Segundo filme dos irmãos Coen, Arizona Nunca Mais (Raising Arizona) surpreende em vários aspectos. Primeiro porque é um filme que sempre via em todos os lugares que passava, desde locadoras até as lojas de DVD, e nunca tive interesse em vê-lo até pouco tempo atrás. Por essas e outras que é sempre bom rever conceitos…
Nicolas Cage interpreta H.I. McDonnough (ou apenas Hi), um ladrão de lojas de conveniências que acaba se casando com Edwina (Holly Hunter), a policial que sempre tirava suas fotos de fichamento na polícia (uma sequência bem engraçada no início do filme). Depois de um período de felicidade imensa, o casal resolve ter um filho. O problema é quando descobrem que Edwina não pode ter filhos. A partir daí, suas vidas começam a perder o brilho e a felicidade de antes. Ed larga a polícia, Hi volta a pensar em assaltar lojas e por aí vai. Porém, quando Nathan Arizona, o dono de uma cadeia local de lojas de móveis, e sua esposa Florence têm quíntuplos, Ed e Hi, naturalmente, resolvem que a coisa mais natural a fazer é tomar um dos bebês para si, pois “seria injusto alguns terem muito e outros tão pouco”.
Novamente o roteiro e a direção dos Coen mostra um primor e uma elegância visual incrivelmente competentes, mesmo ao retratar um cartunesco e caipira sul dos EUA, onde os diálogos (curtos e longos), sotaques e analogias são propositadamente exageradas a fim de enriquecer a cultura dos personagens e estabelecer o universo fantasioso (que logo percebemos não ser exatamente igual ao nosso). Talvez um dos pecados do filme esteja aí, nessa demora, pois ao espectador menos paciente, a sucessão cômica e irrealista de eventos do filme pode provocar uma reação de descrédito e fazê-lo abandonar a experiência, o que seria uma pena, mas compreensível.
Porém, os pontos positivos, como os diálogos secos entre alguns personagens (como na cena do assalto a banco, onde nem mesmo os bandidos, com um bebê, conseguem assustar o incauto senhor típico do sul) superam os negativos, e as interpretações são excelentes. Nicolas Cage faz um brilhante bandido de bom coração, e exagera na medida certa o sotaque e as caretas a fim de enriquecer o ridículo da história. Artifício este que o ator usará cada vez mais desproporcionalmente com o passar dos anos, até chegar ao ridículo de sua carreira nos anos atuais.
O que sobra da experiência é uma sensação boa de leveza, de diversão sem compromissos com a realidade, inteligente e que tira do espectador risadas naturais e espontâneas, com um humor honesto e difícil de vermos hoje em dia.
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Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.