Edgar Allan Poe é um dos bastiões da literatura mundial. Sua obra serve como referência e amparo tanto para novos autores como também para amantes de uma boa leitura. Embora suas obras mais lembradas sejam as calcadas no terror, Poe também possui a alcunha de pai do gênero Policial, com seus contos de mistério escritos com maestria.
O interessante neste gênio de vida e morte controversa é que ele não se utiliza apenas do sobrenatural e do ocultismo para provocar medo (temas esses recorrentes na literatura de terror), Por vezes, pinça os medos intrínsecos do ser humano e os utiliza como base de suas histórias. Passeia com eloquência pelas mazelas guardadas no âmago de cada um de nós, atiçando nosso medo do incompreensível, nossa impotência diante do inexplicável. A incapacidade de compreender vida e morte, a obsessão por resolver um mistério. É assustador como um simples gesto ou um repetitivo sorriso podem desencadear uma loucura sem limites com consequências doentias nas suas histórias.
Não há como ler O Poço e o Pêndulo e não sentir a morte se aproximando milímetro a milímetro, e ora você deseja que ela chegue depressa, ora espera que ela tarde um pouco mais. Confesso que fui incapaz de ler O Barril de Amontillado sem sentir náuseas claustrofóbicas daquelas malditas catacumbas.
Embora os sentimentos acima citados possam parecer repulsivos, você sempre vai lembrar-se, com nostalgia, daquele arrepio no momento da leitura dos contos, pois o autor causa terror no homem utilizando o próprio homem. O livro Histórias Extraordinárias, lançado pela Companhia de Bolso com tradução, seleção e apresentação de José Paulo Paes faz um apanhado de ótimos contos que passeiam entre vários aspectos da escrita de e vem a calhar tanto para um leitor iniciante quanto para um fã do escritor.
Sempre que ouço que a obra de um artista reflete a vida do autor, me perco quando tento pensar em como foi a vida de Poe. De qualquer forma, sou eternamente grato pelo fato de que seu reflexo ainda possa chegar até nós.
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Texto de autoria de Fabio Monteiro.