Bob e Harv: Dois Anti-Heróis Americanos apresenta o encontro do cronista Harvey Pekard com o quadrinista underground Robert Crumb em parceria de muita intensidade emocional. Lançado pela Conrad em 2006, a edição reúne tiras e narrativas maiores, além da introdução de Laerte falando sobre sua obsessão sobre ambos artistas, assumindo que boa parte de seus trabalhos tem inspiração de ambos.
O cotidiano de Pekard é o ponto de partida das historias, muitas publicadas na revista American Splendor. Nas tramas, é mostrado como um homem simples e talentoso, que gasta seus dias trabalhando e escrevendo ou (como na imensa maioria das vezes) procrastinando, se virando com o dinheiro que consegue arrumar, normalmente visando pagar, além da comida, seus sonhos de consumo como colecionar antiguidades e raridades de artistas de Jazz e Blues.
Crumb aparece em algumas historias, inclusive na primeira , em que Harvey fala sobre seu trabalho (a parceria foi vista também no filme biográfico Anti-herói Americano). A HQ serve como uma auto biografia bem peculiar, explorando momentos de intimidade do autor e revelando suas conclusões sobre o mundo e a vida.
Diante desse cotidiano e das filosofias apresentadas, o formato das historinhas caem numa repetição meio incômoda. Apresenta Harvey lidando com algo complicado, depois falando diretamente com o leitor, sempre com alguma conclusão espirituosa e super esperta. Ao menos, Pekar não se leva a serio e trata essa verborragia como um defeito. Sendo um sujeito com a vida tão errática, é ótimo que seja dessa maneira. Pois se extingue o risco de glamorizar a vida do homem comum. Em geral, o gibi registra um país formado por pessoas cínicas. O traço anárquico de Crumb ajuda a fortalecer essa sensação. Além disso, há todo o referencial politicamente incorreto típico da arte do quadrinista.
Bob & Harv resulta em um meta quadrinho melancólico e deprimente, mas que reúne dois artistas que se gostam e se admiram mutuamente ao ponto de um ser totalmente sincero com o outro. Ainda assim, grandiosos artistas, donos de legados sobre a vida marginal urbana sui generis.
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