Tag: series de detetives

  • Review | Sherlock S02 E03 – The Reichenbach Fall

    Review | Sherlock S02 E03 – The Reichenbach Fall

    the_reichenbach_fallA 1ª referência é óbvia, pois o guião tem em seu esqueleto a estrutura narrativa presente em O Problema Final. Watson volta ao cenário visto somente em A Study in Pink – o consultório da psicanalista. John tem enorme dificuldade em verbalizar o fato que o levou a procurar de novo a ajuda da doutora. A direção da obra ficou a cargo de Toby Haynes, pródigo em reger episódios de séries, entre elas, Doctor Who, Being Human, etc.

    A figura do Detetive ganhara muita fama, graças ao caso denominado Reichenbach, ultrapassando os limites da web, sendo noticiado nos grandes jornais e revistas impressas e nas redes de televisão. Os feitos de Holmes ganharam o público, e o público tornou-o uma figura popular, para desespero do recluso herói.

    Jim Moriarty se mostra um exibicionista, seu ego se eleva tanto que ele precisa ser espalhafatoso, hackeando a ponte de Londres, arrombando o museu de Londres para roubar as joias da coroa e claro, tomar seu “lugar de direito” no trono britânico, antes claro, mandando uma mensagem para Holmes, tornando-o parte integrante de seus “lunáticos” planos.

    O julgamento do criminoso é semelhante ao mostrado na peça Sherlock Holmes, de William Gillette, mas obviamente atualizada. As causas são diferentes, Moriarty quer um embate na frente de todos, por vaidade, e busca também a comprovação de qual dos dois é superior em intelecto, planejamento, raciocínio e dedução. Até o chá após o veredicto de inocência é semelhante ao mostrado no espetáculo teatral, demonstrando que apesar da rivalidade, os dois senhores são impecáveis cavalheiros.

    Andrew Scott é brilhante em sua atuação, e rouba a cena toda vez que a câmera o enquadra. Seu vilão egocêntrico é cômico, sem apelar para piadas, e consegue ser sexy sem afetação ou menção a nudez, muito por causa dos seus trejeitos andrógenos. Para o público, é impossível não simpatizar com ele, vide a decisão do júri. Ele é genial, inteligente, influente: em suma, o resumo do que todo ser humano gostaria de ser.

    A personagem Molly evidencia com toda a sua típica simplicidade como Sherlock está temeroso ao sentir que o seu fim está próximo. As coisas só pioram com a reação de uma das crianças sequestradas pelos capangas de Jim. A possibilidade dele estar envolvido com o rapto dos menores leva as autoridades superiores a Lestrade efetuarem o cárcere do investigador amador. Ao tentar defender a honra do amigo, John vai às vias de fato com um chefe da inteligência britânica, para logo após isso, fugir dos policiais com Sherlock a tira colo.

    A manobra Richard Brooks é um ardil perfeito: inverter o jogo para culpar Sherlock é brilhante. A possibilidade de envolvimento de Mycroft torna tudo ainda mais dramático. Sherlock não tem medo de se sujar, e afirma veementemente a Moriarty que, mesmo estando do lado dos anjos, ele não é um deles. A despedida de John ao amigo e cúmplice é a mais emocionante já registrada em vídeo de toda a historiografia audiovisual da dupla Holmes/Watson. É arrepiante, carregada de sentimento, e tem em si um desfecho fascinante, para poucos instantes antes dos créditos finais, apresentar um fio de esperança.

  • Review | Sherlock S02 E02 – The Hounds of Baskerville

    Review | Sherlock S02 E02 – The Hounds of Baskerville

    the_hounds_of_baskervilleO episódio inicia grandioso, dando mostras em flashback do passado do clã ligado à figura canina, remetendo aí início do clássico primeiro filme de Basil Rathbone. A direção de Paul McGuigan varia entre o reverencial e o absolutamente novo e atual. Quando pressionado, Sherlock solta verdades e impropérios nada agradáveis relacionados quase sempre aos parceiros sexuais dos seus chegados, o que levanta para eles, a possibilidade de o Detetive nunca estar bem com a própria sexualidade, um equívoco enorme da parte deles, visto que Holmes faz questão de não ter quase nada de libido ativa, ao menos a olhos vistos.

    A reportagem documental, substituindo o relato escrito do manuscrito original, é um artifício interessante e explicativo, sem apelar para o didatismo forçado. Sherlock resolve destrinchar o perfil do cliente, Henry Knight (Russell Tovey) e John o reprime, pedindo para que não se exibisse, e de pronto é respondido por ele: “É isso que nós fazemos”.

