são eles Shura e Saga respectivamente) contra Aioros de Sagitário é genérico ao extremo, e outros aspectos do roteiro também ficam soltos, como a crença cega de Marin em Kido.
A questão dos cavaleiros de bronze como escolhidos é quase tão mal pensada quanto o maniqueísmo pesado a respeito das divindades Hades e Poseidon, sendo mais encaradas como malvadas que no anime original e no mangá. Quanto a versão nacional, a dublagem contem um número de gírias muito grande, numa imitação bem fraca do visto nos anos noventa com Yu Yu Hakusho. Há uso até de palavrões, fato que não faz qualquer sentido já que é um produto para crianças.
A questão das armaduras ficarem dentro de dogtags é um utilizada de um modo um bocado estranho, assim como o desenrolar da questão envolvendo a real identidade de Marin de Águia. Há ainda o problema dos heróis lutarem sem elmo, e a animação de encaixe ser extremamente porca e preguiçosa, com apenas algumas partes colando nas proteções maiores.
O retorno de Ikki é abrupto, apesar de triunfal, mas é mal encaixado, as lutas continuam fracas, sem clímax. O temor dos humanos contra os deuses, cujo avatar é Guraad também é mal explorado, mais preso em arquétipos rasos inclusive em comparação ao já infantilizado roteiro original de Masami Kurumada. Ele apela para a formula de 007, onde o antagonista conta todo o plano para o seu opositor, nesse caso, a deusa.
A crença de Seiya em Saori consegue ser mais mal encaixada até que em A Lenda do Santuário, pois ele a adora independente dele acreditar ou não que ela é a reencarnação da deusa protetora da Terra. A redução de valores sai de um anime que sempre valorizava sentimentos fraternos e de amizade para uma motivação puramente romântica e esse só não é o aspecto mais negativo desta segunda temporada graças a escolha de um vilão tão anti climático e batido para este trecho, reforçando uma ideia que já não foi boa na primeira parte e que piora aqui pela reutilização. O futuro de Cavaleiros do Zodíaco – Saint Seiya não parece promissor, nem sequer com a aproximação da saga das 12 casas zodiacais.
Sempre que o mundo precisa de proteção, a deusa grega da sabedoria reencarna, e com ela, vem uma geração nova de protetores se seu legado, os chamados Cavaleiros do Zodíaco, e no remake em CGI da Netflix em parceria com a Toei Animation não é muito diferente, fazendo a obra se aproximar mais da mais recente adaptação A Lenda do Santuário do que das outras contra partes animadas.
Após uma breve introdução, Os Cavaleiros do Zodíaco: Saint Seiya começa seu drama inédito, bem diferente do visto no anime clássico durante a saga da Guerra Galáctica, e claro, do mangá. Os irmãos Seiya e Seyka aparecem juntos, e ela pressentindo o mal, acorda o rapaz. Já no epílogo aparecem diferenças cabais, da predestinação do protagonista inclusive, e não demora muito a mostrar o futuro Saint de bronze mais velho, de skate, fato que causou uma raiva desnecessária nos fãs e otakus.
A maior parte das mudanças mora no antagonismo entre Mitsumasa Kido, que está vivo, com seu antigo parceiro, Vander Guraad, que é um vilão que vai atrás de algumas pessoas especiais. Foi ele que ataca Seiya. Uma boa parte do piloto dedicado as explicações, e é bem legal a ressignificação dos cavaleiros de aço introduzidos no anime, como vilões. A trama de espionagem faz a parte mitológica perder um pouco de sem sentido, mas as adaptações de idade dos cavaleiros em treinamento fazem muito mais sentido aqui do que no original
As mudanças drásticas nos detalhes do treinamento não ferem a essência do roteiro de Masami Kurumada, claramente o tempo de preparação do cavaleiro é bem menor, as amazonas não necessariamente usam máscaras – Marin usa, mas Shina, não – o que realmente incomoda é que a equipe de produção aderiu a uma moda em voga graças a Marvel, abolindo os capacetes, como os heróis que lá não usam máscaras e não tem identidade secreta, e em vista que uma das diferenças, é que o torneio dos cavaleiros de bronze é secreto, seria natural esconder a identidade dos cavaleiros, e seria natural também proteger a cabeça dos mesmos. Aioria usa capacete, porque o Pégaso não usa frequentemente não tem sentido algum. Algumas artes mostram os cinco personagens centrais com capacetes, não se sabe se eles aparecerão nas versões novas das armaduras após Mu mexer nelas, ou se só ignoram isso.
Outras mudanças cabais são o uso constante da tecnologia, e alguns rumos que antes eram sugeridos e aqui são mais explícitos, como o fato de Shina aparentemente não ter sua armadura ainda (ou é isso, ou a mesma está escondida). As batalhas do tal torneio são bem curtas, exceção as que envolvem mas de um dos cavaleiros principais, e mesmo a mudança de sexo de Shun para Shaun é bem menos agressiva que o esperado. Claro, essa mudança passa por cima de alguns elementos importantes para o Shonen, é ridículo evidentemente que o mais delicado e poderoso dos cavaleiros tenha se tornado mulher, para encurtar caminhos de sensibilidade. A dublagem brasileira inclusive chama mais a personagem de Shun do que o novo nome, no entanto toda a raiva pela mudança já havia sido digerida pelos aficionados no anúncio anterior.
As reclamações de infidelidade ao material original até podem ser levadas em conta como reclamações válidas, mas não as mudanças de narrativa, ora, se era para ser algo literalmente igual, era mais fácil assistir as reprises, e os novos elementos dão um frescor a esta versão. Claro que só se pode ter uma noção se a essência do desenho original será ou não violada serão a partir da possível parte dois.
Os seis episódios iniciais dão apenas um panorama inicial do que será, e talvez o desastre virá depois. Seiya, Shiryu, Hyoga e Shaun são bem diferentes de suas contra partes de anime e mangá, tem algumas boas semelhanças, mas seus traços de personalidades são diferentes, e a verdade é que cada adaptação de personagem famoso tem sim suas diferenças, o Super Homem de Christopher Reeve, George Reeves, Tom Welling, Dean Cain e Henry Cavill tem diferenças cabais entre si, e é natural, o tempo, a platéia e o ideal dos diretores e criadores influi nestas versões, assim como ocorre aqui.
Alias, a motivação maligna do Santuário é bem explicada, com uma suposta profecia de que dessa vez, Atena teria vindo a Terra para a desgraça da humanidade. Se isso é um engodo vindo a partir do Mestre do Santuário, ou de alguém que o está manipulando, não se sabe, afinal é só a gênese da jornada, mas tecnicamente tudo faz sentido. A animação é fluída, as lutas emocionantes apesar de curtas, e Saori Kido é uma deusa encarnada bem mais inspiradora que a original, essa mudança.
O que realmente soa risível é a união de Ikki de Fênix a Guraad, e o combate com os cavaleiros negros, por mais que a ideia deles não serem cópias dos heróis seja boa, há uma fragilidade de concepção bem agressiva. A mudanças mais problemática reside no fato de ser muito curta a jornada, e dela não ter um fim factual, o que é uma pena. Sexto episódio termina de maneira anti climática, com aparições de personagens clássicos não em formato de cliffhanger de season finale, e sim como complemento de um episódio qualquer que está em vias de chegar, mas que evidentemente não chegará.
Não há ainda previsão de uma parte dois, mas o que se viu até aqui é uma série com bons momentos, boas lutas, com transições de intervalos bem bonitas mas que ainda tateia para encontrar sua identidade, tendo pouco receio de se desapegar do material original e ainda assim melhorando e muito boa parte dos equívocos que Kurumada pensou para a saga, modernizando o tema e inserindo muitos elementos novos na formula, que podem ou não estragar a aura de magia da lenda dos cavaleiros de Atena. É esperar para concluir, mas o que se assistiu até aqui é bem palatável e quase nada ofensivo ao contrário do que se supunha.
Depois que analisamos as sagas do Santuário – Guerra Galáctica, Cavaleiros de Prata e a Saga das Doze Casas –, Asgard e Poseidon, chegou a hora de bancarmos os ranzinzas ao falar dos piores fillers existentes em Os Cavaleiros do Zodíaco, ou seja, os episódios que preenchem espaço para a animação não alcançar o mangá de Masami Kurumada. Vou deliberadamente ignorar a saga de Asgard que, por mais que existam muitos problemas, ainda acaba sendo melhor pensada que todos esses eventos juntos.
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Dócrates
Entre a batalha com os cavaleiros negros de Ikki, e a chegada dos cavaleiros de prata alguns (na verdade foram muitos) eventos fillers ocorreram, entre eles, a aproximação de Dócrates, que em algumas traduções era chamado de Cavaleiro de Hércules, fato que contradiz o cavaleiro de prata Algheti, de Herácles (ou Hércules, em algumas traduções). Seu visual é horroroso, sua armadura parece um abre alas de carnaval e ele também não se parece nem um pouco com Cassius, seu irmão, que disputou com Seiya a armadura de bronze de Pégaso. O arco dele envolve até mesmo uma bizarra aparição da polícia, que jamais conseguiria fazer mal sequer a Ban de Leão Menor, quanto mais a um sujeito capaz de fazer frente aos quatro cavaleiros de bronze. Sem falar nos problemas de perspectivas, que em cada cena Dócrates surgia em um tamanho diferente.
Os Cavaleiros Fantasmas de Geisty
Pouco depois de enfrentar Dócrates, e ainda enrolando para a chegada dos cavaleiros de prata, Gigas (outro personagem exclusivo da Toei Animation) e o Mestre do Santuário conversam sobre os cavaleiros de bronze, e decidem apelar par alguém de fora dos domínios gregos. Shina, a mulher cavaleiro (não seria melhor traduzir logo como amazona?) é chamada pra tentar remediar a situação, e ela indica Geisty, uma antiga amiga sua. Ela tem alguns capangas, Golfinho, Serpente do Mar e Medusa (não o monstro grego, e sim a água viva). Fora Geisty, que tem um design muito bonito, os outros vilões possuem um visual horroroso, que remete muito mais à fantasias de halloween do que uma armadura. Mesmo as mais feias indumentárias que Kurumada desenhou ficaram melhores que essas. Sem falar ainda que nesse arco muitos erros de concepção, como o rapto no navio, a descida de helicópteros… isso tudo não faz muito sentido nesse universo dos CdZ. As lutas são horríveis, e Seiya passa por cima de sua própria promessa de não bater em mulher, sendo um covarde com Geisty, batendo na vilã quando ela ainda está caída e de costas… Muito se teoriza sobre Geisty, se ela seria uma amazona de prata banida, e possível mestra de Shina, mas nada se sabe, e a Toei também não se interessou por aprofundar isso, nem mesmo em seus spin-offs.
3. Cavaleiro de Fogo
Esse personagem é introduzido para tentar resgatar o capacete da armadura de ouro de Sagitário. Seu visual é péssimo, e lembra as armaduras dos soldados rasos gregos. Ele tem um mini-flashback mostrando seu passado, como um menino salvo pelo já citado Gigas, e por isso há uma divida implícita ali. O plano mirabolante envolve até um rapto do coadjuvante careca Tatsume, e termina com o clichê do combo Shun e Ikki. O design e poderes do vilão são dignos de riso, para dizer o mínimo, e ele ainda estufa o peito como se fosse um baiacu humano.
2. Cavaleiro de Cristal
Uma das coisas mais legais no mangá de Kurumada, é a proximidade que alguns dos cavaleiros de bronze possui com os de ouro. Shiryu por exemplo, é treinado pelo Mestre Ancião na China, que é Dohko de Libra, Seiya por estar na Grécia tem contato direto com Aiolia de Leão, enquanto Hyoga é treinado por Kamus de Aquari… Na verdade não. No anime, puseram um mestre novo para o Cisne, chamado Crystal. Sua aparência é andrógena e faz parecer um dos cosplays que a Ana Maria Braga usa no Mais Você e além dessa pataquada, ajuda a matar o impacto do congelamento de Hyoga na casa de Libra, assim como a relação vista na luta ocorrida na casa de Aquário. Crystal também não é um personagem profundo, ao contrário, é genérico e a abordagem ao momento em que aparece é muito melodramática, mesmo em comparação com o restante do anime.
