Publicado em 1934 – e reeditado até os dias atuais (a minha edição é a 18ª) – este talvez seja um dos livros mais importantes da “Dama do crime”. Junto com Os dez negrinhos – na minha opinião, o melhor de todos – e O Assassinato de Roger Ackroyd – o primeiro que li da autora – representa o que há de melhor em termos de narrativa de suspense e mistério. Não é à toa que o livro foi adaptado inúmeras vezes tanto para a televisão quanto para o cinema, sendo talvez por isso mais conhecido do público em geral que os demais. Quem tiver curiosidade de assistir a uma das adaptações, sugiro a dirigida por Sidney Lumet, de 1974, com o famoso detetive Hercule Poirot representado por Albert Finney.
Pouco depois da meia-noite, uma tempestade de neve para o Expresso do Oriente nos trilhos. O luxuoso trem está surpreendentemente cheio para essa época do ano. Mas, na manhã seguinte, há um passageiro a menos. Um americano é encontrado morto em sua cabine, com doze facadas, e a porta estava trancada por dentro.
A partir dessa premissa simples, a autora desenvolve uma trama envolvente que deixa o leitor em suspense até o momento em que se revela a solução do mistério. Extremamente criativa e engenhosa, tanto a ‘mise-en-scène’ – grupo de pessoas confinadas em local temporariamente inacessível onde ocorre um crime – quanto a solução – que obviamente não irei revelar – foram reaproveitadas exaustivamente por diversos outros autores e roteiristas, inclusive pela própria Agatha, em Morte no Nilo.
Sem fazer uso dos recursos de estruturação de romances tão na moda hoje em dia – capítulos muito curtos, alternância de pontos de vista e cliffhangers a cada final de capítulo – a autora prende o leitor em sua trama, deixando-o intrigado e curioso o bastante para não interromper a leitura. A estrutura do livro, dividido em três partes – “Os fatos”, “Os testemunhos”, “Hercule Poirot para para pensar” – também contribui para enlaçar o leitor, que se sente quase na obrigação de, tendo os fatos e os testemunhos assim como Poirot, solucionar esse imbroglio.
Engana-se quem pensa que, por ter sido escrito há quase um século, é um texto de difícil compreensão. A linguagem é simples, sem ser simplista, e a autora é mestra em descrever personagens e cenários na medida certa, sem detalhes demais nem de menos. Agatha Christie conduz o leitor de uma suspeita a outra com maestria, deixando-o com aquela ‘pulga atrás da orelha’ característica dos bons livros de suspense. Enfim, um deleite para os fãs do gênero e uma ótima opção para os não iniciados adentrarem o mundo maravilhoso de Christie.
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Texto de autoria de Cristine Tellier.