    Martin Freeman melhora cada vez mais, sem ele a boa atuação de Benedict Cumberbatch jamais seria notada, ele é pó autêntico “Boswell”. Sherlock fisga Fletcher, um guia turístico local que vira o grande cão, através do orgulho bobo do rapaz, desmerecendo seu discurso, e o menino prontamente mostra o gesso com a marca da enorme pegada como prova factual. A dupla efetua um sem número de carteiradas para adentrar a base experimental Baskerville. Os paralelos e reinvenções dos personagens da novela são muito curiosos e interessantes: Stapleton, Mortimer, Barrymore, cada um tem grande significância na mensagem final.

    O roteiro de Mark Gatiss cobre inclusive os pontos óbvios do romance, tornando a história mais crível e diferenciada das outras versões. A temeridade que acomete Holmes após ver a criatura é impressionante, especialmente pelo fato dele ter descartado o impossível, e assim, ter encontrado a verdade. Sherlock que sempre se manteve afastado dos sentimentos, como o medo, treme ao falar do monstro. A possibilidade de ele estar sob efeito de alguma droga é descartado, a esta altura evidentemente, com uma demonstração dos seus dotes detetivescos, afiados mesmo nesse momento difícil.

    Tudo no episódio remete aos signos de um filme de terror: o suspense, as vítimas ensaguentadas, a criatura misteriosa. O contraste entre a modernidade dos laboratórios, sempre asseados, e a figura bestial medieval compõem um cenário perfeito. A verdadeira monstruosidade se manifesta como uma arma química, apropriação intelectual esta das mais bem pensadas, que tornam todo o conto em algo realmente temível. O trauma infantil impingido a Henry evolui e causa uma repressão nas memórias do jovem contratante, alterando seu discurso para algo fantasioso. A alucinação da névoa faz Sherlock enxergar no vilão o rosto de Jim Moriarty, o que já prepara o campo para o episódio final evidenciando quais são os reais temores do detetive consultor.

  • Review | Sherlock S02 E01 – A Scandal in Belgravia

    Review | Sherlock S02 E01 – A Scandal in Belgravia

    a_scandal_in_belgraviaDe súbito o perigo apresentado no último episódio desaparece, através de uma ligação feita por uma pessoa misteriosa. O episódio é mais uma vez dirigido por Paul McGuigan, e se utiliza dos nomes originais dos contos para fazer piadas, como The Geek Interpreter, The Speckled Blonde, etc, o que demonstra que o humor está mais presente, a temática fica mais leve apesar de toda a violência sugerida, e a comicidade em si aumenta com o fato de Sherlock ter se convertido em uma web-celebridade.

    As observações do Detetive ganharam assinaturas ao lado das imagens observadas por ele, seu método se expande e agora pratica a onipresença, estando em mais de um lugar ao mesmo tempo se utilizando de um software de ligação a distância. O rumo da “fama” faz com que Sherlock e John ganhem notoriedade, e por isso, eles foram chamados ao Palácio de Buckingham a fim de solucionar um caso aparentemente simples, mas que envolvia o futuro do império – mas na cena em que eles estão no salão nobre, todos os motivos tornam-se secundários, a fim de que a rivalidade entre os dois irmão seja grafada, Sherlock e Mycroft brigam como dois infantes pela atenção dos pais.

    A abordagem escolhida para Irene Adler – de dominatrix e prostituta de luxo é ótima, pois é sedutora, atual, sexual ao extremo, influente em diversos campos. A personagem se envolve em jogos de poder, chantagens a nobreza entre outras contravenções nada convencionais. A belíssima Laura Pulver encarna magistralmente A Mulher – a cena em que ela se apresenta a Sherlock é absolutamente surpreendente e no mínimo, de tirar o fôlego, tanto que faz o espectador esquecer da atuação debochada do Detetive minutos antes. Uma fala sua demonstra toda a essência dela: “Pensar é o novo sexy” – o flerte entre ela e o protagonista é inevitável, mesmo que ambos neguem qualquer atração um pelo outro, nota-se que até a negação faz parte do fetiche e essa relação é a melhor coisa do episódio.

    Para Watson, a fila continua andando, pois ele apresenta uma nova namorada na festa natalina, o que obviamente gera algumas piadas da parte de Sherlock, que diz confundir esta com algumas das anteriores – o que acaba se repetindo com John em alguns minutos de exibição mais para frente. Jeanette (Oona Chaplin) a namorada em questão, destaca algo importante, a questão de que jamais conseguiria competir com Holmes, e ela não poderia estar mais correta ao comparar os dois amigos a um casal – assim como Irene faz em diversas oportunidades.