Ágora de Lotus e Shiva de Pavão
No meio da pressa em salvar Saori dentro das doze horas da Saga das 12 Casas, a Toei Animation decidiu dar uma explicação (para idiotas) para a chegada de Ikki, com a ida de Shiva de Pavão e Ágora de Lotus até a ilha onde Fênix repousa. O principal problema aqui é, Shaka talvez seja o mais forte dos cavaleiros de ouro, e suas capacidades são muito acima dos reles mortais, no entanto, seu impacto é diminuído no anime, com dois episódios longos, apresentando seus supostos discípulos, que só fazem o papel errado de torturar os aldeões pacíficos, fato que fica muito estranho, sendo que essa é uma ordem de um cavaleiro de ouro, considerado a reencarnação de Buda e o homem mais próximo de Deus… Nada aqui faz sentido, Shaka sequer tinha noção de quem eram os cavaleiros de bronze.
Menção Desonrosa
Aracne de Tarântula
A aparição de Spartan, que sequer tem constelação ou classificação, ocorre junto a outros cavaleiros de prata, mas apesar de ser péssima, ela nem se compara com a presença de Aracne de Tarântula, que mais parece com um robozão, desengonçado e mal construído visualmente. Ele infla o peito, como o Cavaleiro de Fogo e consegue ter movimentos ainda mais bizarros. Além disso, Tarântula sequer é uma constelação, e as teias em que Aracne fia são esquisitíssimas. A cor de mostarda causa náuseas nas crianças e o episódio em que ele aparece não leva a lugar nenhum. Enfim, ele só não irrita mais pois sua importância é ínfima.
Trazendo um pouco de inutilidade cultural para o Vortex Cultural, acompanhamos o final de semana na CCXP – Comic Con Experience, nos dias 03 e 04 de dezembro. Apesar de algumas missões designadas pelo coronel não serem cumpridas, no decorrer desse texto será possível entender os motivos de algumas tentativas infrutíferas de gerar conteúdo relevante para os leitores.
Psicologicamente preparados para filas de espera como no ano anterior, chegamos com antecedência na concentração para entrada do evento. Não importa se é sua primeira vez no evento, ou se é apenas mais um dia do pacote de 4 dias e com uma experiência nos anos anteriores; você vai sentir, mesmo que por simpatia, a excitação e a ansiedade que permeia a multidão aglomerada nas portas. Uma variedade de pessoas, estilos e interesses que, de forma alguma, pode ser tachada ou generalizada como erroneamente a mídia da massa faz parecer. E por mais deslocado que você se sinta habitualmente, essa espera faz com que você se sinta parte de uma multidão que, naquele momento, se torna comum.
Horas de espera e tempo morto são recompensados às nove da manhã, quando todos são liberados de suas filas organizadas e definidas para uma caminhada até a entrada principal do evento. E assim se descobre a primeira grande fila. Desorganizada, mas ainda assim prazerosa. Poucas coisas superam a antecipação de uma espera prestes a chegar ao fim. E é nesse ponto que as diferenças entre os grupos se faz mais claro. Tempo demais de espera envolvido por pessoas com interesses no mínimo semelhantes vai gerar uma troca de ideias e informações muito grande.
Primeiramente podemos falar das diferenças de poder de aquisição dos envolvidos. Se você escolheu o pacote mais acessível, você esta nessa fila absurda que te dará acesso às dez da manhã. Já o pacote mais (e bem mais) caro te dá um acesso antecipado e alguns outros benefícios. Mas entre todos esses envolvidos, abastados ou não, temos as diferenças entre colecionadores, curiosos, “empreendedores” (explico mais tarde), artistas aspirantes, fantasiados e aqueles que não sabem como foram parar ali. Parte vital do evento, essa diversidade é a engrenagem principal do alvo do investimento de tempo e dinheiro dedicados nesses dias. O consumismo descontrolado.
Esse que vos escreve, necessário fosse, se posicionaria entre os colecionadores que se envolvem nesse evento por uma oportunidade de exclusivos, raridades e sorte. Sempre há a possibilidade de se esbarrar em um estande mais separado com uma peça de difícil acesso, e que você talvez apenas tenha ouvido falar algum dia. Porém, qualquer que seja sua classificação, você está ali para consumir algo. Conteúdo, novidade, tempo com uma personalidade, conhecimento, bens, tudo que se possa desejar tem um preço. E ao leitor desinformado um aviso, nenhum preço é barato. Não é um lugar que foi feito para te fazer economizar ou poupar. Se você tem um propósito, qualquer que seja, vai lhe custar.
Em um balanço posterior, pode-se afirmar que o maior consumo no interior do evento é tempo. Se você é colecionador, pode-se esperar horas e horas em filas. Sim, no plural. Será leviano um colecionador que deseja uma peça exclusiva acreditar que a única fila que ele vai enfrentar será a de venda. As peças são limitadas, assim como seu tempo. Você, nesse ambiente, precisa estar preparado para investir pesado em um desejo. Madrugar nas portas para ser o primeiro a entrar? É válido. Só não esqueça, colecionador, ou simples amante de fotografias e atrações, que existe a opção de se pagar a mais por uma entrada antecipada. E essas pessoas já estarão lá dentro com seus lugares e itens garantidos. Bem vindo à Comic Con n Queue EXPERIENCE.
Fantasias e cosplayers. Normalmente são um ícone e uma característica de eventos como esses. Para quem vê de fora é uma atração a parte, para os envolvidos é uma arte e um modo de ser representar. Como todas as atividades têm-se aqueles dedicados e perfeccionistas, mas também temos as pessoas desleixadas e que simplesmente se divertem. De qualquer forma, é algo a ser admirado e vale a pena. A quantidade e variedade de personagens com que se cruza são absurdas e cativantes. Sempre com um sorriso, uma foto e algo de positivo a se dizer, são admiráveis a raridade de mesquinhez, preconceitos e desagrados que se encontra em meio a tantas pessoas se trombando, competindo por espaço e atenção.
Um adendo pessoal de um leigo apreciador de cinema. Senti-me impressionado como uma obra tão fraca como Esquadrão Suicida, com personagens pouco cativantes e uma pífia representação de um grupo pouco expressivo pode gerar um furor tão grande entre jovens adolescentes, adultos e inclusive respeitáveis senhoras (e rapazes, como se esquecer dos rapazes) a se vestirem como sua personagem feminina principal. Traumático em certos momentos e agradável em outros, só penso em como o mercado de bastões de beisebol se aqueceu nesse ano com Negan e Harley.
Artist Alley como sempre é um show a parte. A quantidade de talento por metro quadrado é gigante e assim como nos anos anteriores, contou com nomes renomados e já consagrados em suas mais diversas representações de tão digna arte. A grande maioria está sempre prestativa para conversar e te dar um autógrafo, infelizmente nos deparamos também com alguns egos inflados e olhares vazios. Miudezas que não diminuem em nada a beleza e a satisfação que podemos encontrar nesse ambiente. Os três painéis que serão apresentados no site foram de artistas presentes no Alley e que, cada um de sua forma, transbordaram conhecimento em uma hora e meia cada de apresentações.
A Disney dedicou-se a divulgar, em seu espaço gigante, os seus próximos blockbusters, com apresentações de trailers e eventos temáticos de Rogue One, Piratas do Caribe e Guardiões da Galáxia. Uma dedicação extraordinária do staff para divulgar obras que, independente de qualidade, irão gerar bilheterias enormes. Pouco há a se dizer além do que grande parte da mídia se compromete a dizer e repetir incansavelmente.
Para aqueles admiradores da fina arte japonesa, há estandes enormes dedicados à venda e publicidade de obras já renomadas que são relançadas em território nacional, também há um espetáculo a parte de demonstração de valor por parte das distribuidoras das obras. Completando trinta anos de lançamento, a franquia Saint Seiya recebeu atenção especial por parte do evento. Um estande impressionante apresentava ao público amante de tal franquia coleções já conhecida e futuros lançamentos de colecionáveis. Não suficiente, apresentava as conhecidas armaduras de ouro em tamanho real e completas. Um deleite para aqueles que cresceram sem nunca imaginar que veriam algo de um universo fantástico tão próximo do real.
Aos painéis será dada atenção mais especial, pois o que se pode absorver não é tão genérico, sendo voltado bastante a um publico de interesse mais especifico.
Em conclusão, o que se pode dizer sobre esses dias? Filas intermináveis? Sim. Horas e horas “perdidas” por uma assinatura ou uma peça exclusiva? Também. Mas nada desanima aqueles que encontram nesse evento diversos momentos dedicados à paixões tão particulares e peculiares. São momentos em que o pai, a mãe, os avós (e muitos deles estavam lá) e o garoto mais introvertido, podem se “tornar” os seus heróis e vilões favoritos, esquecendo-se de que devem algo além de seriedade para uma sociedade pouco tolerante e, sejamos sinceros, preconceituosa.
Durante a exibição do anime Os Cavaleiros do Zodíaco, foram lançados nos cinemas do Japão alguns filmes derivados da série. Masami Kurumada não fez os roteiros, somente deu orientações em alguns dos designs das armaduras dos vilões, por isso e pelo óbvio problema de não se encaixar em momento nenhum na cronologia do anime – exceção de O Prólogo do Céu, lançado após o término do programa – quatro filmes se apresentam fora da cronologia, sendo três curtas e um longa, além do recente remake da fase da Batalha das Doze Casas.
Os filmes são pouco relevantes na compreensão dos fãs por causa da baixa qualidade de seus textos, com desenvolvimentos pobres e pouco aprofundamento dos vilões, além da quase nula criatividade em histórias e cenários. De qualquer maneira, foram quatro produções lançadas para o fiel público do anime. Os quais comentamos a seguir.
O Santo Guerreiro – ou A Batalha de Eris
Primeiro média metragem de CDZ, O Santo Guerreiro começa como um conto espacial, explorando um pouco das aventuras dos defensores da “deusa da guerra”, item traduzido de modo bastante precário. A abertura igual da fase do santuário faz acreditar que o filme de 45 minutos deveria se encaixar na proximidade cronológica pré Batalha das Doze Casas. Já no começo, Hyoga de Cisne aparece mostrando sua força e poder, agindo caricaturalmente como um homem forte para Eiri, amiga de Mino, que também trabalha no orfanato onde Seiya cresceu. A postura do Cisne é natural, uma vez que ele até então não teve nenhuma figura de possível romance dentro do seriado, enquanto seus amigos sempre tinham “pretendentes”.
A ação começa quando uma estrela cadente – Cometa Leparus – corta o céu, caindo assim uma maçã dourada, que coopta a atenção de Eiri, e a faz ignorar Hyoga, indo até um recém criado templo grego na montanha Hokkaido, no Japão. Ao tocar a maçã, a moça se transforma, atacando Saori Kido, em meio a imagens de pessoas saindo de seus túmulos. Éris, a deusa da discórdia se fez carne através de Eiri, e convocou cinco carrascos, Maya de Sagita, Yan de Escudo, Khraisto de Cruzeiro do Sul, Orfeu de Harpa e Jaga de Orion, eles ajudariam no intuito da deusa profana de sugar a juventude de Atena encarnada.
Na prática, os Guerreiros Fantasmas são pouco hábeis. Maya enfrente Seiya, e o Pégaso não demora muito a abatê-lo, apesar de sofrer uma flechada, que mais tarde o envenenaria, como visto no começo da última parte da Saga do Santuário com Tramy, da mesma constelação. Logo, o Cisne enfrenta seu igual Khraisto, que também tem seu poder ligado ao gelo, tornando o embate redundante, terminado pela traição de Éris, que joga uma lança sobre o Cruzeiro do Sul. Outra batalha repetitiva é a de Shiryu, onde o Dragão enfrenta Yan e sua constelação de Escudo, que somente aparece para esmigalhar o punho e o escudo do guerreiro chinês. O cavaleiro novamente retira sua armadura e vence com um simples Cólera do Dragão, completando o combo de clichês presente no roteiro, para então tombar novamente. Shun de Andrômeda enfrenta Orfeu, que carrega o mesmo nome e aparência do lendário cavaleiro de prata da até então inédita Saga Hades. O embate é só um pretexto para Ikki de Fênix aparecer e salvar o dia, jogando seu adversário em uma terrível ilusão, para depois vencer facilmente o fraco guerreiro.
Cambaleante, Seiya encontra Éris, que finalmente consegue seu próprio corpo, assistido pelo guerreiro que foi famoso no passado, Jaga de Orion. Ikki vêm ao seu socorro, mas também perece ante o único dos guerreiros fantasmas que é interessante. Logo, os outros quatro saints se levantam para ajudar o Pégaso, ao som de um discurso de Fênix. O Santo Guerreiro, Seiya, então recebe o apoio telepático e cósmico de seus parceiros. O Cavaleiro convoca a armadura de Sagitário, a tempo de parar a ressurreição dos cavaleiros desonrados, expulsos por Atena pelas eras.
