A Panini segue apostando em lançamentos com o Homem-Morcego, e traz agora uma republicação da famosa graphic novel Batman – O Filho do Demônio, de 1987 (no Brasil, saiu em 1989). A luxuosa nova edição, além de capa dura, traz formato e gramatura de papel maiores do que o habitual, ao acessível preço de R$ 17,90. Ótima oportunidade para conhecer a polemica história na qual Batman tem um filho com Talia Al Ghul, e que havia sido excluída da cronologia oficial do personagem, mas foi resgatada por Grant Morrison com a introdução de Damien Wayne, o atual Robin.
Escrita por Mike W. Barr e desenhada por Jerry Bingham, a aventura mostra o Cavaleiro das Trevas tendo que se aliar a seu grande adversário Ra’s Al Ghul para combater um inimigo comum, o terrorista Qaym, que ameaça o mundo inteiro ao obter uma arma capaz de manipular o clima. Como parte do acordo, o herói tem que desposar a filha do vilão, Talia, e finalmente se tornar “filho” e herdeiro de Ra’s. Porém, a notícia de que será pai faz Bruce Wayne questionar tudo, até mesmo sua carreira como justiceiro.
Esta é uma história inegavelmente datada, para o bem e para o mal. O roteiro, mesmo não tendo o excesso de texto que seria típico da época, tem uma densidade quase literária, ao estilo de Frank Miller em seus melhores momentos. A arte é um show à parte, com um traço realista no sentido anatômico (meio que um padrão na época e que infelizmente se perdeu na década seguinte), diagramação de quadros inspirada e cores simples que se encaixam perfeitamente no contexto. Uma obra que claramente só pode ser produzida estando fora dos cruéis prazos das revistas mensais.
Os problemas, contudo, surgem ao se analisar mais a fundo os caminhos que a trama toma, e não são poucos. Talvez a causa de todos eles seja simplesmente o pouco espaço para se desenvolver uma ideia complexa: são apenas 80 páginas, e a impressão é de que tudo acontece muito rápido. A começar por Batman sequer hesitar em se juntar à organização de Ra’s Al Ghul, também um terrorista, e que ele sempre combateu. Não havia mesmo outra forma de deter Qaym? Pedir ajuda para a Liga da Justiça, talvez? E, pior ainda, ele de imediato aceita se casar com Talia, por quem prontamente confessa um intenso amor que mal vinha conseguindo conter (?). Isso, e a forma como a gravidez é usada tanto pelo roteiro quanto pelos próprios personagens, ficou caricatamente novelesco – no sentido mais mexicano da palavra.
Entende-se a intenção de buscar humanizar o personagem, ou melhor, trazer à tona a humanidade que de fato existe sob o capuz, sob o mito. Mas não deixa de ser um choque, diante da imagem tradicional que se tem do Batman, de um homem comprometido com sua missão num nível obsessivo. Como dito acima, a forma brusca como isso é jogado fora (e pelo próprio Bruce) é o que compromete a credibilidade da obra. Aliás, essa ruptura tão acentuada na personalidade do herói justifica (muito mais do que ele ter um filho) que a história seja situada fora da cronologia, num Elseworld, onde “ousadias” desse tipo são permitidas. Xiitismos ranzinzas à parte, O Filho do Demônio é um importante marco na historiografia do Batman, leitura obrigatória.
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Texto de autoria de Jackson Good.
O marvete que gosta até do Deadpool escrevendo sobre uma revista do morcego? Fora isso, bom texto, tenho alguma curiosidade de ler essa história.
Ué, como se eu já nao tivesse escrito e falado sobre coisas da Distinta Concorrência… “marvete” nao é igual “anti-DC”. Mas o contrário é verdade SEMPRE #ratinhoooo
ps: Deadpool é o melhor de todos, todos, TODOS!!! http://www.youtube.com/watch?v=gf-r7yngW6Q&feature=fvst