A experiência acumulada após muitos anos de trabalho de campo conferem a Peter Deveraux, um afastado agente da CIA, a qualidade de ser o espécime perfeito para o drama mostrado em November Man – Um Espião Nunca Morre. A sensação de deja-vu causado pela figura de Pierce Brosnan insere o público de modo quase automático, apesar de trazer ecos desnecessários para a fita, em sensações que deveriam ficar bastante distantes dos dias em que o ator vivia James Bond. O estigma segue o britânico, apesar de seus outros dotes dramatúrgicos.
Peter é escalado para realizar uma difícil tarefa, que envolve um antigo pupilo seu, ao mesmo tempo em que resgata o medo vivido na época da Guerra Fria, mas igualmente atual, especialmente se pensar na situação da Ucrânia e Donetsk. Aos poucos, os reais desígnios de Devereaux são revelados, envolvendo a figura máxima no estado de poder russo, rememorando os tempos quando 007 era vivido por Sean Connery e Roger Moore.
Acostumado a trabalhar com filmes de ação dos mais genéricos e contendo alguns pequenos clássicos no currículo (A Experiência e A Fuga), Roger Donaldson executa uma fita que lembra alguns dos aspectos de cenário e fotografia de Paul Greengrass, claro, sem a câmera na mão que lhe era peculiar, mas com uma crueza bastante semelhante nas cenas de perseguição cuja iluminação estourada faz perder qualquer traço de boa comparação com a trilogia Bourne.
Outra semelhança notável é o uso da ultra tecnologia, que faria inveja a quaisquer inventos de M. O início do filme faz pensar como seria uma aventura de Bond se fosse conduzido por um diretor “modernoso”, como Luc Besson ou por um alguém mais genérico e com menos talento, como Stephen Sommers.
O roteiro logo trata de conduzir o público a uma vingança pessoal, assassinando uma pessoa querida ao protagonista, que assiste incólume aos seus antigos mandatários deixarem sua funcionária perecer, somente por questionar suas ordens. O grupo de conspiradores se mostra desunido e sem a certeza de quais seriam seus alvos, tampouco havia clarividência de quais seriam os aliados seguros e Mason (Luke Bracey) era o que mais dava mostras dessa incerteza. Este aspecto reforça a ideia de remitência a Guerra Fria, um complicado período onde até a sombra de um homem poderia lhe fazer mal.
A impressão de que November Man é uma colcha de retalhos, que repete alguns dos bons elementos dos filmes de espionagem recentes só aumenta no decorrer da sua exibição. No entanto, o marasmo pertence a metade de sua extensa duração. A tentativa de quebra de monotonia é levada por um embate entre mentor e discípulo, que até guarda momentos de violência que não chegam a ser nem extremos, nem de qualidade indiscutível. As sequências de ação, que deveriam ser um ponto alto são executadas de modo preguiçoso e engessado, um pouco graças a avançada idade de Brosnan, muito piorada pela equivocada direção de Donaldson, que não consegue esconder sequer os defeitos de seu astro principal.
Nem mesmo a exploração da beleza de Olga Kurylenko é bem executada, tampouco sua intricada e trágica tradução é bem orquestrada ou aproveitada. As soluções do roteiro no último ato são infantis e tão enfadonhas quanto o meio do filme, não acerta nem sob a ótica escapista e nem pela realista. Vingança, reunião de almas aflitas e a sobrevivência dos heróis – tudo isto é completamente banalizado pela fraca abordagem dada ao filme, por seu caráter de remendo mal feito e de prato servido de modo insosso.