A esdrúxula solução para destruir o inimigo seria o lançamento de uma flecha, feito logo após Seiya vencer Jaga com um único golpe. Éris tenta defender a maçã dourada com a própria testa encerrando sua encarnação nova e a antiga ao mesmo tempo, Pégaso então foge junto a Fênix, dos escombros, sem sequer olhar para trás, deixando Saoria, Eiri e os outros para trás, milagrosamente salvos, não tanto graças a desatenção de Seiya.
Batalha dos Deuses
Iniciado em um cenário gelado, com malfeitores manchando de sangue a imensidão branca, Hyoga – mais uma vez – é o primeiro a intervir na injustiça. O moribundo que Cisne salva faz um pedido, para que ele rume em direção ao Palácio Valhala – em mais uma referência básica ao lugar onde os guerreiros que agradavam aos deuses iam após a morte – onde ocorreria a Batalha dos Deuses. Após o desaparecimento do Cisne, Saori Kido, Seiya, Shiryu e Shun vão ao palácio de Durval, onde são recebido diplomaticamente pelo regente do reino e seu lacaio Loki. A única interferência “caseira” provém de Frey e Freya, os os irmãos, inspirados na mini saga do Mangá, os Cavaleiros Azuis.
Dois aspectos são dignos de nota, um deles é o design antigo das armaduras, antes da intervenção dos cavaleiros de ouro. A outra é que não há qualquer menção ou indício de existência prévia do regime de Durval, sequer na saga de Asgard. Como nunca antes visto, Atena reage além de seu típico comportamento de garota refém, demonstrando uma confiança enorme em seus guerreiros, pouco antes de transformada em estátua por Durval e seu Escudo de Odin. Não demora muito para a ação começar, e Andrômeda enfrenta o esguio Ur de Surt – que representa o rei dos gigantes de fogo, e sua espada que despedaça o chão e a armadura de saint de bronze, semelhante a Excalibur de Shura. Ikki chega para salvar seu irmão, detendo facilmente Ur. Logo o gigante Rung, de Thirym, que era o rei dos gigantes de gelo. A batalha também é atabalhoada e curta, com o oponente tentando levar a Fênix para o abismo, sem sucesso.
Shiryu encara um guerreiro de robe (respectivo asgardiano a armadura) de Jormungand, (a serpente filha do deus Loki que envenenaria Thor), surpreendendo-se por este ser na verdade Hyoga. O cavaleiro meio russo declara ser fiel agora a Odin, numa traição sem tamanho, congelando o braço do Dragão sem pestanejar. Os únicos representante ainda vivos são Seiya e Loki, de Fenrir, que carrega referências a pai e filho, ambas criaturas que prenunciariam o Ragnarok e o fim do mundo. A batalha começa interessante, com o Ataque dos Lobos, mas o fim é anticlimático.
Pégaso chega bastante fraco para a batalha contra Durval, de Heimdall, que como na mitologia, também guarda a entrada entre os dois mundos (Asgard e Midgard). Hyoga chega, para o público perceber q lavagem cerebral falha do soberano de Valhalla, mas claro, não são páreos para o Guerreiro Deus, que segundo Seiya, é mais rápido que os cavaleiros de ouro, possivelmente referenciando ao primeiro encontro com Aiolia de Leão.
Apesar das lutas serem mais interessantes, o maniqueísmo é ainda mais exacerbado neste curta, cooptando até a audácia costumeira de Fênix, além da mudança de comportamento completamente sem nuance de Hyoga. Não fosse muito o recurso deus Ex Machina da armadura de Sagitário vir em socorro dos cavaleiros de bronze, outra interferência externa ocorre, quando o bravo Frey crava sua espada na coroa de cristais de Odin, liberando Atena do temível feitiço, invertendo junto a Durval a referência clara ao herói da mitologia nórdica Balder.
Ao fim, o sol resplandeceu sobre o reino gelado, fazendo florecer Yggdrasil, a árvore do Universo, sob a “maléfica” estátua de Odin, encerrando o tomo de clichês, desdenhando da mitologia. Apesar desses defeitos, consegue superar o primeiro filme, mas ainda por muito pouco.
A Lenda dos Defensores de Atena ou A Batalha de Abel
Primeiro longa-metragem – exibido no Brasil nos cinemas, contrariando toda a tradição de filmes derivados de anime – começa diferente dos dois anteriores, sem UMA abertura, já exibindo uma interação entre Saori/Atena e seu irmão recém encontrado Abel, filho de Zeus desaparecido e deus do sol. Após uma demonstração de relação bastante amistosa, Abel faz uso de seus poderes telepáticos para adentrar a mente de sua irmã, e tentar convencê-la a se unir a ele, em um plano de dominação, convencendo-a de um modo que nem Julian Solo em Poseidonconseguiu.
O pretenso deus do sol é acompanhado de três fortes cavaleiros, que tem até constelações sobre suas cabeças: Atlas de Carina, Berengue de Coma Berenices e Jaô de Lince. O poder de Abel era tamanho que causou em Apolo e Zeus um ciúme imenso, apagando-o da história e da existência, o que suscita sua ressureição, uma tensão que convencer Saori a dispensar seus defensores de bronze, para ficar a cargo somente dos guerreiros da coroa do sol e dos cavaleiros de ouro ressuscitados. No entanto, a farsa dura pouco, e Abel ataca a deusa que parece ter saído de um transe. O deus esquecido pela mitologia é contrariado por Camus e Shura, mas facilmente derrotados, possivelmente por suas novas forças virem de Abel.
Os problemas dos filmes anteriores se repetem, especialmente pelo caráter dos personagens ser tão pobre. Os cavaleiros de bronze aceitam muito facilmente a recusa de sua musa, especialmente Hyoga, que novamente parece um “traidor”, em ideia péssima da Toei de (talvez) referenciar o intuito inicial do Cisne, no mangá, de seguir as ordens do Santuário para matar seus “amigos”. Como esperado, os teimosos cavaleiros resolvem ir em socorro de Atena, mas sem qualquer união, resumida pela constrangedora mensagem de Shun:
Atlas declara que as três constelações não pertencem as classes de prata, ouro ou bronze, mais uma vez referenciando a confusa matemática de Kurumada dita no começo do mangá: das 88 constelações afirma que 12 eram de ouro, 24 de prata e 48 de bronze, sobrando então 4 armaduras misteriosas. O cavaleiro de Carina derrota facilmente Seiya, enquanto o Dragão tem Máscara da Morte pela frente, derrotado facilmente, para logo depois se atacado por trás por Berengue, que o derrota automaticamente. O destino do Cabeleira de Berenice só é selado após um ataque de revanche orquestrado por Hyoga, ao saber que foi ele quem re-assassinou Camus. Shun por sua vez, repete a efeminada luta contra Afrodite de Peixes, caindo dessa vez, salvo por seu irmão Ikki de Fênix, em mais uma luta pouco interessante, para mais uma vez ter seu fim pelas mãos de um cavaleiro da Coroa do Sol. O fator da ressurreição dos cavaleiros de ouro é o fator mais irritante, prevendo o que ocorreu no início de Hades, até então inédito em versão animada. A crença se fortalece ao exibir no filme a redenção de Saga, que assassina Jaô em um ataque suicida.
Novamente repetindo os problemas de falta de nuances, o desfecho envolve o uso das armaduras de ouro, dessa vez com Aquário e Libra unidos. Seiya consegue enfim vencer o poderoso Atlas, e com um único golpe, banalizando completamente todas as derrotas de seus amigos pelas mãos do cavaleiro de Carina. Atena enfim assume ter errado, chegando ao cumulo de assumir não ter sido uma divindade digna, compondo mais um absurdo para o combalido roteiro. Novamente o roteiro de encerra com uma flechada mortal encerrando o inimigo, e o lugar estavam os saints de esvaindo em ruínas, reprisando a exaustão os clichês antes demarcados.
Os Guerreiros do Armageddon ou A Batalha de Lúcifer
Não bastasse banalizar as figuras de Atena, Odin e outros deuses gregos subalternos, os filmes de Saint Seiya ainda reservavam mais um tema a debochar: Lúcifer, o conhecido antagonista do cristianismo, de nomes tão variados. A história começa no santuário, onde cada um dos cavaleiros de ouro sucumbe – mesmo Shaka de Virgem – facilmente ante figuras fantasmagóricas, para introduzir finalmente um anjo caído, anunciado por uma trilha de piano típica dos filmes expressionistas alemães. A nefasta figura decepa a cabeça da estátua de Atena, mostrando só ter respeito por si mesmo, e construindo do nada um novo templo em plena Grécia.
A repetição permeia toda a fita, desde a construção instantânea de um templo – visto também em Éris – até a renovada versão do ataque que ocorreria aos cavaleiros dourados em Hades, referenciando o conceito da batalha de Abel. Aliás, é sob a égide de ressurreição de Abel, Éris e Poseidon que Lúcifer adianta seu ataque aos guerreiros de Atena, ameaçando o mundo com catástrofes e com a possibilidade de retorno desses antagonistas, fazendo sua importância diminuir muito. O vilão faz os dubladores brasileiros abusarem de termos chaves, usados em cultos cristãos, como blasfêmia, pacto e Satanás, unicamente para fortificar a malignidade de Satã e seus asseclas, os Anjos da Morte: Belzebu (Querubim), Ashtarote (Serafim), Érigor (Virtude) e Moa, que vencem Seiya e os outros sem armaduras.
Ao longo da existência, o Arcanjo Miguel e o deus da guerra hindu Marishiten seguraram o ímpeto de Satanás. Logo os cavaleiros de bronze restabelecem sua saúde, para então enfrentar os anjos. Shiryu agarra o cafona Belzebu, anjo do Fogo, o mais poderoso do inferno, que consegue imputar medo, e Ashtarote, o anjo da sabedoria, o rei da cobra albina de duas cabeças, ainda assim, não é páreo para o Dragão, que só venceu para ser derrotado covardemente por um ataque aéreo de Belezebu. Érigor, o anjo do poder de Mantis , que sai de um casulo para ser derrotado pelos irmãos Shun e Ikki. Com borboletas, Moa ataca Hyoga, o caçador de almas, o anjo do trono – com quase tantas alcunhas que seu chefe Diabo. Ele usa ilusões das lembranças a mãe do meio japonês meio russo, como inúmeros outros adversários (Ikki no começo, Lymnades, Mime etc), mas depois, consegue se desvencilhar disso.
Apesar da maior violência, com cenas de tortura a Saori, que sangra diante de uma escadaria repleta de espinhos, e em uma decapitação de Ikki em mais uma fantasia da ave Fênix, pouco de ineditismo resta. Seiya aponta mais uma vez a flecha ao inimigo, pede a deus um chance e todas as armaduras de ouro reluzem em volta do sol para dar forças ao protagonista, fazendo dele um ser perfeito, retornando seu inimigo ao inferno bíblico, da onde sua caracterização estranha não deveria ter saído. O exacerbo de maniqueísmo vai contra toda a mensagem ecumênica de Masami Kurumada, fazendo do filme algo semelhante a um comercial gospel, como em Deus Não Está Morto e em tantos outros produtos para nicho.
O Prologo do Céu
Iniciado de um modo belo graficamente, O Prologo do Céu deveria ser o primeiro capítulo de uma trilogia, que revelaria os fatos passados após a Batalha da Guerra Santa contra Hades, iniciando o longa-metragem mostrando Seiya catatônico, sob uma cadeira de rodas, sem esboçar qualquer defesa contra os três guerreiros misteriosos que se apresentam a si. O começo da ação sem qualquer preâmbulo revela uma mudança no estilo narrativo dos roteiros de Masami Kurumada, fazendo-nos perguntar se estes fatos teriam sido encurtados pela empresa que sempre boicotou seus escritos.
O antigo Pégaso, sem brilho no olhar, consegue desviar de cada uma das lanças, protegido pela mesma deusa que ele jurou guardar. Uma vez indefeso, é ela quem o acolhe, diante dos guerreiros celestiais, Odisseu, Teseu e Tohma De Icaro, que servem a deusa da lua Artémis, que logo vem cobrar de Saori os sacrilégios dos cavaleiros, que ousaram enfrentar os deuses. Os pecados deles não são expiados, até que Atena se oferece em sacrifício, para que os homens não sofram a ira divina, incluindo os cinco lendários.
