Cinefantasy – Festival Internacional de Cinema Fantástico é um evento que reúne obras voltadas ao cinema especulativo, com uma curadoria que mira a exploração de filmes ficcionais e documentários que tenham em comum algum elemento fantástico. A 11ª edição do Cinefantasy foi exibido todo online na plataforma Belas Artes à La Carte com acesso em todo território nacional. Reunimos nessa lista os longa metragens ficcionais apresentados no festival.
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Amigo (Óscar Mártin, 2019)
Amigo é um filme incomodo e claustrofóbico sobre paranoia. Martin apresenta a historia de dois amigos que vivem juntos em lugar inóspito após um deles ter causado um acidente de carro que vitimou o outro. São quase uma hora e meia de uma história pesada sobre desconfiança, rancor e remorso, que conta com atuações muito dedicadas de sua dupla de atores centrais.
Coração Dilatado (Parish Malfitano, 2019)
Malfitano traz a tona uma abordagem estranha e sentimental que lida com questões pesadas como culpa e não-aceitação do destino. A parte fantástica do filme envolve uma aura de terror, suspense e gore, em que um homem de meia idade, obsessivo e dependente da mãe, acha que conseguirá conquistar uma moça com metade da sua idade apenas com um plano mirabolante e perigoso. Aspectos como fotografia e direção de arte são destaques positivos, assim como o cinismo do roteiro. No entanto, isso não salva o filme de soar como refém da estética nonsense.
Mãe, Sou Amiga de Fantasmas (Sasha Voronov, 2020)
Filme pós-apocalíptico. Mostra um cenário que ocorre depois da chegada de uma doença nova denominada Ishim. É desolador notar a escassez de vida e de condições mínimas da subsistência humana. Seu maior trunfo é na linguagem que foge dos diálogos, emulando certa involução humana. O final em aberto reforça a melancolia desse mundo que claramente não tem uma mensagem positiva para exibir, ainda mais em tempos reais de pandemia.
Os Guardiões do Tempo (Alexey Telnov, 2020)
Telnov faz bastante uso da metalinguagem para abordar seu conto infantil. A trama gira em torno de uma menina órfã que vai morar com um casal cujo homem é um escritor bastante criativo. Filha e pai adotivo se tornam grandes amigos, bastante íntimos, e passam a ocupar seu tempo um com o outro, a despeito dos problemas de bullying e de aceitação da menina, usando como base para essa relação a literatura e fantasia.
Playdurizm (Gem Deger, 2020)
Deger traz um filme completamente insano, uma fábula pornô, gay, metalinguística, que lida com idolatria, travas sexuais e sanha assassina. O filme é bastante colorido, tem muitas luzes neon e isso dá as cenas de violência explícita um caráter fantástico que se encaixa bem com a proposta do filme. É um mergulho em questões de aceitação, de desejos reprimidos e outras problemáticas relacionadas a como cada individuo vê a si próprio e se projeta no cenário comum.
Porcelana (Jenneke Boeijink, 2019)
Trata do drama familiar de um casal que, até certo ponto, tem a vida perfeita. A chegada de uma estranha doença em seu filho, Thomas, será destruidora para essa harmonia. É um filme delicado, ao passo que também é agressivo em muitos pontos, que tem na desesperança e melancolia o norte de sua narrativa. As atuações de Tom Vermeir e Laura de Boer casam bem. A trama é bem sucedida graças a entrega dos dois. O drama psicológico destaca a fragilidade humana e a obsolescência do corpo do homem que se torna mais trágica por abordar o tema com uma criança.
Post-Mortem (Péter Bergendy, 2020)
Filme húngaro de terror, mostra a rotina de um sujeito discreto que trabalha com fotografia de post-mortem, maquiando recém falecidos para tirar fotos com seus parentes. A natureza do seu trabalho não tem nada de macabro, mas os fatos começam a mudar após a chegada de uma estranha menininha que o acompanha. A reconstrução de época que Bergendy traz quase não tem defeitos. A questão mais complicadora do filme são os efeitos especiais dos mortos que voltam. É tudo bem artificial, diferente demais dos outros aspectos visuais.
Ravina (Balázs Krasznahorkai, 2020)
Filme húngaro, trata da historia de um homem bem resolvido e que há muito tempo não retorna a sua terra. Por conta de um funeral, o personagem volta ao seu lugar de origem e lá se defronta com seu passado, incluindo a revelação de um filho quase adulto que, aparentemente, nem sabia que tinha. Krasznahorkai baseia a experiência na entrega de seu elenco e nas emoções de um filho que se sente rejeitado. Como também apresenta um pai que não sabe como lidar com suas novas responsabilidades. Tudo estruturado com uma aura de sonho, onírica, que faz perguntar se os momentos mais fantásticos são reais ou fruto da imaginação dos personagens.
Sayo (Jeremy Rubier, 2020)
Uma história de perda e de luto, mostra a história de uma mulher que perde sua irmã e, sem aceitar essa condição, tenta através da religião se comunicar com a parente morta. O filme aglutina a pandemia de Covid 19 a sua trama, tem cenas bonitas e pouco apego ao fantástico. Mesmo as menções ao sobrenatural são sutis, todas mediadas pela condição emocional da protagonista Nagisa.
Como Vivem os Bravos (Daniell Abrew, 2020)
Abrew dá conta de um Western brasileiro que varia de qualidade. Seus aspectos técnicos ora são arrojados, ora mostram o quão barato o filme é. A obra é praticamente toda muda. Claramente, a produção não quis se restringir a sua localidade, embora se assuma como uma obra oriunda do sertão nordestino. Acaba sendo um filme criativo, gera curiosidade por novas produções do diretor.
Rodson ou Onde o Sol não Tem Dó (Cleyton Xavier, Clara Chroma e Orlok Sombra, 2020)
Filme amador, mostra a história de Rodson, um rapaz que vive com seus pais e que se apaixona por um robô super inteligente, feito de isopor e papel alumínio. Os diretores tentam fazer algo experimental, misturam referências e inspirações da cultura pop como jogos de vídeo game 8 bits com uma distopia estranha e pseudo progressista. Um filme de orçamento quase nulo que tenta validar a condição de obra sem recursos com um roteiro pretensioso, desorganizado e desordenado, misturando cenas reais com inserções de voz em off e outros despistes. É difícil terminar de ver.
Rosa Tirana (Rogério Sagui, 2020)
Rosa é uma menina que atravessa o triste cenário do sertão nordestino exatamente na época da maior seca da região. Sagui apresenta um filme sobre regionalidade, miséria, tradição, servindo não só de denúncia as autoridades que ignoram questões fundamentais como a fome no interior do Brasil, como também louvando as festas e comemorações típicas da face norte do país. O filme ainda conta com a participação especial do veterano José Dumont e reúne elementos da obra de Ariano Suassuna.
Voltei! (Ary Rosa e Glenda Nicácio, 2020)
Filme da dupla de diretores bem conhecida dos festivais nacionais recentes, responsáveis por Café com Canela e Ilha. Esse é um filme de cenário pós apocalíptico, situado em um Brasil pós Bolsonaro, com uma condição pandêmica ainda vigente (o filme se passa em 2030), escassez de alimento e luz. Uma crise econômica tão aguda que os debates no senado são acompanhados por rádios de pilha. Duas irmãs ouvem o programa quando recebem a visita de sua irmã mais velha que supostamente havia morrido. O filme tem muitos problemas de roteiro, é completamente antinatural e não parece ser interpretado por pessoas reais.