Após três episódios bem distintos e desprovidos de qualquer caráter épico, The Mandalorian retorna para este The Sanctuary com um momento meio inédito para a série, com um prologo que remete a discussões bem distantes do que normalmente era discutido no seriado. O momento citado mostra o fundo de um pequeno lago, onde se veem crustáceos azuis, com aparência típica do camarão visto na Terra, em um momento que apesar de bem diferente do que se via até então, faz paralelos com outras adaptações para a televisão, incluindo ai o elogiado seriado de Damon Lindelof, Watchmen, que normalmente começa seus capítulos assim, com algo diferente do resto da historia.
O cotidiano dessas criaturas marinhas é interrompido pela ação dos humanoides do planeta onde a trama do capitulo dirigido pela atriz Bryce Dallas Howard – estreante em séries (fez alguns curtas, tele filmes e mini-series) , que é filha de Ron Howard, o mesmo que finalizou Han Solo: Uma Historia Star Wars – ocorre, e de certa forma, é um resumo de como conversará a trama principal, que mostra um lugar indefeso e até um pouco ermo daquele cenário político pós Império, sendo atacado por selvagens expansionistas.
O destino dos presentes no planeta e do caçador se cruzam por acaso, e o caçador se sente tão à vontade que até tira sua máscara, mas não mostra as feições de Pedro Pascal para as lentes das câmeras. Há uma clara influência visual de produções de fantasia grandiosas. Há bastante coincidências entre as ações e visuais dos invasores que tomam o vilarejo visitado pelo mandaloriano com os Uruk-hais de O Senhor dos Anéis, inclusive nas intenções não ditas por eles e pelos soldados de Sauron. Ali parece haver só selvageria e maniqueísmo.
Também se nota no roteiro de Jon Favreau uma vontade enorme de referenciar os clássicos filmes japoneses de samurai, principalmente Yojimbo, de Akira Kurosawa e o mangá Lobo Solitário, especialmente no que toca o Baby Yoda acompanhando o aventureiro. Lança-se mão de muitos clichês visuais e de arquétipos, neste que é até aqui o mais usual e raso dos episódios. As sutilezas são deixadas de lado para mostrar alguns personagens novos, introduzidos sem muita cerimônia, e que agem basicamente como mandam seus figurinos e visuais.
Em alguns momentos é impossível não achar que a inteiração entre os personagens é comandada por uma criança de sete anos, que faz uma brincadeira com seus bonecos. Essa sensação é um pouco aplacada pelo bem desempenho de Gina Carano, que faz Cara Dune, uma caçadora de recompensas que está no mesmo espaço que Mando, que interage com ele de maneira violenta mas depois é amistosa com o protagonista, como já se esperava alias.
Ao menos os combates são bem legais, a utilização dos artefatos imperiais é muito bem pensado, e mostram como os lugares carentes dão um novo significado aos esforços de guerra, além de mostrar a construção de novas resistências, para muito além do grupo de Leia e companhia mostra em O Despertar da Força.
Apesar de ter uma cara de “episodio filler”, The Sancturay tem muitos acertos, ao mostrar como pessoas comuns tem de lidar com o que restou das forças imperiais e como se lida com as milícias provenientes dos antigos tempos de guerra. The Mandalorian parece mesmo se dedicar a mostrar a vida dos marginalizados da galáxia, e nesse aspecto acerta demais, não só em abordagem textual como também no visual.
Mesmo que em alguns pontos este pareça um capítulo de Hercules ou Xena: A Princesa Guerreira, o que se vê da comunidade quase medieval coincide bem demais com bons episódios de Star Wars: Clone Wars, sobretudo os que se passavam nos planetas atacados pelos separatistas. Entender que Guerra nas Estrelas não é só Naboo, Coruscant, Tatooine e as instalações imperiais é importante, e por mais que houvessem viagens para Bespin e Hoth em O Império Contra Ataca, quase não se notava como eram aqueles lugares para o povão, uma vez que tudo girava em torno de dois ou três personagens, e a câmera de Irvin Kershner os acompanhava nessas andanças.