De Jill Thompson, Mulher-Maravilha: A Verdadeira Amazona é uma história bastante diferenciada da heroína, com enfoque nos primórdios da vida da personagem com uma Diana Prince passando pela infância e adolescência, que são inclusive reciclados no bom início do longa Mulher-Maravilha 1984 de Patty Jenkins.
As cores aquareladas dão um ar ainda mais mitológico para as amazonas. Apesar de não ser exatamente uma história de origem como foi o run de Brian Azzarello nos Novos 52 ou o arco de George Pérez no pós-Crise nas Infinitas Terras, a gênese de Diana é abordada, de forma diferente, como uma pessoa repleta de falhas e problemas de caráter.
Thompson consegue produzir uma história escapista, com um clima de aventura bem proeminente, mas sem abrir mão de temáticas mais sérias. Ao passo que fala das raízes mitológicas da ilha e da interferência dos deuses gregos na feitoria da filha de Hipólita, também mostra o mal que uma criação sem limites pode causar no caráter de uma pessoa.
O tom do gibi é poético, mesmo com a simplicidade da história, e a utilização das divindades como Zeus, Hera, Poseidon e Herácles/Hércules tem características visuais bem diferenciadas. Nos extras, os esboços mostram o trabalho diferenciado da artista e roteirista, e é uma pena que a maioria dessas artes englobe só o visual de Diana, e não como ela conseguiu chegar à ideia sobre cada um dos deuses.
As mulheres que Thompson registra em tela são belas e atléticas, tem curvas e sensualidade, mas não são fetichizadas, e isso posto em perspectiva junto com as primeiras histórias da personagem, assinadas por William Moulton Materston, causam um grande contraste. Além disso, o subtexto emotivo de Diana é um prato cheio para análises de psique, a presença da figura de Alethea, por exemplo, reúne a obsessão pelo proibido em múltiplos sentidos, os efeitos da ignorância sobre a pessoa que tem a atenção negada, a paixão não correspondida e um desestímulo ao caráter egóico de quem sempre teve absolutamente tudo.
Mesmo quando a história apresenta obviedades dramáticas, a tragédia faz driblar os clichês mais rasteiros, e a carga emocional envolvida neste texto deixa o leitor a par da gravidade dos atos. Há consequências graves para os atos da pretensa heroína. Por mais que fosse super-humana, Diana é refém das sensações e sentimentos comuns aos mortais, e isso se agrava ao perder quem ela tanto tentou cativar a atenção. Segundo Thompson, Diana e Mulher-Maravilha deveriam carregar para sempre sua culpa, deixando claro visualmente o que houve, rememorando a memória dos que partiram e sua culpa. A autora dá novas camadas à personagem, e faz isso de modo sóbrio e certeiro, sem deixar de lado o que é caro a quem gosta da heroína da DC Comics.