O castigo também é dado as almas mortas dos cavaleiros de ouro, incluindo até Shion e Dohko, julgados como mortais pequeninos que ousaram um dia contrariar a vontade dos deuses, e que teriam enfim a retribuição de seus atos. Logo, Seiya sai da letargia, acordando pela falta de Atena. Marin o encontra e relembra o golpe que Hades lhe deu, e Pégaso consegue se levantar, mesmo que em estado físico lastimável. Ao visitar a Grécia – conseguindo estranhamente chegar até lá cambaleando – Seiya se depara com um Santuário modificado, pela ação de Artémis, tendo um comando insano da amazona Shina de Cobra, que ordena a Jabu de Unicórnio e Ichi de Hidra que tratem de repelir o combalido saint de bronze, desferindo ela mesma o último golpe em seu antigo amado, renegando o valor do antigo guerreiro.
O rumo dos remanescentes da guerra com Hades sofrem infortúnios terríveis. A armadura de Pégaso rejeita o corpo de Seiya, e Shun é atacado pela figura angelical de Teseu, que anuncia que sua missão é exterminar os cavaleiros da deusa da Sabedoria. Ikki aparece para defender o caçula, e neste momento, Teseu percebe o ímpeto e espírito dos cavaleiros a quem deve caçar, justificando o puro ódio dos deuses sobre eles.
A luta de Odisseu com Hyoga e Shiryu sequer é mostrada, exibindo-se apenas a derrota dos dois amigos. Seiya então chega, milagrosamente munido de sua armadura, sem seu elmo, assim como praticamente todos os seus amigos, que tem a cabeça desprotegida. Tal característica passa longe de ser uma coincidência, na verdade remete a falta de governo que os justiceiros têm, sem sua deusa ao seu lado, que não está presente sequer para os inspirar a atingir os sentidos além sobre-humanos que normalmente lhes é comum.
Juntos, Pégaso, Dragão e Cisne vencem somando seus cosmos, até Seiya ser teletransportado até um outro local. O acuro no roteiro não contemplou uma resposta plausível para essas interferências, deixando isto como mais um dos eventos misteriosos. Em uma praia, Ícaro se aproxima, querendo enfrentar aquele que venceu muitos deuses. A luta é interrompida por Marin, que reconhece através de um símbolo familiar – um pequeno sino – que aquele era seu parente perdido, Tohma, que obviamente refuta sua origem humana, buscando a essência da transformação em um deus.
Após um embate muito mais filosófico que físico, Tohma enfrenta novamente Seiya, o que resulta no encontro entre Pégaso e Saori, já livre do julgo de ser uma divindade. Neste lugar isolado, Seiya se entrega a ela como visto no conto bíblico do sacrifício que Abraão faria de seu filho Isaque, o sacrifício para o seu deus. Sua entrega faz Atena reavaliar sua postura, travando uma discussão profunda sobre o papel de inspiração e proteção que os seres olímpicos tem sobre os homens.
O roteiro reescrito por Michiko Yokote é confuso, a maioria dos bons conceitos são mais sugeridos do que trabalhados, tornando o espírito que Kurumada queria passar demasiado vago, repleto de lutas curtas, que subvalorizam o papel de Shiryu, Hyoga, Shun e Ikki, além de revelar um vilão poderosíssimo que não possui qualquer histórico ou capitulação anterior. Quando Apolo, deus do sol e gêmeo de Artémis aparece, todo o sacrifício de Tohma – idêntico aos feitos por Seiya em todo o anime – é banalizado, como algumas das movimentações da saga de Hades, semelhante por exemplo a chegada das armaduras dos signos zodiacais nos Eliseos, no entanto, se destacada a falta de perícia e esmero na finalização do texto orquestrado por Shigeyasu Yamauchi.
Os instantes finais deixam tudo ainda mais confuso, possivelmente escrita após mais uma das brigas do autor com a empresa de animação. Remeter a uma amnesia tanto de Saori quanto de Seiya faz confundir se a mensagem final seria de que as almas de ambos estavam sempre destinadas a se encontrar, mesmo retirado o poder cósmico de ambos, ou set udo seria um sonho, piorado pela cena pós-crédito, que revela um outro design para a armadura de Pégaso.
Alguns dos elementos de Prólogo do Céu foram reaproveitados no mangá Os Cavaleiros do Zodíaco: Next Dimension. A fita que deveria ser parte do cânone, ao contrário dos outros quatro filmes, acaba gerando muito mais dúvidas do que respostas, trabalhando de maneira falha uma premissa muito boa, corrompendo uma nova fase que tinha potencial para revolucionar ainda mais os escritos de Kurumada, mas que ao final, se assemelha somente a uma colcha de retalhos, que reúne ideias interessantes mas que traem boa parte do caráter do anime Saint Seiya.
A Lenda do Santuário
A espera do tão aguardado desfecho de Next Dimension, o mangá de continuação orquestrado por Masami Kurumada. Até este lançamento, houve diversos spin offs e pretensas continuações do anime original, entre elas a bela participação de Shiori Teshirogi em Lost Canvas, na versão Ômega, que mostra os herdeiros dos cinco cavaleiros de bronze. Alguns dos conceitos deste último, estavam presentes na animação em 3D, A Lenda do Santuário.
Visualmente bela, a fita de pouco mais de noventa minutos se assemelha visualmente as belas animações que Steven Spielberg tornou realidade, especialmente O ExpressoPolar, dirigido por Robert Zemeckis e a versão cinematográfica deAs Aventuras de Tintim. A traição do santuário, vista especialmente na Saga das Doze Casas é resumida e reimaginada, com bons momentos no prólogo, em que o valente Aioros de Sagitário confia a Mitsumasa Kido a guarda da reencarnação de Atena. As batalhas até então são magnânimas, grandiosas em um nível inimaginável em termos de animação ligadas ao mito da Saint Seiya, os problemas somente se revelam com a passagem de dezesseis anos após a o encontro que feriu mortalmente o cavaleiro de ouro.
Após algumas explicações óbvias, e uma perseguição em uma ponte – que faz questão de sexualizar Saori Kido, a encarnação de uma deusa virgem – ocorre uma primeira batalha, que envolve os cavaleiros de bronze sagrados, Shun, Hyoga, Shiryu e o renovado Seiya. Os maiores problemas estão na concepção dos cinco personagens, modernizados em postura e em suas armaduras, que mais lembram a roupagem dos metal heroes dos tokusatsus.
Mais do que qualquer adjetivação negativa relacionada ao visual, há uma terrível falha na construção do ethos de cada um dos personagens. Um dos poucos pontos realmente positivos no roteiro de Kurumada eram os detalhes únicos da postura de cada um dos cinco lendários. Cisne não revela seus problemas com a orfandade, Shiryu que o tempo inteiro retirava sua armadura, no filme utilizava o traje até nos momentos civis. Shun não demonstra com tanto afinco sua ojeriza ao belicismo, e Pégaso é um atrapalhado adolescente, apaixonado por Kido, que se assemelha em essência mais a Jabu de Unicórnio do que ao personagem título, agindo até como o “cavalinho da Saori” que tanto criticavam na publicação original.
O tom de humor não combina com as batalhas sangrentas que ocorrem, tampouco valorizam os momentos dramáticos como a sensação de culpa que Aioria de Leão carrega pela pretensa traição de seu fraterno. A trajetória de lutas que no original mostravam uma corrida para salvar o menina que estava convalescendo, acaba sendo uma jornada de muita cor e pouco significado. Batalhas épicas como as de Aldebaran de Touro são substituídas por trocas de gracejos com o cavaleiro de ouro reclamando de ser chamado de tiozão.
As falhas prosseguem nas casas seguintes, tornando-se até covardia falar mal da pífia aparição de Máscara da Morte de Câncer, que teve seu recinto transformado do lugar mais próximo do Inferno, para se assemelhar a uma termas repleta de luzes piscantes que tentam forçar uma alegoria a Las Vegas. A partir dali os eventos mudam bastante, incluindo batalhas coletivas entre os saints de bronze e de ouro. As lutas acabam sendo curtas, anti-climáticas, ou então simplesmente não ocorrem, como com Afrodite, que aparece morto.
Saga se revela, mas tem como adversários a maioria dos cavaleiros de outro, que somente não são páreos a ele graças ao cosmo furtado da deusa da Sabedoria, na verdade somente mais uma inversão de papéis de destaque que, em suma, só repetem os piores defeitos de certas sagas do anime.
A solução para a batalha final não poderia ser mais genérica e contraditória com a tradição de Cavaleiros do Zodiaco, uma vez que usa um monstro gigante para o desfecho, evocando referências a Changeman, Jaspion e demais series japonesas live action, mas sem o menor cuidado com o canône de Kurumada.
A mensagem de Atena, junto ao seu exército é bonita e singela, mas cai em contradição graças aos mil tropeços do argumento deste remake que possivelmente terá uma continuação em breve.
Menor das fases do anime, totalmente baseada na penúltima saga do mangá, a descida ao reino dos mares, onde se combateria o deus olímpico dos mares Poseidon, possui apenas parcos quinze episódios – dois a menos que a anterior filler, Asgard. As primeiras cenas mostram tempestades e redemoinhos marinhos, assolando o Japão, a costa da França, Estados Unidos e outras regiões europeias, causando um pânico mundial, segundo as falas de Jabu de Unicórnio e Tatsumi.
Logo Saori acorda, nos aposentos de Julian Solo, um jovem belo, rico e precoce, que assumiu os negócios de sua família em comércio marinho. Julian foi pretendente de Kido, que prontamente o recusou. Triste, Solo percebeu como é a sensação de ser rejeitado. Para surpresa de todos, o jovem era também a reencarnação do deus dos mares e, ainda assim, queria desposar Atena. Após mais uma recusa, dessa vez para governar o mundo como um casal de deuses, o déspota ameaça destruir a vida no planeta, a não ser que a deusa da sabedoria entregue sua vida em sacrifício. A reencarnação da deusa ficaria mais uma vez à mercê da sorte, sendo ela o pilar que salvaria a Terra e mataria Saori.
Seiya e os outros adentram um portal em forma de redemoinho em Asgard, logo, o protagonista e Shun de Andromeda chegam ao reino dos mares, e tem um pequeno embate contra Thetis de Sereia, uma mulher fatal que com sua escama (equivalente as armaduras do Santuário) quase enreda Pégaso e Andrômeda. Após desvencilhar-se dela, O General Marina Dragão Marinho debocha da força dos saints de bronze, dizendo que melhor seria se o cavaleiros de ouro lhe enfrentassem.
Cada parte dos sete mares tem o seu próprio pilar, e seu general respectivo. O primeiro a ser adentrado é o do Oceano Pacífico Norte, com Seiya indo em sua direção. O objetivo é derrubar cada um deles, para então parar o plano maligno do inimigo de matar Saori, mas antes que o cavaleiro possa destruir o artefato, Bian de Cavalo Marinho se interpões ante sua missão. Em uma virada de roteiro surpreendente, Seiya faz lembrar da luta com Misty de Lagarto, e percebe técnicas muito parecidas. Apesar de toda arrogância, Bian não demora a cair, graças a força da armadura de Pégaso que torna-se dourada após elevar seu cosmo ao máximo. Motivo disto seria o sangue dos cavaleiros de ouro, que convenientemente não fez qualquer peso na saga filler de Asgard.
Antes de atentar contra o pilar, Seiya vê a chegada de Hyoga e Shiryu, e pede para que eles ajam separadamente, como foi feito na Batalha das Doze Casas. Logo, o cavaleiro percebe ser inútil golpear os pilares, até que Shina traz a armadura de Libra, para que cada arma desta possa destruir as partes. O Escudo é usado para enfim derribar aquele território, enquanto Thetis e Shina travam mais uma batalha.
Paralelo aos acontecimentos anteriores, Shun chega ao pilar do Pacífico Sul, para então enfrentar o terrível Io de Scylla. Depois de um show off de ataques, revelando praticamente todos os seus golpes – ligados sempre a bestas animais. Cilla foi um monstro marinho, que acima de si guardava a imagem de uma bela virgem, semelhante a lenda de Andrômeda, e que guarda abaixo de si as técnicas de Águia, Lobo, Abelha, Serpente, Morcego e Urso. Ciente de sua superioridade, Shun ainda oferece ao inimigo a chance de se render, mas a teimosia e empáfia do general fala mais forte, como era comum no seriado. Shun também tem sua armadura da cor do ouro, resistente como a dos doze sagrados guerreiros, e esse é o fator que define a vitória sobre Io. Shun utiliza os Nunchakus para derrubar o pilar. Desesperado, Scylla se põe na frente da arma, mas não têm êxito em tentar impedir a queda do totem.