    A perda da Mulher faz com que Holmes aceite um cigarro, como um retorno ao vício, sua personalidade muda e ele torna-se uma pessoa melancólica, quase depressiva, nunca acusara tanto o golpe quanto neste momento. O “relacionamento” entre os dois é repleto de mentiras, armadilhas, esconderijos e subterfúgios, um nunca é totalmente sincero com o outro através das palavras, mas nenhum deles consegue mentir para o outro através da expressão corporal, pois o par conhece o outro tão bem que consegue efetuar o flagrante na inverdade. Em última análise, todas essas características apontam para o básico do que uma relação amorosa deve ser, mesmo que esta seja totalmente alimentada por um relacionamento platônico – o que torna a dominatrix em um ser passivo diante do único homem que ela realmente quer “dominar”.

    O clichê de Caim e Abel se repete ao final, mas as conseqüências dessa intriga tomam proporções catastróficas, o que faz com que os dois irmãos tenham que se unir, a favor da Coroa. A influência de Adler é fundamental para que a balança penda para o lado de Holmes, apesar de todos os pesares – e até de uma rejeição por parte dela – o Detetive vence a disputa com ela, ao contrário do que foi narrado em Encândalo na Bohemia. Na fala de Sherlock, John vê ódio, ao se referir a Mulher, enquanto Mycroft – que o conhece desde sempre – verifica reverência em suas palavras, talvez esteja aí o único momento de prostração a que o Detetive se permitiu – que é recompensada com a despedida de sua amada, num final que não poderia ser melhor urdido do que este.

  • Review | Sherlock S01 E03 – The Great Game

    Review | Sherlock S01 E03 – The Great Game

    the_great_gameDirigido mais uma vez por Paul McGuigan, o season finale da primeira temporada começa mostrando pela primeira vez uma menção a escrita de Watson, fato que obviamente irrita Sherlock e o deixa possesso, piorando o seu estado de tédio absoluto. O herói usa a analogia da comparação entre a sua mente e um sótão de uma forma mais atual, referindo-se ao seu sistema nervoso como semelhante a um HD. A Strand Magazine vira um site, substituído pelo blog onde Watson publica os contos.

    Baseado a priori em Os Planos de Bruce Partington, em virtude dos tiros proferidos por Sherlock à parede do apartamento, ao tédio modorrento e claro, a presença de Mycroft Holmes – feito pelo showrunner Mark Gatiss – tem em si algumas reminiscências de Um Estudo em Vermelho e Um Escândalo na Bohemia, em especial pela ótima piada a respeito do desconhecimento astronômico do Detetive, que declara não saber que a Terra girava em torno do sol. Sherlock ainda utiliza outra fala canônica modificada, chamando Watson para a aventura, afirmando jocosamente: “ficaria perdido sem o meu blogger”. O roteiro contém em si também elementos de As Cinco Sementes de Laranja. O antagonista misterioso é um homem bomba, mas que obriga os reféns a serem os hospedeiros explosivos.

    O comportamento de Sherlock é absolutamente anti-social. Quando concentrado, qualquer inferência por parte de outro ser humano é prontamente ignorada, como se a pessoa sequer existisse. A falta de tato ao expor a Molly Hooper (Louise Beasley) que seu parceiro é gay é uma ótima demonstração de seus dotes cínicos. O blog The Science of Deduction atrai ao seu administrador uma grande atenção por parte da “organização incógnita”, primeiro em Study in Pink, e também neste episódio. A encenação do Detetive é de uma desfaçatez muito particular, explorado nesta produção como nunca fora antes.

    Os adesivos de nicotina mostram que Holmes parece ter se conscientizado dos malefícios de seus vícios, ainda que a cocaína não tenha sido uma possibilidade totalmente descartada – na verdade é até sugerido algo no piloto, mas nada que comprove o problema. Watson permanece sempre alguns passos atrás do Detetive, suas conclusões são interessantes, mas nem de longe atingem a perspicácia das resoluções do protagonista.

    Sherlock parece ter prazer em explanar a melancolia alheia, seja esta da ordem que for, inclusive as que envolvem sentimentos intensos, como perdas familiares – a busca pela solução do mistério proposta supera até o bem-estar da sociedade em geral, para ele a civilização é entediante e o crime chama mais atenção do que a vida em si.

    O desespero das perseguições elevam o suspense a enésima potência. Moriarty é mesmo o maior comandante de crimes do Reino Unido, pondo na tela pela primeira vez de fato, toda a influência maléfica anunciada em O Problema Final – o êxito nessa demonstração é inédito até esta produção, e o feito é único, fazendo da série talvez a mais emblemática das encarnações audiovisuais do mito de Conan Doyle. Jim Moriarty, feito pelo afetado e tresloucado Andrew Scott, é o gêmeo mal de Sherlock, um consultor do crime, e em um plot twist, revela a fonte principal do roteiro: O Problema Final. A teatralidade do seu personagem o torna tão carismático quanto o herói, e o desfecho deixa em suspenso o destino dos personagens, trazendo uma enorme expectativa para si.