O cinema de Terror sofre de um mal enorme, praticamente desde que foi inventado – vide os filmes de monstros da Universal – quando um filme é sucesso de público e/ou de crítica, praticamente exige-se que se torne uma franquia. O resultado quase sempre é aquém do esperado e a fórmula é cada vez mais desgastada, mas alguns poucos espécimes sobrevivem a este estigma, e o capítulo segundo de Sobrenatural é um bom exemplo.
Mais uma vez capitaneado pelo excelente realizador malásio James Wan, a fita repete o que deu certo no original: câmera passeando por lugares ermos e escuros, casas produzindo sons de ranger por quase todos os cômodos, sustos mil com figuras vestidas a caráter, origem do mal ligada a um mundo paralelo, mas se permite modificar o foco. É natural que em uma sequência de um horror movie mude-se um pouco da fórmula apresentada no primeiro, mas o êxito quase nunca é alcançado, visto que o roteiro dessas produções é quase sempre muito fraco. O efeito surpresa já foi perdido com o episódio original e é necessário mexer na fórmula. O mérito por não ter ocorrido com Insidious 2 um desastre comum aos seus primos pobres, é manutenção da boa equipe criativa, especialmente do roteirista Leigh Whannell, que já havia trabalhado com Wan em Gritos Mortais, Jogos Mortais, Sentença de Morte e Doggie Heaven. O roteiro apresenta pouquíssimas falhas, e justifica cada uma das pirotecnias visuais do diretor.
A ousadia em trocar a abordagem da figura amedrontadora foi uma das melhores escolhas de Wan e Whannell, pois reprisar os clichês do primeiro seria um suicídio para a obra, e repetiria o erro de franquias das quais os dois já participaram, vide a bagunça que se tornou Saw. Mais surpreendente é a competência com que ambos conseguiram executar tais modificações, enquanto Sobrenatural é um filme sobre paranormalidade e traumas infantis, mas focado em assombrações, o capítulo 2 mantém o esqueleto da história e acrescenta o fator serial killer, numa invenção que claramente não estava pensada na ideia primordial, mas que é equilibrada o suficiente para não soar falsa. Encaixa de forma perfeita.
A câmera é pródiga em aumentar o escopo do suspense, cada movimentação sua é milimetricamente pensada. Os closes e os detalhes são pontuais e junto a trilha sonora, ajudam o público a imergir dentro da temível história. O aprofundamento na psique do assassino é muito bem urdida, sua abordagem vai além dos ambientes esfumaçados e classificações clichês ligadas a abusos na infância – tais coisas até são mostradas, mas em momento algum o vilão é retratado como uma vítima inocente de maus tratos e não responsável por seus atos. O mashup com o primeiro capítulo explica bem muitos dos sustos oriundos dele, mas não trata o expectador como imbecil, ao mesmo tempo que não fica inexplicado para quem não assistiu o original.
A carreira de James Wan é bastante relevante, por ter em si uma quantidade substancial de filmes, 7 até agora, sem que nenhuma destas películas sejam execráveis como um todo. Sua pouca idade faz acreditar que ainda terá muitas oportunidades de surpreender o público e crítica, com boas peças de terror e horror. Em cada filme que produz ele parece evoluir em algum aspecto distinto, até mesmo na condução dos atores, em especial Patrick Wilson, que em Sobrenatural ainda não se destacava muito da mediocridade, em Invocação do Mal melhora um pouco, fazendo um personagem austero e neste, desempenha de forma espetacular duas personalidades muito distintas, oras vestindo o arquétipo do herói, oras fazendo um dos guardiões de limiar, e ambos de forma muito competente, sua evolução dramatúrgica caminha junto com a evolução de James Wan a frente das câmeras. Sobrenatural: Capítulo 2 é assustador, aterrorizante e amedrontador, mas além disso, possui uma boa história e que faz dele um dos melhores filmes de horror da década atual.