Em mais uma amostra da ideia ecumênica de Kurumada, o próxima general é Krishna de Chrysaor, regente do Pilar do Oceano Índico, um sujeito moicano que referencia uma religião oriental em seu nome. Shiryu o desafia, Krishna, pondo a prova o escudo do dragão, pela poderosa Lança do Dourado (ou Relâmpago). Caído, o Dragão sente-se indefeso, e ele novamente vê em sonho o juramento e pedido de Shura, para que protegesse Atena. O fato desta ser uma reprise, graças ao filler do mesmo flashback ainda em Asgar, um pouco da surpresa se perde ao ser anunciado a novidade tática do guerreiro. O embate segue emocionante, talvez a melhor luta da saga até então, especialmente pela honra mútua entre os oponentes. Após ter sua armadura retirada – novamente – Shiryu consegue enfim fazer valer o golpe da Excalibur e destrói a lança dourada de seu adversário, assim como as escamas. Ambos, sem proteção alguma, travam uma batalha ideológica, que põe a frente a crença no budismo e na mitologia grega. Krishna cega Shiryu, repetindo ainda mais características do ideário de Shaka de Virgem, para enfim terminar o embate. Sem visão, Shiryu toma a Espada de Libra e pede para Kiki o guiar, quebrando assim o pilar.
O próximo adversário é Kasa de Lymnades, do (Oceano Antártico) que logo derrota o descansado Hyoga, depois Seiya, até enfrentar Shun que consegue resistir por um período longo, até ser socorrido por Ikki e provar de seu próprio veneno. Lymnades até tenta enganar Ikki também, mas sucumbe diante da própria presunção, de achar que enganaria o cavaleiro imitando o próprio irmão, que está ferido aos seus pés, o máximo que o rival conseguiu foi expor que Fênix ainda mantinha sentimentos por Esmeralda, a moça que viveu na Ilha da Rainha da Morte. O Tridente da Armadura de Libra é usado para quebrar o pilar Antártico, não antes de parar o sangramento de seus antigos amigos, para que ainda haja algum risco de sobreviverem, dependendo de seus cosmos.
Após ser humilhado, o Cisne se levanta e agradece a Ikki por não ter encarado ele derrotado, prometendo que não se deixaria levar novamente por seus sentimentos ao enfrentar inimigos. O engano não demora a ser demonstrado em tela, uma vez que no pilar do Oceano Ártico, Hyoga encontra Isaak, de Kraken, seu ex-companheiro de treinamento. Isaak sempre foi o mais forte dos dois, que um dia, sumiu após salvar Hyoga de ser levado por uma forte correnteza, quando o aspirante a cavaleiro tentava ir visitar sua mãe pela primeira vez. Ferido no olho esquerdo, Isaak é cooptado pela escama de Kraken, para que ele fosse um general marina, e combatesse o homem que combateu na Guerra Galáctica e que matou Cristal e Camus. A batalha ocorre entre troca de farpas e golpes. Antes de morrer, Isaak diz que outra criatura é a o real inimigo, e não Julian, deixando o Cisne atônito, para depois ter quebrado o pilar através do Tonfá de Libra.
Ikki finalmente chega ao salão do deus encarnado, unicamente para ser barrado pelo Dragão Marinho, que revela sua identidade, dando ainda mais significado ao drama visto na Batalha das Doze Casas, finalmente justificando as brutas repetições de roteiro vistos no anime. Os fatores mais irritantes em toda a extensão de Cavaleiros do Zodíaco são vistas na saga de Poseidon também, que piora muito por possuir lutas pouco interessantes e adversários que deveriam ser igualáveis a deuses, mas que caem por muito pouco esforço dos cavaleiros.
Shun finalmente chega ao pilar do Oceano Atlântico Sul, onde encontra Sorento de Sirene, que se desvencilhou facilmente de Siegried na fase anterior, de Asgard. Seu toque de flauta faz Andrômeda quase cair, até que Atena começa a cantar, para o retirar doo terrível mantra. Paralelamente, Seiya, Hyoga e Shiryu adentram a sala de Julian Solo. Ao mesmo tempo, Ikki retorna da outra dimensão, para enfrentar Kanon, de Dragão marinho, o irmão gêmeo de Saga. O combate triplo finalmente deixa os eventos interessantes, especialmente ao retornar a origem dos irmãos gêmeos, onde Kanon sugere ao seu irmão assassinar o Mestre, fazendo de seu destino o da morte, preso pelo poderoso cavaleiro de Gêmeos a uma cela ao lado do mar, só podendo ser libertado por um deus. Kanon profetizou que Saga também possuía uma índole maligna, remetendo a filosofia de Yin-Yang. Kanon seria liberto, para ver as escamas dos Generais Marinas, convocando os poderosos homens, para dominar o mundo – novamente – e trair Poseidon, depois de já ter traído Atena.
No Santuário, há um clamor por ajudar os cavaleiros de bronze, mas algo segura os saints de ouro, somente permitiram a ida da armadura de Sagitário para ajudar Seiya e os outros. Uma nova gama de sacrifícios ocorre, com Shina, Seiya e Shiryu, que usam o próprio corpo para receber as flechar refletidas de Solo. A chegada de Shun – que derrubou o pilar com a barra tripla – e Hyoga, o deus encarnado percebe uma união jamais vista por seus olhos imortais, ainda que não ceda a arrogância, percebendo tardiamente de que a arma de Sagitário estava lotada com o cosmo dos quatro guerreiros.
Ikki só derruba o pilar do Atlântico Norte após o auxílio de Sorento, que percebeu a traição do gêmeo mal. Com o Escudo de Libra, Fênix derruba o artefato, para logo depois indagar o marina de como poderia deter a encarnação pura de Poseidon, alcançada após a flechada que Seiya impingiu. Logo, as armaduras douradas de Libra e Aquário reúnem-se ao redor de Shiryu e Hyoga, a fim de ao menor atordoar o deus dos mares.
As verdades continuam se desenrolando, com Ikki afirmando que sua sobrevivência só ocorreu graças ao caloroso cosmo de Atena, que o poupou da morte. Fênix descobre enfim que a chave para a sobrevivência de Saori, está encerrada no Grande Suporte Principal, junto a deusa. Todas as condições de clímax se acumulam no episódio final, que finalmente apresenta a vitória de um mortal sobre um ser divino, dessa vez do mais literal possível.
A podridão e corrupção do planeta seria a motivação maior de Poseidon, que diferente do piedoso cosmo de Atena, se agarra na esperança de uma mudança no caráter ideológico da humanidade. A retidão como bandeira, se mostra uma arma eficiente, fortalecendo a filha de Zeus diante de seu adversário, para encerrar o espirito do deus olímpico novamente na ânfora.
Os motivos que fizeram Kurumada não realizar junto a Toei a última das sagas do Mangá aplacaram boa parte do sensacionalismo do final do seriado, encerrando o show de tv em 1989, somente retornando a Hades com o aporte dos fãs, treze anos depois. Apesar do remate ter sido interessante, as lutas foram pouco cativante, faltou carisma aos marinas, exceção feita talvez a Isaak e Kanon, tampouco houve um grafismo satisfatório nas batalhas, repetindo os mesmo erros de Asgard, sendo inferior até ao texto original do mangá.
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Confira também:
A Primeira Parte do Review da Saga do Santuário, correspondente a Guerra Galáctica A Segunda Parte, correspondente a Saga dos Cavaleiros de Prata. A Terceira Parte, corresponde a Batalha das Doze Casas.
E a Saga de Asgard.
Começando com uma nova abertura, referenciando Hilda e seus cavaleiros protetores, Os Cavaleiros do Zodíaco retornariam com uma nova roupagem, explorando um cenário inédito até então – exceto pela média metragem A Grande Batalha dos Deuses -, as gélidas instalações do extremo norte europeu, onde mora uma oradora, que devota sua vida e rezas aos deuses nórdicos. Uma voz diferenciada se ergue ante o mar, tentando convencê-la a declarar guerra ao novo Santuário de Atenas, a despeito de sua postura pacifista. Um anel toma o controle da mulher, e chama a estrela Polaris, convocando o poder de cada uma das estrelas da constelação de Ursa Maior e seus respectivos cavaleiros, que comportam características de feras, criaturas e deuses do panteão asgardiano.
Nas Doze Casas, Aldebaran é derrotado com apenas um golpe, por Shido de Mizar, o que demonstra primeiro um profundo desrespeito com o personagem, facilmente descartável, além de não dar uma boa razão para Mu não habitar a casa de Áries, permanecendo em Jamiel a maior parte do tempo – ainda. Shido viaja ao Japão para matar Saori Kido, e ataca covardemente os cavaleiros de bronze secundários, todos sem armaduras. Logo, Shun de Andrômeda e Seiya de Pégaso retornam com armaduras novas, em design e força.
Após travar uma batalha como o lobo negro, um convite é feito para que os defensores de Atena enfrentem Polaris e seus asseclas em Asgard. De maneira pouco sábia, Saori e o quinteto de heróis resolvem ir até lá, onde Hyoga de Cisne encontra Freya, irmã de Hilda, que prossegue orando a Odin, sem saber que há uma enorme catástrofe ecológica às portas, uma vez que quem permitia que o gelo das rochosas não viesse a derreter eram as preces de Hilda, interrompidas pela batalha que foi convocada pela possuída moça.
Atena se dedica a segurar o esfriamento do gelo, ainda que o efeito seja somente até o anoitecer daquele dia, sob pena da deusa encarnada morrer. O senso de urgência é pontuado novamente. Thor de Phecda (a estrela Gama) o ataca, reforçando a ideia do protagonista enfrentando um brutamontes gigante – reprisando Cassios, Aldebaran e tantos outros. Cada um dos guerreiros deuses tem uma conexão sentimental com Hilda, Thor inclusive, que era caçado por outros homens unicamente por ser fisicamente diferente. A mudança súbita de caráter da sua devotada faz o personagem estranhar, factoide que o acompanha até a sua morte diante do Pégaso, tomando consciência ao final de que os guerreiros de Atena talvez estivessem certos, sentindo inveja por sua musa não ter um cosmo tão terno quanto o da deusa grega.
Munido do nome do canino que anunciaria o Ragnarok – evento semelhante/equivalente ao apocalipse bíblico – Fenrir de Alioth (estrela Epsílon) ataca Shiryu, que acabou de chegar da China, com seus lobos assassinos. O Dragão tem devaneios com Shura de Capricórnio, que o salvou no último instante possível, e que pediu ao saint de bronze que protegesse a deusa de maneira tão fiel quanto ele tencionava. A luta com Fenrir é graficamente fraca, com um tempo demasiado gasto na discussão filosófica sobre confiança e abandono, baseado no background de Fenrir com a traumática morte de seus pais pelas garras de ursos. Sozinho, o pequeno órfão viu os que acompanhavam seus pais fugirem, enquanto lupinos selvagens vieram ao seu socorro. As lições de moral e os choramingos aproximam-se de uma tática barata de lamento, semelhantes a um papo de botequim regado a muita literatura de autoajuda, algo que piorado por um desfecho piegas que guarda semelhanças enormes com o que foi visto com o Pinguim de Danny DeVito em Batman – O Retorno.
Hagen, de Merak (estrela Beta), se põe à frente do Hyoga e demonstra grande poder, além de ter um background semelhante ao de Shura, uma vez que é também o mais fiel dos servidores de Hilda. A base de poderes do guerreiro deus também é o gelo, o que faz de sua luta com Cisne uma redundância absoluta. Piora a situação pela cafona amizade platônica entre Hagen e Freya, interrompida pelo pseudo-flerte com Hyoga. O passo seguinte mostra uma luta para ser o pequeno capacho da moça loira, sem qualquer garantia de que algum dos dois terá qualquer êxito com o ser do belo sexo. A luta só acaba após a intervenção de Freya, que assiste a um circo de horrores movido pela teimosia de Hagen em não ceder sequer aos apelos de sua amada, restando apenas o choro da garota.
