Julius Schwartz, editor dos periódicos do Azulão, tinha em suas mãos a decisão de “fechar” as histórias do herói antes do Mega Evento Crise nas Infinitas Terras, e consequentemente, a reformulação de John Byrne em O Homem de Aço. Ele pensou em uma história definitiva, em que o personagem se veria diante de quase todos os elementos que o cercaram desde os anos 30. Ao saber da ideia, o velho barbudo Alan Moore ameaçou Schwartz, dizendo que o mataria se não o deixasse escrever a história. Em Superman 423 – Julho de 1986 – foi publicada a história, com arte de Curt Swan – o artista que mais desenhou o Super-Homem.
O que Aconteceu com o Homem de Aço começa com um repórter entrevistando Lois Elliot – Lane abandonou o nome de solteira – a respeito do desaparecimento do último filho de Krypton. A jornalista aposentada começa os relatos contando sobre um surto de homicídios seguido por suicídio, deflagrados por Bizarro. Sem mais delongas, ela revela que a identidade de Clark é descoberta, após o Galhofeiro e o Mestre dos Brinquedos interrogarem e matarem Pete Ross, e depois do alter-ego exposto, ocorre um ataque ao Planeta Diário por clones de Metallo.
Outros personagens clássicos também dão as caras. Lex Luthor e Brainiac reaparecem – como uma amalgama – assim como o Homem – Kryptonita e a Legião dos Super-Heróis, que entrega a ele uma estátua em miniatura, como forma de homenagem. Super entende que morrerá logo, e a solução que ele encontra é refugiar-se com seus amigos no Ártico.
Estranhamente, as brigas conjugais de Perry e Alice White afetam muito o refugiado kryptoniano. Os vilões – acompanhados da Legião dos Super-Vilões do século 30 – arquitetam um ataque a Fortaleza da Solidão. Ao se defrontar com o onipotente alienígena, eles geram um campo de força impenetrável em volta de si. Outros heróis tentam ajudá-lo, mas seus esforços fracassam.
Jimmy Olsen e Lana Lang entram em uma parte escondida da Fortaleza, a fim de conseguir poderes para ajudar o Superman, enquanto o kryptoniano desabafa sobre sua vida amorosa com Perry White. Enquanto fala, ele assume que amou Lana na adolescência, mas que depois da vida adulta, passou a amar Lois, e que jamais teria coragem para falar isso a elas. Lana na outra sala adquire super-audição e ouve o que o herói diz e ao ser indagada por Jimmy se está bem, ela fala: “Não haveria de ter problema algum… vamos mostrar que ninguém amou o Superman como nós”.
Diante da morte iminente, o casal White, reata, para passar os últimos momentos juntos. Todas as ações revelam-se como um plano de um vilão específico, e tal descoberta evidencia que seu Modus Operandi é mutável de acordo com o humor desse ser ultra-poderoso, oras sendo benevolente, oras sendo pouco intervencionista e em outras sendo completamente maligno – dá para se fazer até um paralelo, comparando tais atitudes ao comportamento de algumas divindades aduladas pelo homem.
Mxyzptlk ganha uma importância enorme nas mãos de Moore, como jamais visto. Finalmente é explorado todo o seu poder e nível de periculosidade, ao invés de utilização deste como chacota e galhofa. O Plot Twist é interessante, e mostra outra faceta de sacrifício do herói, que não a própria morte. Superman se culpa pelo que se viu obrigado a fazer, sua consciência é o seu maior inimigo, e esse é o resumo de toda a sua trajetória. A história do Super-Homem sempre teve um caráter trágico por isso, ele se vê obrigado e compelido a ajudar os necessitados, e se culpa por faltar poder a ele para fazer mais. Uma história muito competente, e de grandes méritos para os seus autores.