E continuamos a catalogar os filmes vistos e cobertos no Festival do Rio, em breve mais textos sobre os mesmos, e outra abordagem sobre a repescagem.
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Belmonte (Federico Veiroj, 2018)
Divertido e direto, Belmonte é um filme sobre um artista genioso e antissocial que esconde suas carências atrás de uma personalidade antipática. O personagem principal é sobretudo um homem comum, que por acaso tem um talento enorme e que não sabe harmonizar os aspectos dissonantes da sua vida.
Raiva (Sergio Tréfaut, 2018)
Produção portuguesa, em estilo western que fala sobre família, miséria e fome. Tem seus momentos de violência, mas é bem comedido nas partes onde os elementos de gênero são levantados. Bom filme.
Relatos do Front (Renato Martins, 2018)
Documentário ao estilo televisivo, sobre a calamitosa situação de segurança no Rio de Janeiro, que dá voz a quase todos os lados, inclusive à própria polícia. Faz um quadro bem detalhado a respeito de como os governadores fluminenses trataram a questão de guerra do tráfico.
A Casa Que Jack Construiu (The House that Jack Built, Lars Von Trier, 2018)
Filme imediatamente posterior a Ninfomaníaca – Volume 1 e Ninfomaníaca – Volume 2, bastante achincalhado por parte da crítica e com momentos realmente grotescos, mas longe de ser um filme ruim, possui grandes momentos e funciona como uma boa análise do modus operandi de um psicopata.
O Favorito (The Front Runner, Jason Reitman, 2018)
Filme acertadíssimo de Jason Reitman sobre a moralidade e hipocrisia na vida política dos Estados Unidos, onde Hugh Jackman traz uma performance madura e econômica. Há elementos que aproximam o filme de Alan Parker e Alan J. Pakula, Todos os Homens do Presidente, mas o longa tem sua própria identidade.
Vox Lux (Brady Corbet, 2018)
Tem um início divertido e um meio e final que é um final arrebatador e engraçado ao extremo. Repleto de camadas que mostram o drama de uma menina com um início de puberdade conturbado e que acaba se tornando uma diva mimada e maluca. Um filme escrito e realizado para Natalie Portman brilhar.
Um Elefante Sentado Quieto (Da Xiang xi di er zuo, Hu Bo, 2018)
Conhecido por conta de um motivo extra-tela de cinema – o diretor se suicidou antes dele estrear – o filme é uma contemplação de vidas destroçadas pela modernidade estabelecida no século XXI, e mostra pessoas destruídas pelo sofrimento, infelizmente, comum à vida de muitos proletariados e marginalizados.
O Que Você Ira Fazer Quando o Mundo Estiver em Chamas (What You Gonna do When the World’s on Fire?, Roberto Minervini, 2018)
Filmaço que mistura a realidade documental com um pouco de drama ficcional. Filme extremamente assertivo e que dá voz para quem normalmente não tem, além de ser muito bem filmado e editado.
Morto Não Fala (Dennison Ramalho, 2018)
Primeiro longa do diretor e uma surpresa maravilhosa. Apesar de tropeçar em alguns problemas com efeitos especiais e de se valer de fórmulas convencionais hollywoodianas para fazer seu terror, é muito acertado, com boas atuações que driblam o over acting. Acertado demais.
No Portal da Eternidade (At Eternity’s Gate, Julian Schnabel, 2018)
Melhor filme do festival. Willem Dafoe dá vida a Vincent Van Gogh de uma maneira muito inspirada e delicada, e o quadro que Schnabel pinta é bastante tocante e sentimental. O mais impressionante é o retratar da arte do pintor e a forma como ele se inspira.
Domingo (Clara Linhart, 2018)
Bom e divertido filme nacional, que se vale de uma fórmula bastante utilizada no cinema europeu, como O Verão de Skylab, onde uma família se reúne para um dia festivo para resolver todas as suas histórias e atritos comuns. Tem um elenco global e estrelado, com destaque para Augusto Madeira e Camila Morgado. Uma experiência divertida.
El Ultimo País (Gretel Marin Palacio, 2018)
Documentário sobre Cuba, que demonstra que a tradição de discussão política do povo que o permite ter opositores mesmo diante de um regime pretensamente autoritário. O grave problema é que o filme soa isento demais, já que a diretora parece ter medo de assumir um lado.
Tinta Bruta (Marcio Reolon e Filipe Matzembacher, 2018)
Filme sobre descobertas e sobre a sobrevivência de jovens excluídos. Extremamente delicado e pessoal, dirigido pela dupla que fez Beira-Mar. O filme ainda conta com uma brilhante performance de Shico Menegat, um rapaz deslocado e carente que busca viver apesar dos graves problemas que ele tem consigo e com os outros.
Azougue Nazaré (Tiago Melo, 2018)
Filme pernambucano engraçadíssimo e inteligente em seu formato. Põe em cheque o Maracatu e a religião evangélica, se valendo de muitos dos clichês dessa crença. Os atores estão soberbos e a direção de Tiago Melo é mais do que acertada.
Simonal (Leonardo Domingues, 2018)
Ficção convencional no formato biografia cinematográfica da Globo Filmes. Vale por Fabrício Boliveira, que consegue dar uma boa versão ao mito que era Wilson Simonal, e claro, pela direção de arte que consegue reconstruir os anos de auge do cantor que encantou o Brasil.
Peterloo (Mike Leigh, 2018)
Drama de época que causa um pouco de enfado em quem vê, mas que mostra de maneira sóbria como as autoridades esmagavam o trabalhador, sem qualquer receio de oprimir seu povo, já que eles não eram nada mais que um número para a maioria deles.
Amanda (Mikhael Hers, 2018)
Gratíssima surpresa do festival, filme francês que parecia escondido na programação e que causa sensações bem extremas em quem assiste. Os personagens são simplesmente apaixonantes.
White Boy Rick (Yan Demange, 2018)
História real bastante agressiva e muito bem interpretada apesar de alguns muitos exageros em tela. Mostra bem como a corda sempre arrebenta para o lado mais fraco quando ocorre uma queda de braço entre autoridades e pobres. Incrivelmente emocional e sufocante.
Se a Rua Beale Falasse (If Beale Street Could Talk, Barry Jenkins, 2018)
Mais uma obra seminal de Barry Jenkins, mostrando as dificuldades e mazelas tão comuns a vida dos afro-americanos de Nova Orleans. Certamente um filme imperdível em especial pela ternura com que ele trata um tema tão pesado e sensível quanto esse.
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