Uma revelação é dada a partir do prelúdio da luta de Shun, em que são mostrados os cavaleiros de ouro dando seu sangue para reconstruir as armaduras de bronze, por isso o novo design, mais parecido com a dos mangás. Mime, de Benetnasch (da estrela Eta) é mais um cavaleiro que usa a música da harpa, como foi com o Orfeu de Lira, do mangá da saga Hades e do filme da Batalha de Éris. A história pregressa de Mime é interessante por perverter um dos plots do início do mangá, com a vontade de Ikki e dos outros de acertar as contas com o pai ausente que tiveram, Misumasa Kido. Mime teve a oportunidade de assassinar seu ancestral, claro, por uma vingança terrível, com o assassinato sem piedade de seus pais verdadeiros. Após mais uma luta psicológica, Ikki de Fênix convence Mime de sua miséria existencial, fazendo ele mesmo dar fim a sua existência, se entregando em prol da verdadeira justiça.
A outra batalha também revela um alguém cuja psicologia é mal resolvida: Alberich, de Megrez (estrela Delta), tratado severamente por Hilda. Marin corre em Asgard e é pega por um dos escudos de ametista do guerreiro deus. Logo, Pégaso o alcança, e é inquirido por Alberich a entregar a safira que conseguiu vencendo seu oponente. Megrez se diferencia de seus pares por ter uma intenção claramente maligna, piorada pela ciência resultada da condição de Hilda. O plano de Alberish seria derrubar a mulher dominada para então governar a Terra, mesmo com as inundações. O modo como o guerreiro é derrotado assemelha-se a tantas outras lutas de Shiryu, acrescido mais uma vez de uma curiosa interferência do Mestre Ancião, uma curiosa e até interessante lembrança do passado do mentor, banalizada, é claro, pela vontade do Dragão em tirar a armadura para enfrentar de peito nu seu adversário.
A luta contra Shido de Mizar (a estrela Zeta) sofre de alguns problemas de “esclarecimento”. Primeiro por ele já ter se apresentado no Santuário e no Japão, depois por ser ele a razão de Marin ir até Asgard. Mas o fator mais tosco para a revelação dos seus segredos é a abertura, que mata qualquer surpresa sobre sua condição. Shun é o primeiro a chegar, e como se esperava é derrotado por sua fragilidade, ampliada na animação se comparada ao texto original. Apesar da interferência dos sobreviventes Pégaso e Cisne, é o efeminado saint que permanece com a presença de Mizar, liberando o caminho para os seus amigos. A aura mística ao redor de Shido é examinada por Aldebaran de Touro, cujo mistério ajuda a ser desmistificado por Freya, que resume a questão da estrela gêmea de Mizar, chamada Arkor. O plot reprisa a questão do cavaleiro negro de Dragão, que no mangá tinha um irmão gêmeo cego e que também agia pelas sombras do guerreiro titular. Por ter sido suprimido do desenho, seria natural que tivesse inspirado os roteiristas da Toei a evoluir o conceito.
Depois de derrotar Shido, Shun recebe a visita de Shina, que conta sobre a possibilidade da duplicação do inimigo, então Bado de Arkor (ou Alkor) finalmente se revela para então lutar contra a amazona. O background dramático mais uma vez atenta para o abandono e uma forçada orfandade, a mais cruel até então mostrada em Cavaleiros. A dura criação como selvagem, sem as graças da família rica, fez Bado crescer rancoroso e mau, agravando a situação com a promessa da já maligna Hilda, de que só seria elevado ao posto de guerreiro deus com o falecimento do seu gêmeo.
A rejeição de Bado talvez seja o ponto alto da Saga de Asgard, que consegue finalmente atingir uma chance de superação em matéria de roteiro, somente neste atingindo o intuito de parecer um argumento adulto. É o arquétipo de amizade e fraternidade entre Ikki e Shun que faz vencer o tigre branco através do Golpe Fantasma.
Bado enfim percebe seu erro, e diante de seu irmão que sobreviveu desiste da luta, em nome do sentimento de fraternidade. Assim, os irmão Shun e Ikki podem prosseguir em encontrar Hyoga e enfim avistar o sobrevivente Seiya, o qual vai atrás da última safira que está com Siegfried de Dhube (estrela Alfa), o guerreiro deus que carrega o nome de um herói mitológico asgardiano. Seu golpe é o que mais revela a categoria de fidelidade às divindades, A Espada de Odin facilmente vence o combalido Seiya, que cai ante seus amigos.
Siegfried segue lutando contra Ikki, se desfazendo de seus golpes com uma facilidade atroz, e mesmo o imortal cavaleiro de bronze, sucumbe pelas mãos do hábil guerreiro de gelo. Shun é o próximo a tentar, e até consegue resistir um bom tempo graças a sua Defesa Circular, mas não o bastante para não cair pela Espada de Odin.
Siegfried também mostra uma devoção cega a Hilda, mesmo diante dos apelos de Freya, que deixa claro que algo está estranho em sua postura, e que o mal tomou o cerne de seu pensamento. Após o Pégaso levantar mais uma vez, Shina se coloca na frente do ataque Vendaval do Dragão, dessa vez assistido por Shiryu.
Logo Hilda recebe a visita de um enviado do homem que pôs o Anel de Nibelungo em seu dedo. Após ver a recusa de seu fiel escudeiro, Hilda decide desferir um golpe em Seiya, impedida pelo guerreiro deus, que percebe que o ideário dos Cavaleiros de Atena tem muito mais compromisso com a justiça, conquistando reunir a tenacidade dos guerreiros derrotados e, claro, da deusa também. O real inimigo então surge: o misterioso flautista de armadura dourada Sorento de Sirene, um servo de Poseidon, deus grego dos mares que manipulou o ideal dos guerreiros deuses, e que estava desapontado com o resultado das lutas entre os guerreiros de Asgard e do Santuário.
O último ato do cavaleiro de Dhube é entregar a safira a Seiya e depois causar um ataque kamikaze a Sorento, para então deixar o Pégaso livre para enfrentar Hilda. O cavaleiro não hesita em atacar uma mulher sem poderes, contrariando o cavalheirismo no comportamento do personagem do mangá, um defeito enorme para ser ignorado. Quase morrendo, Seiya ouve a voz de Saga, tentando animá-lo a lutar. Após reunir as safiras, a armadura de Odin enfim se desgarra da estátua e toma o corpo de Seiya, para tentar enfim destruir o anel que exerce o controle de Poseidon sobre Hilda através da Espada de Baumung.
Após vencer o feitiço, Hilda entrega o próprio sangue e segura a espada de seu ídolo, tencionando recuperar as geleiras de Asgard e, claro, garantir a fuga dos guerreiros de Atena. Apesar do belo grafismo, toda a saga filler exibe um sofrível roteiro com lutas pouco excitantes e backgrounds muito genéricos.
O final do episódio 99 é pontuado por uma onda gigante que produz um ralo gigante em meio ao oceano, sumindo com o corpo da deusa da sabedoria, que aparece nos braços de um cavaleiro de armadura dourada, cujo tridente no capacete não deixa qualquer dúvida sobre suas intenções e ações. A Saga de Poseidon seria a próxima parada de Seiya e os outros.
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Confira também:
A Primeira Parte do Review da Saga do Santuário, correspondente a Guerra Galáctica A Segunda Parte, correspondente a Saga dos Cavaleiros de Prata. A Terceira Parte, correspondente a Batalha das Doze Casas.
A caminho da Grécia, Saori Kido levanta a possibilidade de Ares estar mentindo em relação a sua identidade, além de aventar a quantidade de cavaleiros de ouro existentes, um para cada signo do zodíaco, totalizando doze. Paralelamente a isto, Aiolia de Leão encara o Mestre do Santuário, indagando-o sobre a verdade. Quando o vilão finalmente assume seu papel diante do seu antigo lacaio, mas antes que os dois pudessem finalmente se encarar, a dupla é interrompida por Shaka, o lendário cavaleiro de Virgem, adentrando uma batalha de mil dias.
Os cavaleiros de bronze são recebidos, na Casa de Áries, por um monge, e antes de passar pelas escadarias reencontram o Shiryu. Logo, o capanga se revela Tremy, cavaleiro de prata de Sagita (flecha), um sujeito fraco, mas que consegue desferir uma flecha dourada em Saori, deixando-a gravemente ferida, à beira da morte.
Como com Jamian de Corvo, mais uma vez Seiya deixa Kido em perigo, no que seria mais um dos clichês do seriado, com a reencarnação da deusa sempre se inserindo em situações bastante inquietantes e de perigo intenso, tudo para que seus rapazes provem seu valor. A repetição é uma das chaves dos roteiros de Masami Kurumada. Desta vez o senso de urgência é magnânimo, já que eles precisam atravessar toda a extensão do Santuário para salvar a reencarnação da deusa da Justiça.
A primeira passagem é pela Casa de Áries, onde Mu usa enigmas, para depois restaurar as armaduras de bronze, deixando-os mais fortes. Esse ínterim dura uma hora, e eles finalmente têm de enfrentar o gigantesco Aldebaran de Touro. A luta de Seiya contra ele é bastante anticlimática, uma vez que o Pégaso somente decepa um dos chifres da armadura do personagem, após atingir a velocidade da luz, o sétimo sentido – algo somente conferido aos cavaleiros de Ouro. Aldebaran percebe que algo está errado, uma vez que por trás dele há um cosmo gigantesco, poderoso demais para um espécime daquela patente. Ele deixa os moços passarem quase sem lutar, mas os adverte para ter mais atenção, pois nem todos serão benevolentes. Mais tarde, ao falar com Mu, Touro declara que o quarteto não era formado por traidores, assumindo, apesar dos pesares, que eles deveriam ter a justiça ao seu lado.
Na terceira Casa, de Gêmeos, os meninos passam por uma ilusão, demorando demais a perceber o ardil, que seria encabeçado pelo Mestre do Santuário. A ilusão de ótica faz com que Pégaso e os outros se enredassem em um labirinto falso, percebido pelo cego Shiryu. Shun e Hyoga prosseguem perdidos ali, tendo um resgate pelas mãos de Ikki, que atacou Ares de modo mental.
Enquanto isso, Hyoga é transferido para a casa de Libra, onde encontra “o mestre do seu mestre” Camus de Aquário. O que deveria ser um interessante encontro perde força graças ao desnecessário filler do Cavaleiro de Cristal. Toda a emoção e reencontros do Cisne com sua mãe, numa imaginação no além-vida, são também banalizados graças às invencionices da Toei.
Após a queda do Cisne, Seiya e Shiryu chegam à Casa de Câncer, onde enfrentam o cruel Máscara da Morte, lugar em que se pisoteiam as faces dos guerreiros mortos pelo cavaleiro de Ouro. A batalha envolve ataques semelhantes a ilusões, onde o Dragão é lançado ao inferno, quase sucumbindo à armadilha de seu adversário, salvo duas vezes por espécimes femininos: primeiro pela deusa Atena, e depois por sua amada Shunrei. A gratidão pela moça, que acompanhou todo o treinamento do personagem na China é enorme, tão intensa que suas orações o fizeram retornar ao mundo dos vivos, num emocionante impulso e com um retorno triunfante. Sobre seu inimigo, este sofreu sua ira por ter menosprezado o espírito de Shunrei. Após inúmeras tentativas de acertar a Máscara da Morte, a armadura de Câncer abandona seu hospedeiro, em uma atitude semelhante ao que ocorreu na luta de Pégaso contra Aiolia. O cosmo de Shiryu também é elevado ao sétimo sentido, munido por Atena. Sem sua armadura, lança um ataque que finalmente encerra a existência do inimigo, talvez o mais vil de toda a saga.
Na casa de Leão, Seiya enfrenta um estranho Aiolia, emulando a dupla personalidade que seria vista mais à frente com o Mestre do Santuário, algo semelhante com o que ocorreu anteriormente com o Cavaleiro de Cristal e com Ikki. Cassios, que cuida de Shina após o ocorrido no Oriente, fala do golpe Satã Imperial, que põe o Leão em uma fidelidade incontestável a Ares. A batalha está quase vencida por Aiolia até que o gigante ex-rival de Seiya se põe na frente do herói, oferecendo-se como sacrifício para que sua musa Shina não sofra.
O próximo cavaleiro a ser enfrentado é aquele que é o mais próximo de Deus. Para ambientar o público, mais dois (chechelentos) fillers aparecem: Shiva de Pavão e Ágora de Lótus (que sequer é uma constelação), dois discípulos de Shaka designados para atacar Ikki na Ilha da Rainha da Morte. Curiosamente, duas incongruências são notadas. A primeira é que antes a infernal ilha não tinha condições básicas de vida, agora possuía uma mini aldeia, com pessoas que protegem seu regente, o Cavaleiro de Fênix, sem qualquer explicação prévia. O segundo ponto tosco é a condição dos dois capangas de Virgem, que deveriam ser pacíficos budistas, mas humilham os aldeões sem necessidade alguma.
