Foram os elogios a Viola Davis, premiada com o Emmy de melhor atriz em drama, que fizeram com que eu procurasse How to Get Away With Murder, nova série de Shonda Rhimes. A atriz, que é inegavelmente o melhor aspecto dessa temporada, é de uma competência inegável. Competência que fica ainda mais clara pelo contraste entre sua interpretação sutil e as “caras e bocas” dos jovens atores com quem contracena.
A série conta a história de cinco estudantes de direito em seu primeiro ano e, que apesar de suas personalidades muito distintas, tem o mesmo objetivo: impressionar a carismática professora Annelise (Davis), rigorosa e responsável por enorme fascínio nos estudantes. Assim que conquistam o tão sonhado estágio no escritório de Annelise Keatting, os jovens são envolvidos no caso de uma estudante desaparecida encontrada na caixa de água de uma fraternidade. Os estudantes são implicados no assassinato da jovem Lila Stangard (Megan West), ao lado de seu namorado Griffin O’Reilly e Rebeca (Katie Findlay), vizinha de Wes (Alfie Enoch), que parece ser o pupilo preferido de Annelise. Se de início o trabalho em comum não parece capaz de unir esses jovens, sua implicação em uma atividade criminosa assim o fará.
Desde o início, os competitivos jovens enxergam o pupilo como ameaça, pois Annelise parece ter criado uma quinta vaga na equipe especialmente para ele. Seus colegas tendem também a não se identificar com o rapaz que tem origem humilde e estudou em uma universidade comunitária. Wes parece isolado grande parte do tempo, dono de um temperamento mais introspectivo, dificilmente demonstrando sentimentos, porém sua empatia faz com que tenha uma visão diferenciada, o que o ajuda na construção de argumentos para os casos.
Contrastando com Wes, Michaela (Aja Naomi King) é uma jovem ambiciosa, prestes a se casar com um herdeiro e grande promessa do cenário político em Nova York. Extremamente metódica Michaela tende a perder o controle quando as coisas não saem como o planejado. Nada sabemos sobre a sua família, o que me faz desconfiar que sua história pregressa tenda a se parecer um pouco com a de sua tutora, que também se reinventou para ser bem sucedida.
Outro personagem interessante é Connor (Jack Falahee), dono de inegável beleza, utiliza a sedução como principal arma para conseguir vantagens que o ajudem a se destacar. Porém, se de início parece um predador sexual sem coração, o desenvolvimento da história promete surpresas. Antagoniza bastante com Michaela, provocando-a ao insinuar que seus planos de um futuro perfeito, são menos do que perfeitos se observados mais de perto.
A última implicada no crime é Laurel (Karla Souza), que se diferencia de seus colegas por não se mostrar ambiciosa. Com preocupações sociais e éticas não compartilhadas por seus pares, Laurel muitas vezes parece perdida em meio a tanta competição. Não poucas vezes se questiona se aquele é seu lugar, apesar de ser tão competente quanto qualquer um de seus colegas.
Chama a atenção o fato de Asher não estar envolvido no crime que todos agora compartilham, seja por participação direta ou como cúmplices. O filho de um juiz implicado em atividades questionáveis é constantemente desprezado por seus colegas. Imaturo e ingênuo, o rapaz já mostrou em diversas oportunidades que lhe falta a malícia que sobra a seus colegas, e é constantemente usado sem se dar conta disso. Matt McGorry que interpreta Asher, ficou conhecido pelo Guarda Bennet , em Orange In The New Black da Netflix, um grande destaque entre o elenco mais jovem.
A série produzida pela ABC se não inova em seu formato, contando a história de forma não-linear, mesclando flashbacks no meio da narrativa, pelo menos utiliza-o de forma competente. Mantém o interesse do expectador, que se esforça para se adiantar a narração e desvelar o mistério que move a temporada. Porém, conforme chegamos perto de descobrir quem foi o assassino de Lila, o interesse diminui. O tom um tanto adolescente e a falta de aprofundamento nos casos da semana, explorando o ambiente dos tribunais, pode desagradar a um telespectador mais maduro. Apesar disso, o magnetismo de Viola Davis confere pontos extras a produção, que sem ela soaria insossa.
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Mariana Guarilha é devota de George R. R. Martin, assiste a séries e filmes de maneira ininterrupta e vive entre o subconsciente e o real.