A CW é um canal de grupo Warner, que entre muitos feitos positivos e negativos, conseguiu a proeza de trazer a luz algumas adaptações bem corajosas dos heróis da DC Comics, atingindo algum exito mesmo sem grandes medalhões como Batman e Superman, montando enfim um universo compartilhado coeso, aliás, melhor engendrado até que o cinema comandado por Zack Snyder. Nesse ínterim, houveram claro referencias aos dois heróis, com versões inspiradas mas diferentes dos mesmos, ou aparições dos mesmos, mas as historias seguiram sem eles, e a pretensão de Batwoman era não só essa, mas muitas outras.
A historia gira em torno de Kate Kane, que é feita por Ruby Rose, uma atriz que ganhou fama recente por seus papéis como mulher forte, decidida e que não tem receio em explorar sua sexualidade, normalmente encarada como bi ou homossexual mesmo. Foi assim em Orange is The New Black, Triplo X Reativado, Megatubarão, John Wick 2 e Resident Evil 6, e nessa versão de Gotham City, abandonada pelo Morcego há pelo menos três anos.
Há uma tentativa bem válida em tentar tornar Kate em uma personagem de caráter épico, suas primeiras cenas envolvem um mergulho em águas cuja superfície é congelada, e em meio ao desespero em sair, ela lembra de sua infância, quando sua família inteira pereceu, em um salvamento malfadado, feito pelo cruzado encapuzado. O chamado a aventura começa quando ela recebe uma ligação, de uma amiga, afirmando que Sophie Moore (Meagan Tandy), sua ex, desapareceu. É nesse momento que ela relutantemente decide voltar a cidade, onde encontra o Jacob Kane (Dougray Scott), seu pai, que é o chefe do departamento de segurança da cidade, afinal, nesta realidade, esse setor foi terceirizado.
O desenrolar desse piloto está longe da perfeição, em alguns momentos é sentimental ao extremo, chegando ao cúmulo de fazer uso de cenas em flashback onde sobra pieguice, com luz chapada piorando a fotografia, acompanhado de uma trilha manipuladora e que remete a cenas de separação de casais. Tudo soa estranho, as series do canal são normalmente brega, mas não nesse sentido. O lado ruim dessas séries é o exagero com os uniformes dos heróis, e não a carga dramática dos casais ou ex-casais, embora Arrow seja especialista em formar e desfazer pares. Nem ela é tão complicada assim
Os personagens secundários são um bocado caricatos, a maioria só é apresentado, não tem muita importância, como as amigas sino-americanas dela, ou o clássico estereotipo do negro sábio. Até a vilã, Alice (Rachel Skarsten) e mostrada de maneira um bocado apressada, não há demora alguma em perceber as intenções dessas pessoas, em uma representação tão genérica e arquetípica que faz a serie se aproximar mais de Super Amigos que de qualquer outro produto recente da DC.
Tudo é muito rápido, o chamado a aventura e a tomada de decisão por tentar fazer justiça com as próprias mãos se dá muito artificialmente, assim como a chegada da moça a bat-caverna. Impressionante como ela é astuta o suficiente para encontrar o compartimento secreto da mansão, mas não chega a conclusão de que Bruce Wayne e Batman que estão desaparecidos há tanto tempo poderiam ser a mesma pessoa, mesmo com a proximidade parental dos dois – ela é prima do bilionário.
A transformação da mulher que treinou para e tornar uma vigilante numa vigilante de fato, que utiliza os aparatos do herói original é muito rápida. As cenas de ação não são ruins, mas as falas dos vilões beiram o ridículo, é tudo bastante caricato e genérico, e a primeira ação da Batwoman a faz parecer apenas uma imitação barata do antigo justiceiro. Mesmo que Batman Ano Um o herói também tropece em suas próprias pernas, aqui nada disso é justificado ou trabalhado. Os produtores Caroline Dries e Greg Berlanti episódios para desenvolver melhor isto, ainda que ao se recordar os primeiros capítulos de Flash, Raio Negro e até Legends of Tomorrow.
Neste, se vê pouco de Gotham, pouco dos personagens secundários e até de Kate, e até o apelo as questões de parentescos soam demasiado bobas, mesmo para um programa de super heróis e a expectativa para o futuro é que Batwoman encontre sua própria identidade, e consiga rechear seus textos com as temáticas progressistas que foram prometidas para ela, pois mesmo a questão LGBT é bem jogada dentro da trama, o que é uma pena, pois todo material de divulgação parece primar por algo diferente. Impressionantemente, a heroína conseguiu soar mais épica e forte no crossover Elseworlds do que neste episodio.