Após se desvencilhar facilmente de Shun, Seiya e Shiryu, Shaka enfim enfrenta Ikki, que, entre uma ilusão e outra, tenta fazer do combate algo parelho, quase nunca com sucesso. Após descobrir que o Cavaleiro de Virgem é na verdade a reencarnação de Buda, ele passa pelos seis mundos do ataque do seu inimigo, em mais uma mostra do ecumenismo pregado por Kurumada. O sacrifício de Fênix reforça o ideal defendido durante a série, tendo na próxima luta outra repetição de clichês do programa: as interações homoeróticas. Após perder seu irmão em uma batalha, Shun se entrega de corpo e alma para salvar o recém salvo do congelamento Hyoga, que ao se estabelecer, leva seu amigo nos braços, como uma bela adormecida efeminada, diferenciando-se demais da mesma cena no mangá.
A luta com Miro de Escorpião faz lembrar outro defeito recorrente de Saint Seiya, que é a eterna gangorra de poder que os cavaleiros de bronze se submetem, sendo fortes e poderosos em um momento e absolutamente inúteis em outro, até que um cavaleiro surge e vence um dos poderosos rivais, fazendo dos sacrifícios – que deveriam ser belos em situações frívolas e genéricas – prejudicados pela repetição de cenas e de problemáticas. Ikki perdeu seus sentidos ao lutar contra Virgem; Hyoga se esvai em sangue quase a ponto de desacordar contra Escorpião, reprisando o drama anterior, banalizando o que deveria ser uma luta interessante.
O filler presente na casa de Sagitário é mais um evento irritante, que contradiz completamente a ideia de fidelidade presente na postura de Aiolos, tendo seu passado finalmente justificado pela fala do próximo guerreiro, Shura de Capricórnio, o responsável por sua morte. A luta dos dois é visualmente bela, mas se destaca especialmente pelo duplo sacrifício dos adversários, que se repete na próxima Casa, na batalha entre mestre e pupilo, travada entre Hyoga e Camus de Aquário, questão esta que seria revisitada em Hades.
No início do Santuário, nas escadarias, Jabu de Unicórnio e os outros cavaleiros de bronze secundários guardam Saori, lamentando, entre outros fatos, a disparidade de poder e o tamanho do cosmo entre eles e os que sobreviveram, Seiya e Shun. Ares segue em seus devaneios de dupla personalidade, relembrando cada um dos reveses dos cavaleiros dourados e a quantidade enorme de desobedientes e rebeldes. A batalha entre guerreiros efeminados acontece entre Afrofite de Peixes e Andrômeda, que tenciona vingar seu mestre Albion (ou Albiore, na tradução correta, versão filler do personagem do mangá Daidalos) de Cefeu, que foi morto. Quando o último inimigo tomba, sobram apenas os soldados rasos antes do Mestre do Santuário, comandados por Piton, facilmente derrotados por Marin e Shina. Após salvar seu pupilo, a amazona de Águia reforça a famigerada – e péssima – ideia de ser ela Seyka, a irmã perdida do cavaleiro de Pégaso, fato que em nada acrescenta à disputa entre o protagonista e o agora revelado Saga, que fingiu ser Ares o tempo inteiro, em mais uma confusão de inversão dos sentidos do texto original do mangá. Finalmente os eventos começam a ficar interessantes, quando Saga cai ao chão, revelando sua dupla personalidade, pontuada pela dublagem com um timbre mais grosso e pela mudança da coloração de seus cabelos. Paralelo a isso, as amazonas discutem a ida de Marin a Starhill e o cadáver que se viu lá, o do Mestre do Santuário, designado de forma confusa como Ares, e não Shion, como seria no mangá.
Após uma manobra desesperada, o pedante cavaleiro de Pégaso consegue enfim tomar o escudo da estátua de ouro da deusa Atena e salvar sua reencarnação Saori, com a ajuda do revivido Ikki. Restabelecida, a divindade em forma de menina retorna às doze casas, recebida com humildade pelos cinco cavaleiros de ouro restantes.
Com seu poder, Kido restabelece a saúde de Shiryu, Hyoga e Shun. Diante de seus antigos companheiros e da criatura que tentou matar 13 anos atrás, Saga se entrega ao julgamento de Saori, reclamando o perdão por tê-la traído e quase matado-a. A mensagem final da Saga do Santuário é de que, mesmo os mais fracos homens, municiados com a justiça, são capazes de vencer quaisquer adversários ou situações conflitantes. Relembrando que a amizade é o maior dos bens da juventude, salvando-se mesmo com as medíocres partes inventadas pelo estúdio de animação.
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Confira a Primeira Parte do Review da Saga do Santuário, correspondente a Guerra Galáctica, e a Segunda Parte, correspondente a Saga dos Cavaleiros de Prata.
Após vencerem Ikki, são revelados novos inimigos, seres esquisitos que atendem ao Mestre Ares, o novo regente do Santuário da Grécia. Petroleiros são atacados, a economia é completamente mudada – o porquê jamais é dito – e em meio ao lugar onde Seiya treinou tudo mudou: torturas são feitas a quem não obedece as ordens do novo mandatário, e até Marin é subjugada, motivada pela morte do antigo mestre.
É neste elemento que há uma das principais e mais irritantes diferenciações entre o texto original e a produção da Toei, pois Shion, o antigo mestre do santuário só teria morrido alguns dias depois que o cavaleiro de Pégaso voltou para sua terra. A partir daí, um freak show começa, organizado por dois toscos personagens, Gigas e Piton, que mobilizam um sem número de personagens que sequer têm constelação – que dirá cosmo! – para enfrentar o quarteto.
Finalmente a identidade real de Saori é declarada, como a reencarnação da Deusa Atena, mas isto é aplacado por momentos de qualidade duvidosa com Seiya, Hyoga, Shun e Shiryu aguardando um ataque de seu “forte” inimigo, Dócrates, protagonizando cenas de vergonha infinita, com Kiki dormindo com o cavaleiro de Dragão enquanto Andrômeda se banha, e é flagrado nu no chuveiro, enquanto Saori monitora TODAS as anomalias de poder pelo passar da história, somente para provar que os cavaleiros tiveram ingerência nisso.
Após vencer o gigante embevecido, Atena percebe que tinha alguém pelas sombras, uma entidade maligna que visava destruir a humanidade, e mais capangas genéricos são levados a enfrentar Seiya e os outros. O primeiro dos adversários é Jisty e seus cavaleiros fantasmas que “audaciosamente” raptam um navio petroleiro, numa atitude ecoterrorista. Os cavaleiros de bronze se rendem como negociadores de raptos e sequestros, se deparando com piratas. O dramalhão é na verdade uma ilusão de Jisty, que logo é vencida, numa batalha mequetrefe com Seiya.
A ira de Ares prossegue, até que um “bravo” guerreiro o impele, perguntando o motivo de tudo o que estava assolando os saints de bronze. Seu nome é Cavaleiro de Cristal, um filler que seria mestre de Hyoga, tendo também no gelo a base do seu poder. Paralelo a isto, um ar de conspiração prossegue no Santuário. Enquanto isso, na Sibéria, o antigo mestre, com um visual bastante carnavalesco e extravagante como Tina Turner em Mad Max 3, e ainda mais mortal que o da titia. O conceito é péssimo por contradizer alguns dos bons plots, explorados na parte das 12 casas e Poseidon. Pior que isto é a construção de uma pirâmide de Gelo, pensada por Gigas, que tencionava homenagear o novo mestre do santuário numa demonstração de puxa-saquismo das mais esdrúxulas, que em torno de si produziu inúmeras cenas constrangedoras; de escravização moderna de moradores do local, todos brancos, evidentemente, pondo até Hyoga de Cisne para enfrentar homens com metralhadoras AK-47, mas que nada fazem diante do poder do sujeito. Após uma piegas batalha, Cristal volta a si, e pede perdão ao seu pupilo.
Mais um guerreiro genérico é convocado por Gigas, dessa vez o capanga tem uma intensa relação com o pequenino vilão. O Cavaleiro do Fogo – também sem constelação – foi salvo ainda criança por Gigas, e resolve atacar a mansão da Fundação Kido, raptar Tatsumi e buscar o capacete da armadura de Sagitário. A batalha serve para pouca coisa; basicamente faz com que Gigas se defronte com Saori, e é a primeira desculpa no desenho para que Ikki renasça, na mais açucarada e cafona de suas encarnações.
Com o desaparecimento de Gigas, Piton toma seu lugar e ordena Marin para matar Seiya, seu antigo pupilo. Receosa, ela deveria acompanhar O Cavaleiro de Prata, que iria ao Japão acabar com os meninões. Com o retorno de Ikki e com as informações que Shiryu conseguiu na China e as de Seiya obtidas na Grécia, finalmente os moços descobriram que o inimigo vinha de cima.
O poderoso cavaleiro que jamais sangrou ou sentiu dor, Misty de Lagarto, vai até o Japão com Marin para humilhar o Pégaso. A mestra tenta ludibriar seu companheiro, permitindo que Seiya viva, escondendo-o embaixo da areia da praia. O formidável guerreiro descobre o ardil, e depois demonstra todo o seu magnânimo poder em uma das batalhas mais bem urdidas até então. A saga finalmente começa a ficar séria com embates de verdade, retornando aos personagens antagonistas pensados por Kurumada, deixando de lado os tapa-buracos toscos. Talvez seja Misty, o mais poderoso dos cavaleiros de prata, apesar de toda a sua afetação e clara alusão a homossexualidade – talvez um modo eufemístico que o autor buscou para tentar fazer valer ainda durante os anos 80 um discurso de igualdade e aceitação dos diferentes gêneros sexuais, além da “orgulhosa” heterossexualidade. Fato é que outros personagens também teriam os mesmos trejeitos efeminados, quase todos poderosíssimos, quebrando a ideia de que seriam “estes” fracos. O narcisismo e a soberba fazem com que Lagarto fraqueje, mesmo diante de um adversário inferior. Por ter sido vencido, Misty aceita a própria morte, assumindo que sua entrega deveria ter sido maior.
A mentora de Pégaso sofre bastante ao ter seu estratagema evidenciado por dois outros cavaleiros de prata, Moses de Baleia e Asterion de Cães de Caça, que com seus poderes telepáticos, lê sua mente. Após a dupla machucar Marin, Asterion revela um dos motivos que poderia explicar a devoção da moça ao seu discípulo, já que ela teria ido ao Santuário atrás de seu irmão perdido, possivelmente o herói que dá nome a série. A amazona perdeu suas lembranças anteriores graças a máscara que usa, e ao saber de tudo isto, Seiya consegue enfim ter poder suficiente para vencer o cavaleiro de prata de Baleia, que não consegue revidar o ataque furioso do protagonista. Após isto, Asterion ataca Seiya, que está fraco e cansado, mas não consegue matá-lo graças a Marin, que se livra das correntes com a ajuda de Kiki (que se mostra útil, além do simples papel de amigo-íntimo), que também a põe em um invólucro de proteção mental, podendo assim vencer o telepata.
Após o triplo combate, finalmente é contada a real origem de Saori, além do sacrifício de Aiolos, antigo cavaleiro de Sagitário que, por isso, entregava Mitsumasa a pequena Atena e a armadura de ouro. O descanso é curto, já que Babel, cavaleiro de prata de Centauro é enviado para acabar com os espécimes de bronze. Ele leva uma vantagem enorme, até a chegada dos “portentosos” fillers dos Cavaleiros de Aço, figuras que não têm qualquer relação com Atena e que são pensadas pelo velho Kido como possíveis reforços para a proteção de sua neta, pelo viés tecnológico, algo que vai completamente contra a ideia original da saga. Interessante é que a primeira atitude deles é somente olhar a batalha ao longe, para somente tentar deter Babel após os outros caírem. Depois de quase estragarem a luta, Hyoga os vence, para depois o cavaleiro de Centauro perceber que Saori era Atena, morrendo perdoado em seguida.
