Mussum foi uma figura de extremo carisma, seja no humor, quando foi um dos membros do quarteto de ouro dos Trapalhões, ou como musicista do grupo Originais do Samba, e é sobre essa figura que Mussum: Um Filme do Cacildis fala, direção de Susanna Lira, que já havia feito Torre das Donzelas, Intolerância.DOC entre outras obras. Confira aí a nossa conversa com a realizadora.
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Vortex Cultural: De onde surgiu a ideia de Mussum, Um Filme do Cacildis?
Susanna Lira: A ideia de fazer o filme veio de uma provocação de uma amiga minha, a Thais Gloria,meu primeiro filme foi sobre o Zé Bonitinho, e depois eu passei muito tempo fazendo filmes sobre mulheres, e ela perguntou se eu não queria fazer um filme sobre o Mussum, pois ela conhecia pessoas da família dele, e foi assim que foi feito. Eu lembrei da minha infância e das minhas influencias, e a primeira lembrança que eu tenho de cinema foi dos Trapalhões e assim, apesar de ter 25 anos da morte dele, a figura do Mussum ainda é muito presente, o filme surge da curiosidade de entender essa eternidade dele.
Vortex Cultural: Como houve a ideia de fazer o filme ser contado através de entrevistas antigas de Antonio Carlos? Quais são elas, foi difícil fazer a curadoria dessas?
Susanna Lira: Foi muito desafiador, porque o filme é uma biografia de alguém que já não está mais vivo, e ainda bem que a gente tinha parceria com a Globo Filmes, que tinha muitas entrevistas, e ficamos durante um bom tempo estudando essas entrevistas e isso foi fundamental, porque ele próprio falando sobre a sua história traz um dinamismo fundamental para a edição.
Vortex Cultural: Quanto tempo demorou para o filme ficar pronto e como foi o processo de pesquisa e edição?
Susanna Lira: O filme demorou quatro anos para ficar pronto e o trabalho mais duro foi a pesquisa, fomos atrás até de coisas de fora, da Alemanha, do Mexico, e convidei o Vinicius Nascimento que é um editor com quem eu gosto de trabalhar e gosta muito de trabalhar com material de arquivo, acho que você tem que ter talento para equilibrar essas imagens, além de um trabalho primoroso dos roteiristas e pesquisadores Michel Carvalho e Bruno Passeri.
Vortex Cultural: Apesar de ser bem informativo, seu filme é carregado de emoção, como você vê esse equilíbrio entre sentimento e informação no seu filme e como você acha que isso conversa com a personalidade de Antonio Carlos?
Susanna Lira: A saga do Antonio Carlos Bernardes é uma historia que nos emociona, ele cresceu num internato, sem a figura do pai, ele teve uma jornada muito complexa e dura, mas conseguiu vencer com a força da sua criatividade e do seu talento, e o filme é uma forma de agradecer a ele, pelo que ele fez pela minha infância e pro cinema, é um filme carregado de afeto, mesmo nos temas mais duros, nós decidimos falar com mais emoção porque eu acho que o personagem precisava disso.
Vortex Cultural: Qual você acha que é a função social do seu filme, não só no sentido de resgatar a memoria de Mussum mas também como filme que fala a respeito do preconceito institucional do Brasil ?
Susanna Lira: Não sei se o filme tem uma função social, mas para o personagem eu acho que é tentar fazer justiça a uma imagem muito estigmatizada…as pessoas parecem confundir muito a pessoa do Antonio Carlos com o personagem Mussum e o Joelzito Araújo faz uma reflexão sobre isso no filme. É bom que se separe as figuras, do Antonio Carlos trabalhador e do Mussum beberrão, porque o segundo só funcionou e se eternizou graças ao intenso trabalho do primeiro, por conta dessa personalidade disciplinada, rigorosa e trabalhadora, por trás de todo riso e malandragem só ocorre por conta de um árduo esforço do artista.
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