Documentário autobiográfico, fruto de um experimento bastante curioso de cinema em primeira pessoa, Meu Nome é Daniel é dirigido e protagonizado por Daniel de Castro Gonçalves, que nasceu com uma deficiência que nenhum médico conseguiu diagnosticar facilmente. O longa de 82 minutos se dedica a investigar o caso do rapaz, através de cenas novas e de registros em vídeos antigos.
A primeira cena do filme é bastante natural, mostra o personagem central da trama conversando com uma pessoa próxima, no seu carro, e ali se percebe a preocupação geral de todos com a vida e estado de Gonçalves, não necessariamente por sua condição vista como incomum pela maioria das pessoas, mas também por ser ele um sujeito muito querido e amado pelos que o cercam.
É curioso e até simpático que as transições entre momentos chaves do filme ocorram através de uma tela azul, com uma fonte de letra semelhante a das gravações antigas em vídeos cassetes. As linhas temporais se misturam harmonicamente no filme, fazendo com que o público se sinta genuinamente atraído pela história de Daniel. Isso não se deve somente a montagem que facilita o apego aos personagens, mas também as declarações hiper-amorosas dos parentes da família Castro Gonçalves. Em tempos tão ególatras, essa sensação de pertencimento que o clã exala é muito bem-vinda, e funciona na contramão do estado exclusivista que predomina na humanidade.
O objetivo de Daniel era tentar, através de seu filme, descobrir qual era seu quadro clínico. Qual é o nome da doença que o acometeu ou ao menos algo que se aproximasse disso. Ele é realmente certeiro no ponto em que se permite somente elucubrar sobre sua existência, sobre a aceitação que teve dos que os envolvia, dos poucos momentos em que ele sentia que era tratado como um alguém normal, como em uma rave que ele participou e todos acharam que ele estava sob efeito de drogas, ou ainda quando o obrigaram a perder sua virgindade em um prostíbulo. Os dois eventos são bem diferentes entre si e mostram da intimidade do biografado.
Meu Nome é Daniel é surpreendentemente positivo, simples e certeiro em sua proposta de mostrar como é a vida do cineasta e astro do longa, não tentando soar como um panfleto de auto-ajuda, ainda que evidentemente tenha sido um enorme feito a entrega de um filme tão terno e competente, mesmo que não tenha em si qualquer intensão de soar como algo inovador ou pretensioso.