Shina pede a Piton uma chance de finalmente enfrentar Seiya, e então recruta Algol, o cavaleiro de Perseu, que cruelmente transforma os desertores do Santuário em pedra. Junto a Spartan (exclusivo do desenho), um telecinético cavaleiro, atrai o avião de Pégaso, Andrômeda e Dragão para um local na Grécia, longe do destino inicial deles. A tripla batalha acontece, com Seiya vencendo Shina, para logo depois Algol transformar Pégaso e Andrômeda em pedra. Spartan tenta manipular Shiryu, mas é estúpido o suficiente para ser também feito de estátua. O sacrifício de Shiryu seria o primeiro de muitos momentos repetidos de todas as sagas, um dos clichês de CDZ, mais repetido na animação que no próprio mangá.
Após finalmente vencer Algol e não conseguir recuperar a visão de Shiryu, o baixo astral toma conta dos cavaleiros, que se veem como culpados pelo acontecido. Ikki se retira, visando enganar os vilões, e o stress faz com que os que sobraram fiquem desatentos. Saori é raptada pelo nada belo Jamian de Corvo, e após salvar Kido, Seiya finalmente tem um momento de constrangimento registrado, onde ele flerta com a deusa que deveria ser virgem. A atitude é condizente com o público infanto-juvenil do seriado, o que não aplaca em nada o seu caráter irritante.
Após Jamian cair, mais dois cavaleiros de prata se apresentam, Dante de Cerbero e Capella de Auriga (Cocheiro). Os cavaleiros ainda acordados lutam contra a dupla de prata, com pressa, para salvar Seiya. Ambos sucumbem, até que Ikki retorna, para mais uma vez salvar o dia e deixar a luta mais fácil para que Shun e os outros acabem com seus inimigos.
O que deveria ser a parte mais enxuta e com combates mais francos de toda a saga do santuário é enfraquecida pelo excessivo número de fillers. Os últimos episódios guardam retornos de Ikki e Shiryu para seus lugares de origem, para enfrentar fracos oponentes, além da inclusão de um cavaleiro de prata sem constelação – Aracne de Tarântula – que basicamente só atrasa Seiya, que busca Mu em Jamiel, além da água milagrosa que curaria os olhos do Dragão. Sem armadura, Pégaso é atacado de modo covarde, e o combate é interrompido por Shô, Cavaleiro de Aço do Céu, o que faz da batalha algo ainda mais mequetrefe. Enquanto isso, a armadura de Sagitário simplesmente desaparece, parando no fundo do mar, deixando tanto Ares quanto todos na fundação Kido confusos.
E enfim o mistério dos cavaleiros de Ouro é quebrado. Miro de Escorpião é chamado ante o Mestre do Santuário, que após uma conversa fica perplexo com a queda dos cavaleiros de prata. O prenúncio da última parte da saga estaria ali, além da revelação de que os cavaleiros de ouro eram como uma sociedade secreta, onde até os membros do clã não sabem quem faz parte da classe. Aiolia se revela como cavaleiro de Leão, e se responsabiliza por encontrar Seiya e os outros, mas Miro é designado a vigiá-lo, para que não rume para a traição como seu irmão. Após lutar com Seiya, Aiolia quase mata Shina, mas ao discutir com Pégaso ele decide poupar a vida da amazona, ainda achando que os cavaleiros de bronze eram traidores da causa. Finalmente Dios de Mosca, Sirius de Cão Maior e Algethi de Hércules atacam o debilitado protagonista da série, ao mesmo tempo que questionam a fidelidade do Leão.
Em meio ao massacre, a armadura de ouro de Sagitário busca Seiya, e o protege do ataque de seus opositores, que com um único golpe, encerra o combate. A configuração da sagrada vestimenta é bem diferente da que foi mostrada em Guerra Galáctica, mas a explicação dada para isto, no mangá, simplesmente foi suprimida no desenho. Saori se revela ao irmão do pretenso traidor, revelando como Aiolos foi um homem bravo e como o “cavaleiro Ares” foi um traidor, até sugerindo sua real identidade. Aiolia assim se convence que ela é mesmo a reencarnação, mesmo negando para si, após Seiya reter o seu golpe da Cápsula do Poder. Pégaso consegue enxergar o poder na velocidade da luz, e logo após, Leão vê sobre seu adversário a imagem do fantasma de seu mentor injustiçado (figura abaixo).
Aos poucos mais e mais guerreiros dourados atacam os rapazes, com Máscara da Morte de Câncer e sua justiça condicionada ao poder, sendo encarregado de se livrar do cavaleiro de Libra, o Mestre Ancião. Ainda cego, o Dragão teima em enfrentar Câncer, mas é impedido pelo misterioso Um, que enfim se revela como o cavaleiro de ouro de Áries, e proíbe o confronto.
Hyoga, Shun e Seiya resolvem ir até o Santuário para ter um embate direto com Ares. O quadragésimo episódio serve para fechar o preâmbulo da luta das doze casas, rememorando a trajetória sangrenta que acometeu cada um dos moços, tendo em seu conteúdo até a súplica de Mino, que teme em não encontrar Seiya novamente.
A última luta é bastante sofrível, envolvendo dois fillers que teriam trabalhado com Shun na Ilha de Andrômeda, ao mesmo tempo que se descobre que Albion, cavaleiro de prata de Cefeus e mestre de Shun pereceu diante do poder de Miro de Escorpião, o que mostra o poder que essa elite carrega. O preâmbulo finalmente se encerra, e os jovens vão até a Grécia, junto a Atena, para finalmente realizar um embate entre Saori e a entidade que tentou assassiná-la. A parte clássica do anime se aproxima!
(Continua…)
Confira a Primeira Parte do Review da Saga do Santuário, correspondente a Guerra Galática.
Projeto de luta entre adolescentes que são enviados, ainda crianças, aos lugares mais cruéis do mundo – esse é o ideal de Mitsumasa Kido, avô de Saori Kido, uma jovem filantropa, responsável por uma organização de cunho ambíguo, que seria ligada a justiça mesmo com esse triste esquema de exploração de menores, mas que esconderia um segredo ainda mais escuso.
Seiya, o protagonista – e que dá nome ao seriado – chega finalmente da Grécia, munido de sua armadura de bronze, da constelação de Pégaso após duas lutas bastante sangrentas; aguardam-no no Japão, onde está ocorrendo a Guerra Galáctica, torneio que envolveria dez dos cem meninos enviados pelo avô de Saori ao redor do globo. O entrave poria à frente os cavaleiros de bronze. O herói, ao chegar a sua terra natal, não buscava lutar, mas sim encontrar Seyka, sua irmãzinha – tal prerrogativa seria esquecida, um pouco depois – que teria desaparecido há seis anos, quando ele partiu para a Grécia. O mistério percorreria todo o seriado na jornada proposta por Joseph Campbell.
Cada um dos aventureiros é mostrado de modo demasiado heroico e didático, em lutas de proporção dantesca em meio a um ringue semelhante aos usados em espetáculos de boxe, onde os personagens se digladiam e praticamente esmigalham as armaduras de seu adversário – especialmente na luta entre Pégaso e Geki de Urso. Após a luta, é apresentado o ariano Hyoga de Cisne, um cavaleiro que tem no gelo a fonte de seu poder, e que finalmente chegava da Sibéria. Sua postura era tão ambígua que passava a impressão de ser um vilão, uma vez que foi só o nono cavaleiro a chegar, motivado pela vitória de Seiya e pela vontade incontrolável de vencê-lo, o que se faz discutir o protagonismo da historieta.
Os outros cavaleiros apresentam características básicas, que diferenciam os protagonistas dos outros, mas cujos conceitos são completamente ignorados ao longo do seriado. Shiryu de Dragão tem o punho e o escudo mais forte dentre os cavaleiros de bronze, além de deixar à mostra o seu coração ao executar o Cólera do Dragão. Mas ambos os aspectos quase nunca mais são mencionados, assim como a supostamente intransponível defesa da Corrente de Andrômeda, que se mostra uma defesa praticamente perfeita, mas que se resume a praticamente nada após o término da Guerra Galática, assim como a moral e a autoestima de seu portador.
Logo o motivo de Shun ter se tornado apenas um capacho é o retorno dos mortos de seu irmão mais velho, o portentoso – e mais carismático, além do mais forte dentro os “saints” de bronze – cavaleiro de Fênix. Ikki desperta no caçula um instinto de menininho chorão, fazendo-o tornar-se um inútil, ainda no Coliseu do Japão, para então produzir um show off de maldade, maltratando seu irmão e humilhando antes seus amigos e diante da multidão, bem diferente da atitude dele quando infante, super protegendo seu fraterno, indo até a Ilha da Rainha da Morte, um lugar terrível.
De volta ao Japão, Ikki resolve interromper o torneio e rouba a armadura de ouro de Sagitário, levando com que os outros quatro protagonistas o cacem, se deparando com os temíveis cavaleiros negros, seres maléficos que imitam os reais servidores de Atena.
Ainda há espaço para alívios cômicos, com a visita de Saori ao cais, onde Seyia está alojado, produzindo um momento de vergonha alheia, em que os dois jovens se veem em um momento de forçada intimidade, que além de mostrar a vergonha típica da puberdade, também revela uma mudança de postura da moça, que, aos olhos do herói, deixou de ser uma simples garota mimada para transparecer uma real preocupação com ele e com seus amigos.
Ikki é um vilão formidável, se mune da intimidade que tem com os outros defensores da deusa da sabedoria para subjugá-los, humilhando cada um deles, usando seus capangas para enfraquecê-los para logo depois acabar com cada uma das poucas boas memórias que os infantes têm.
Ao final, ao combater seus antigos amigos, Ikki demonstra que Shun quase não evoluiu, apesar de ter passado por maus bocados na Ilha de Andrômeda. O rapazinho de cabelo verde e aparência gay impede Cisne de destruir Fênix, que, após ludibriar seus adversários com o Espírito Diabólico, prova não ter mais algo a ser ferido em sua alma, graças ao que viveu na época de seu duro treinamento.
A motivação de Fênix para buscar vingança é plausível e envolve a origem dele e dos outros cavaleiros de bronze, no entanto o estúdio Toei alterou a raiz do problema, possivelmente por achá-lo muito maduro para um produto infantil, fazendo de Ikki apenas um lacaio do Santuário, de seu falso mestre e, claro, de um dos caracteres unicamente criado para o anime, ignorando isso. O viés que o faz atravessar o globo atrás de seus inimigos é impelido por uma ordem tola, ao invés da ganância amalgamada com a revanche, o que faz o inimigo ser banalizado.
Todo o arquétipo da amizade reforça o espírito de Seiya, que tem nas armaduras de Ouro, de Dragão, Cisne e Andrômeda o que falta para derrotar seu oponente, claro, descobrindo tudo ao lutar. As agruras que Ikki sofreu no lugar que chamava de inferno foram suavizadas, assim como quase todos os momentos de complexidade maior. Suas provações somente são aplacadas pelas atitudes de Esmeralda, uma menina que o futuro cavaleiro imortal vive confundindo com seu irmão Shun, numa das primeira referências à homoafetividade do anime. Aparentemente, algo mudou a postura de Guilty, o treinador, uma vez que sua filha Esmeralda dizia que ele era um homem bom, até retornar do Santuário. No entanto, seu poder de persuasão é enorme, uma vez que, após toda a tortura, ele convence o bravo e destemido rapaz a somente deixar o ódio dominar o coração através de um trauma enorme, que envolvia seu único alento naqueles seis anos de aflição.
A partir dali, o personagem mudaria completamente. Um homem morreu e outro nasceu, e tal mudança perduraria em seu ethos a vida inteira, mesmo quando ele retorna à luta ao lado do seu irmão. A noção de moral e ética de Ikki é completamente diferente de Seiya e dos outros, semelhante ao de muitos cavaleiros de prata, movido um bocado pelo posicionamento exclusivista, mas ainda assim, honrado a seu modo.
Ikki ainda tem tempo de se arrepender de sua “traição”, assumindo o amor por seu irmão. No entanto, o fato de literalmente ignorar o segredo de Kido, tudo para fomentar uma não necessária rivalidade entre um dos personagens criados exclusivamente para o anime, um filler, um artifício comum aos animes, quando sua periodicidade alcança a do mangá. O sacrifício do Fênix é banalizado, e alguns dos piores momentos do anime são o resultado.
Este primeiro arco revela pouco dos aventureiros, mas ajuda a fortificar a relação de amizade entre eles, apesar de ignorar a questão dos heróis terem laços sanguíneos. A devoção dos saints ainda não é posta à prova, apesar de muitos tabus terem sido quebrados, cujas referências acompanham os contos de Sófocles e mitos bíblicos, reforçando a ideia ecumênica que Masami Kurumada sempre pensou para suas criações.