Sempre que o mundo precisa de proteção, a deusa grega da sabedoria reencarna, e com ela, vem uma geração nova de protetores se seu legado, os chamados Cavaleiros do Zodíaco, e no remake em CGI da Netflix em parceria com a Toei Animation não é muito diferente, fazendo a obra se aproximar mais da mais recente adaptação A Lenda do Santuário do que das outras contra partes animadas.
Após uma breve introdução, Os Cavaleiros do Zodíaco: Saint Seiya começa seu drama inédito, bem diferente do visto no anime clássico durante a saga da Guerra Galáctica, e claro, do mangá. Os irmãos Seiya e Seyka aparecem juntos, e ela pressentindo o mal, acorda o rapaz. Já no epílogo aparecem diferenças cabais, da predestinação do protagonista inclusive, e não demora muito a mostrar o futuro Saint de bronze mais velho, de skate, fato que causou uma raiva desnecessária nos fãs e otakus.
A maior parte das mudanças mora no antagonismo entre Mitsumasa Kido, que está vivo, com seu antigo parceiro, Vander Guraad, que é um vilão que vai atrás de algumas pessoas especiais. Foi ele que ataca Seiya. Uma boa parte do piloto dedicado as explicações, e é bem legal a ressignificação dos cavaleiros de aço introduzidos no anime, como vilões. A trama de espionagem faz a parte mitológica perder um pouco de sem sentido, mas as adaptações de idade dos cavaleiros em treinamento fazem muito mais sentido aqui do que no original
As mudanças drásticas nos detalhes do treinamento não ferem a essência do roteiro de Masami Kurumada, claramente o tempo de preparação do cavaleiro é bem menor, as amazonas não necessariamente usam máscaras – Marin usa, mas Shina, não – o que realmente incomoda é que a equipe de produção aderiu a uma moda em voga graças a Marvel, abolindo os capacetes, como os heróis que lá não usam máscaras e não tem identidade secreta, e em vista que uma das diferenças, é que o torneio dos cavaleiros de bronze é secreto, seria natural esconder a identidade dos cavaleiros, e seria natural também proteger a cabeça dos mesmos. Aioria usa capacete, porque o Pégaso não usa frequentemente não tem sentido algum. Algumas artes mostram os cinco personagens centrais com capacetes, não se sabe se eles aparecerão nas versões novas das armaduras após Mu mexer nelas, ou se só ignoram isso.
Outras mudanças cabais são o uso constante da tecnologia, e alguns rumos que antes eram sugeridos e aqui são mais explícitos, como o fato de Shina aparentemente não ter sua armadura ainda (ou é isso, ou a mesma está escondida). As batalhas do tal torneio são bem curtas, exceção as que envolvem mas de um dos cavaleiros principais, e mesmo a mudança de sexo de Shun para Shaun é bem menos agressiva que o esperado. Claro, essa mudança passa por cima de alguns elementos importantes para o Shonen, é ridículo evidentemente que o mais delicado e poderoso dos cavaleiros tenha se tornado mulher, para encurtar caminhos de sensibilidade. A dublagem brasileira inclusive chama mais a personagem de Shun do que o novo nome, no entanto toda a raiva pela mudança já havia sido digerida pelos aficionados no anúncio anterior.
As reclamações de infidelidade ao material original até podem ser levadas em conta como reclamações válidas, mas não as mudanças de narrativa, ora, se era para ser algo literalmente igual, era mais fácil assistir as reprises, e os novos elementos dão um frescor a esta versão. Claro que só se pode ter uma noção se a essência do desenho original será ou não violada serão a partir da possível parte dois.
Os seis episódios iniciais dão apenas um panorama inicial do que será, e talvez o desastre virá depois. Seiya, Shiryu, Hyoga e Shaun são bem diferentes de suas contra partes de anime e mangá, tem algumas boas semelhanças, mas seus traços de personalidades são diferentes, e a verdade é que cada adaptação de personagem famoso tem sim suas diferenças, o Super Homem de Christopher Reeve, George Reeves, Tom Welling, Dean Cain e Henry Cavill tem diferenças cabais entre si, e é natural, o tempo, a platéia e o ideal dos diretores e criadores influi nestas versões, assim como ocorre aqui.
Alias, a motivação maligna do Santuário é bem explicada, com uma suposta profecia de que dessa vez, Atena teria vindo a Terra para a desgraça da humanidade. Se isso é um engodo vindo a partir do Mestre do Santuário, ou de alguém que o está manipulando, não se sabe, afinal é só a gênese da jornada, mas tecnicamente tudo faz sentido. A animação é fluída, as lutas emocionantes apesar de curtas, e Saori Kido é uma deusa encarnada bem mais inspiradora que a original, essa mudança.
O que realmente soa risível é a união de Ikki de Fênix a Guraad, e o combate com os cavaleiros negros, por mais que a ideia deles não serem cópias dos heróis seja boa, há uma fragilidade de concepção bem agressiva. A mudanças mais problemática reside no fato de ser muito curta a jornada, e dela não ter um fim factual, o que é uma pena. Sexto episódio termina de maneira anti climática, com aparições de personagens clássicos não em formato de cliffhanger de season finale, e sim como complemento de um episódio qualquer que está em vias de chegar, mas que evidentemente não chegará.
Não há ainda previsão de uma parte dois, mas o que se viu até aqui é uma série com bons momentos, boas lutas, com transições de intervalos bem bonitas mas que ainda tateia para encontrar sua identidade, tendo pouco receio de se desapegar do material original e ainda assim melhorando e muito boa parte dos equívocos que Kurumada pensou para a saga, modernizando o tema e inserindo muitos elementos novos na formula, que podem ou não estragar a aura de magia da lenda dos cavaleiros de Atena. É esperar para concluir, mas o que se assistiu até aqui é bem palatável e quase nada ofensivo ao contrário do que se supunha.