De súbito o perigo apresentado no último episódio desaparece, através de uma ligação feita por uma pessoa misteriosa. O episódio é mais uma vez dirigido por Paul McGuigan, e se utiliza dos nomes originais dos contos para fazer piadas, como The Geek Interpreter, The Speckled Blonde, etc, o que demonstra que o humor está mais presente, a temática fica mais leve apesar de toda a violência sugerida, e a comicidade em si aumenta com o fato de Sherlock ter se convertido em uma web-celebridade.
As observações do Detetive ganharam assinaturas ao lado das imagens observadas por ele, seu método se expande e agora pratica a onipresença, estando em mais de um lugar ao mesmo tempo se utilizando de um software de ligação a distância. O rumo da “fama” faz com que Sherlock e John ganhem notoriedade, e por isso, eles foram chamados ao Palácio de Buckingham a fim de solucionar um caso aparentemente simples, mas que envolvia o futuro do império – mas na cena em que eles estão no salão nobre, todos os motivos tornam-se secundários, a fim de que a rivalidade entre os dois irmão seja grafada, Sherlock e Mycroft brigam como dois infantes pela atenção dos pais.
A abordagem escolhida para Irene Adler – de dominatrix e prostituta de luxo é ótima, pois é sedutora, atual, sexual ao extremo, influente em diversos campos. A personagem se envolve em jogos de poder, chantagens a nobreza entre outras contravenções nada convencionais. A belíssima Laura Pulver encarna magistralmente A Mulher – a cena em que ela se apresenta a Sherlock é absolutamente surpreendente e no mínimo, de tirar o fôlego, tanto que faz o espectador esquecer da atuação debochada do Detetive minutos antes. Uma fala sua demonstra toda a essência dela: “Pensar é o novo sexy” – o flerte entre ela e o protagonista é inevitável, mesmo que ambos neguem qualquer atração um pelo outro, nota-se que até a negação faz parte do fetiche e essa relação é a melhor coisa do episódio.
Para Watson, a fila continua andando, pois ele apresenta uma nova namorada na festa natalina, o que obviamente gera algumas piadas da parte de Sherlock, que diz confundir esta com algumas das anteriores – o que acaba se repetindo com John em alguns minutos de exibição mais para frente. Jeanette (Oona Chaplin) a namorada em questão, destaca algo importante, a questão de que jamais conseguiria competir com Holmes, e ela não poderia estar mais correta ao comparar os dois amigos a um casal – assim como Irene faz em diversas oportunidades.
A perda da Mulher faz com que Holmes aceite um cigarro, como um retorno ao vício, sua personalidade muda e ele torna-se uma pessoa melancólica, quase depressiva, nunca acusara tanto o golpe quanto neste momento. O “relacionamento” entre os dois é repleto de mentiras, armadilhas, esconderijos e subterfúgios, um nunca é totalmente sincero com o outro através das palavras, mas nenhum deles consegue mentir para o outro através da expressão corporal, pois o par conhece o outro tão bem que consegue efetuar o flagrante na inverdade. Em última análise, todas essas características apontam para o básico do que uma relação amorosa deve ser, mesmo que esta seja totalmente alimentada por um relacionamento platônico – o que torna a dominatrix em um ser passivo diante do único homem que ela realmente quer “dominar”.
O clichê de Caim e Abel se repete ao final, mas as conseqüências dessa intriga tomam proporções catastróficas, o que faz com que os dois irmãos tenham que se unir, a favor da Coroa. A influência de Adler é fundamental para que a balança penda para o lado de Holmes, apesar de todos os pesares – e até de uma rejeição por parte dela – o Detetive vence a disputa com ela, ao contrário do que foi narrado em Encândalo na Bohemia. Na fala de Sherlock, John vê ódio, ao se referir a Mulher, enquanto Mycroft – que o conhece desde sempre – verifica reverência em suas palavras, talvez esteja aí o único momento de prostração a que o Detetive se permitiu – que é recompensada com a despedida de sua amada, num final que não poderia ser melhor urdido do que este.
Esse foi o episódio que me fez entender porque exaltam tanto essa série. Não que os outros sejam ruins, mas pelo que falavam, eu esperava o supra-sumo da fodacidade… coisa que os outros 5 NÃO SÃO (são bons, menos o hounds of bakersvile, que é de dar sono). Mas esse é do caralho, trabalha maravilhosamente o joguinho do “eu sou mais inteligente que vc”, com voltas e reviravoltas de ambas as partes. Merecia SEIS estrelas.
E resenha logo o S2E03, porque eu sou burro e juro que não entendi.
Vai ao ar daqui a alguns dias, resenhei todos os episódios.